Um quase sete pés em três motes de um assunto só
O pouco que sei, aprendi em meus discos,
no som, na letra, na capa, na ficha técnica,
e eu digo, sem medo e sem nenhum risco
que a matemática é também a aritmética,
Lampião não é o herói, e é vilão, o corisco.
Meus livros de música estão lá no aprisco,
e cada um me deu a minha índole poética.
Ouvindo um cordel de Ednardo do Ceará,
o quê nos diz lá no seu pavão encantado,
na vitrola, bem raro, coisa boa de escutar...
e ouço tanto, que tanto viajo em seu voar,
ave misteriosa sobre o sertão ensolarado,
e em todo poema, que em som, eu guardo
pelo giro do disco que é o mundo a cantar.
Roda a roda de samba, zabumba e ganzá
e o disco girando vai dizendo de um tudo,
o que são druidas, pajés, xamãs e patuás.
Coisas a baixo do sol, na rabeca a entoar,
e portanto, por vezes, coisas do absurdo
compõem meu ritmo de não ficar mudo,
do quanto eu tenho dentro, e quero gritar.
Eu captando de um todo, e ouvindo arisco,
como a rádio só toca o som lá da América,
nada contra, não gosto de critica patética,
mas como sempre digo, e de novo arrisco:
Cada um tem o seu trajeto e a sua métrica.
Meus livros de música estão lá no aprisco,
e cada um me deu a minha índole poética.
Escutando Décio, Xangai, Vital e o Elomar...
o que encantam da caatinga e do cerrado.
Mesmo que em solo tão triste, injustiçado,
a vitrola sonorizada, fala da beleza que há,
quanto há entrega para o acerto do errado,
e em todo poema, que em som, eu guardo,
pelo giro do disco que é o mundo a cantar.
E são sons de acordeons, violões a violar,
estranhos para uns, são os sons do lugar.
Lirismo de Alceu e ponteios pontiagudos.
Da vida, o que se vê e muito tem para dar.
Músicas são livros de sons para encantar,
compõem o meu ritmo de não ficar mudo,
do quanto eu tenho dentro, e quero gritar.
10-10-2018
21h25min
Em razão da atual crise (nem tão vista) cultural.