SONHANDO COM O MEU LUGAR!!!
Num devaneio risonho,
Regressei ao meu lugar
Que pena, foi só um sonho,
Mas, nesse belo sonhar,
Voltei a ser um menino,
Pobrezinho e campesino
Pois não tinha outra opção,
A não ser lembrar a vida
Difícil, mas divertida,
Lá nas brenhas do sertão.
Criado em meio a entranha
Da caatinga ressequida,
Vendo a crista da montanha
No horizonte estendida,
Eu morava no baixio
Onde o vento brando e frio
Fazia a cortês visita,
Ao meu lindo Pé-de-Serra!
Era pobre a minha terra
Porém, charmosa e bonita.
E nesse breve cochilo
Recheado de ternura,
Divaguei muito tranquilo,
Naquela doce aventura,
Assumi o compromisso
De passar no passadiço
Da velha cerca de varas
Que ficava entre os currais.
Nada disso ali tem mais,
Restam só lembranças raras.
O luzir dos vaga-lumes
Voltei a rever de novo
Convivi com os costumes
Da minha gente, meu povo,
Senti o cheiro do mato,
Banhei-me lá no regato
E bebi água do pote,
Com a doce rapadura
Feita de cana madura
E embalada num caixote.
Escutei extasiado
O canto dos passarinhos,
E o vento alvoraçado
Fazendo rodamoinhos,
Nas copas dos matagais,
E vi também os sinais
Que servem de previsão
Sem conter nada moderno!
Se, o carão canta, é inverno,
Sendo a cigarra, é o verão.
Vi as panelas de barro
Emborcadas no jirau,
Uma florzinha num jarro,
O meu cavalo de pau,
Uma casa de besouro,
A vaca velha e o touro,
As ovelhas e o carneiro,
Sossegados descansando
Bem tranquilos ruminando
Na sombra do juazeiro.
Revi meus pais satisfeitos
Enfrentando seus labores,
Senti os ternos efeitos
Desse sonho em multicores,
Cheguei à casa amarela
Debrucei-me na janela
Igual a antigamente,
Porém dessas fantasias
Restam só as nostalgias
E a saudade plangente.
E assim voltei ao meu chão
Mesmo em afável quimera,
Senti tamanha emoção
E pensei: Ah! Quem me dera,
Que eu pudesse voltar
E outra vez habitar
No meu berço natural,
Meu Frutuoso querido!
Lugar em que fui nascido
A minha terra natal.
Carlos Aires
13/02/2019