A CASA EM QUE A SAUDADE MORA!!!

Essa casa no outrora

Foi palco das alegrias

Nela viveram meus pais

Até os seus últimos dias

E o seu porte de beleza

Foi transformado em tristeza

Saudade e melancolia.

Nas festas de fim de ano

Ou em noites de São João

Vinham os filhos e netos

E com grande empolgação

Entre risos e gracejos

Davam-se esses festejos

Na maior animação.

E nesse clima de festa

A vida era um belo encanto

Pois a alegria estava

Estampada em cada canto

Diferente de hoje em dia

Que a negra melancolia

Ali estendeu seu manto.

Por um ano e oito meses

Papai ali habitou

Já em idade avançada

A morte não lhe poupou

E num gesto de inclemência

Deu fim a sua existência

E lá pra o céu lhe enviou.

Deixou na face terra

Sua tarefa cumprida

Na casa permaneceram

Morando mamãe e Dida

Dando rumo nos seus planos

Passaram-se vinte anos

Também mamãe deu partida.

Quinta feira dia onze,

De janeiro sem engano

Deu-se a macabra passagem

Dois mil e um foi o ano,

Foi quando a morte atrevida

Levou nossa mãe querida

Para morar noutro plano.

Dos três que ali residiam

Restou Dida tão somente

Que permaneceu na casa

Mesmo naquele ambiente

De luto e de nostalgia

Tendo como companhia

Só a saudade inclemente.

Vivendo naquele clima

De retiro e solidão,

A crença e a fé em Deus

Contidas no coração

Davam-lhe garra firmeza

Pra manter a chama acesa

Com a força da oração.

Dezoito anos depois

Que mamãe foi para o além

Agora fez Ivonilda

Sua viagem também

E para lhe dar suporte

Na hora da sua morte

Contou com Deus, mais ninguém.

Mesmo vivendo sozinha

Nessa solidão infinda,

Não lhe faltava o apoio

Dos manos, Gildo e Arlinda,

Das sobrinhas e sobrinhos

Que lhe ofertavam carinhos

De forma expansiva e linda.

Eu por viver bem distante

Fui o irmão mais ausente

Porém buscava notícias

Dela, permanentemente,

Nosso sobrinho Adelário

Num compromisso diário

Dava-me a notícia quente.

Uma solidão intensa,

Foi assim a sua vida

Ivonilda era o seu nome

Apelidada por “Dida”

Pelos manos certamente!

Mas, por todos finalmente,

Assim ficou conhecida.

Uma irmandade de seis

De tanta felicidade

Agora está reduzida

Tão somente na metade

Arlinda, Carlos e Gildo,

Os três vivendo em período

De plena terceira idade.

Primeiro se foi Maria

Depois Nina foi também

Agora foi Ivonilda

Quem partiu para o além

Pra terra não voltam mais

Estão no céu com meus pais

Pra séculos sem fim amém.

E aquela casa que antes

Dava tão boa acolhida

Hoje está sem moradores

Desolada e combalida

Sem ter quem lhe dê suporte

Com cara de luto e morte

Aonde esbanjava a vida.

Morreram seus moradores

Todos já foram embora

Só languidez e tristeza

Ali habitam agora

A tristura me extravasa

Ao ver ela sendo a casa

Em que a saudade mora.

Carlos Aires

24/07/2019