O ANCIÃO E O JOVEM CHASQUEADOR!!

Pôs-se um jovem zombeteiro

No final da criancice,

De modo tosco e grosseiro

A zombar da minha velhice,

Desfazendo do meu porte,

Do meu caminhar sem norte,

Com os passos fora de escala,

E disse-me em tom de revés,

Porque anda com três pés?

Velho! Larga essa bengala.

Continuou chasqueando

Com as rugas do meu rosto,

E findou me comparando

A um crepúsculo ao sol posto,

Ficou me dizendo assim:

Sua vida está no fim

Vá procurar um descanso,

Encare esse realismo

Vá curar seu reumatismo

Na cadeira de balanço.

Eu represento a aurora

Com o resplendor que fulgura

E você, a mais negra hora,

Do breu de uma noite escura,

Enquanto eu sigo sorrindo

Em passos largos subindo

Os degraus da existência,

Você chorando decresce

E a cada dia mais desce

No abismo da decadência.

Olhei para o adolescente

Relatando aquela cena,

Tão tolo e inexperiente,

Que eu dele até senti pena,

E disse em tom de brandura!

Jovem, tua alma é pura,

Porém te falta humildade!

Com esse teu comportamento

Revela o discernimento

Da tua imaturidade.

Pois não te veio à memória

Que já fui jovem também?

Nem que é longa a minha história

E o meu passado provém

De uma juventude linda

Que naquele tempo ainda

Respeitava o ancião,

Se hoje o zombar te apraz

No futuro lembrarás

Da minha sábia lição.

Haverás de relembrar

De modo árduo e penoso,

D’esse teu zombetear

Que ora faz com o idoso,

Rebobinando o passado

Bastante resignado

Irás te lembrar de mim,

E num vozeirar a esmo

Reclamarás de ti mesmo

Porque é que fui assim?

Quando eu era adolescente

Zombei daquele velhinho,

Que me ensinou sabiamente

As regras do bom caminho,

Eu bastante extrovertido

A ele não dei ouvido

Segui pela contramão

Da minha imaturidade,

Hoje com o peso da idade

Vejo que tinha razão.

E nessa hora haverás

De sentir desilusão,

Tristonho, constatarás,

Que já és um ancião,

E que o passar dos anos

Deu um freio nos teus planos

E um basta no teu outrora

E naquele passado lindo,

Porque já estarás sentindo

Tudo quanto eu sinto agora.

Carlos Aires

27/09/2018