Um quase cordel misto da Feira Multicultural
Ah, na rádio não se escuta
a melodia do que é o baião
quem dera o quê ai permuta
tivesse sua vez na extinção
E vinda com mais candura
com muito menos ditadura
a volta e chance da canção
que contenha mais lisura
Olha que falta faz a poesia
na crua e atual arquitetura
Bom que a linda xilografia
fosse vista além da gravura
Cadê o abraço da fotografia
a real extensão da literatura?
Bom que toda noite, um dia
fizesse do sonho, escritura
Olha como que falta folclore
e tudo o quê ele tanto colore
no vazio que é essa pintura
O que não falta é a madeira
para servir de boa moldura
até que, fato! Isso colabore
e a Terra, já não fique inteira
e tarde demais, o povo chore
Há falta pela feira do cordel
o mote do céu das estrelas
Qual modo é mais menestrel
senão ele p'ra descrevê-las?
Olha, me enganei, que bom
Aqui tem contos lá de Órion
Lendas? Que bom mantê-las
Um sábio chinês, já ancião
criou numa noite, um balão
tudo p'ra saber da sensação
que sentiria sempre ao tê-las
na palma calejada da mão
Hoje nas noites de São João
é proibido desse jeito, vê-las
Gosto quem tanto me conte
o quanto soltou muita pipa
com a linha lá do horizonte
em cima da ponte de safena
De quem me fale que a lida
é só a diversão de ler a vida
enquanto a vida não aponte
que ela já não vale a pena
É Zé Limeira é mesmo assim
todo o começo, ele diz é fim
logo ali é mesmo Hiperbórea
e todo mote que ele mantém
se p'ra uns, é meio que assim
o absurdo na poesia contém
e todos entendem a história
Que seja vista como cultura
reconhecimento é tão pouco
a também excelente leitura
do enredo dos quadrinhos
Preconceito zero p'ra o Côco
Ô forro, que dança de louco
Vida longa, Cavalo-Marinho!
Hã quem grite qual seu revés,
nas garras afiadas da evolução
Ha quem grife o novo sete pés
na asa do anjo da anunciação
Há quem cante do seu estado
e deixe o amor tão assustado
que espante a própria paixão
Isso que é mourão voltado
Isso que é voltar mourão
Só a TV que não entende isso...
há tantas dessas referências
Ela fabrica o choro e o sorriso
não por arte, só pela audiência
Falta contexto para o discurso
Ausência do que é bom curso
p'ra fantasia e p'ra criatividade
E falta o homem estar incluso
na alma de toda humanidade
Em tanto poema isso é "aluso"
é já foi dito com mais verdade
Circo, teatro, dança e música
aonde há arte na área pública?
Conhecimento requer bravura
Ser culto é parte da educação
A alienação morre na súplica
Ser inteligente não é loucura
O ponta pé inicial é toda lição
O Mambembe resiste na praça
a moeda dará oportunidade?...
Que muito que sempre se faça
cinema nas alturas
e paz na tela
aos artistas de boa vontade...
Um quase cordel misto da Feira Multicultural
11-11-2018
04h07min
(Murillo diMattos)
Esse "quase cordel" é todo um devaneio da minha imaginação visitando a "Feira Multicultural", que é um projeto que tenho vontade de produzir em minha cidade.