Festa no Céu
Sonhei que estava no céu,
Num banquete refinado,
Cristo Rei todo animado,
Comandando o escarcéu,
Cozinheiro Rafael,
Benedito era o DJ,
Neste sonho que sonhei,
Comida tinha à vontade,
Confesso tive saudade,
Quando o dia amanheceu.
Nunca vi tanta fartura,
Animação sem igual,
Do terreiro ao quintal,
Não existia amargura,
Amena a temperatura,
O povo todo assanhado,
Ninguém estava embriagado,
Tudo em concentrada paz,
Mulher, moça, homem, rapaz,
Porém faltou rapadura.
Eu tive muita saudade,
Mas não foi daquela festa,
Foi pela falta de fresta,
Pra passar minha vontade,
A pesar de ter idade,
De conhecer quase tudo,
Minha índole eu não mudo,
Meu paladar é sagrado,
Não ficou do meu agrado,
Tudo foi pela metade.
Pra dar com pau, peixe e pão,
Maná a puxar com rodo,
Cordeirinho magro e gordo,
Tinha tudo de montão,
Vinho tinha em camburão,
Mas cadê carne de bode?
Não se sabe como pode,
Não ter paçoca no céu!
Não vou tirar o chapéu,
Sem ter pequi com feijão.
Nem um pouco de cachaça,
Aluá também não tinha,
Que pouca sorte essa minha,
Não achei nenhuma graça,
Sem fofoqueira na praça,
Cadê garapa de cana?
Nenhum mingau de banana,
Faltou “maria izabel”,
Nem macaxeira com mel,
Isto aqui já é pirraça!
Bolo frito não se come,
Não tem arroz de capote,
Sem beber água de pote,
Vai sumir meu abdome,
Ficar igual “lobizome,”
Vagando pela chapada,
Quero uma gorda buchada,
Arroz doce e cariri,
Macaúba, buriti,
Não quero morrer de fome.
O convite que me deste
Senhor, bem não me conduz,
Sem café, beiju, cuscuz,
Não irei passar no teste,
Sabes, sou cabra da peste,
Como creme de galinha,
Angu, torresmo e farinha,
Sembereba de cajá,
Sarapatel, mugunzá,
Quero voltar pro Nordeste.
Aracaju-Sergipe, 22/ 03/2019