A SINA DE UM SABIÁ PRISIONEIRO!!!
A prisão de um inocente
É o cúmulo da crueldade,
Pois coloca injustamente
Pra viver atrás da grade,
De um cárcere que lhe comprime
Sem ter cometido crime,
Num temeroso castigo
Um réu sem advogado
Sem de nada ser culpado
Nem sequer ter inimigo.
Foi isso que aconteceu
Com um sabiá excelente,
Que um dia alguém lhe prendeu
Cruel e covardemente,
Mas, o coitado sem sorte,
Preferia ver da morte
A foice, com agudos gumes,
Que está aprisionado
Tão brutalmente afastado
Dos seus filhinhos implumes.
Em uma tarde sombria
Voava tranquilamente,
Com a traiçoeira enxovia
Deparou-se rapidamente,
E nesse seu gesto falho
Naquela rede de “nalho”
Ali ficou enganchado,
Chiava se contorcia,
Quanto mais se debatia
Mais ficava emaranhado.
Hoje preso relembrando
Das horripilantes cenas,
Pois jamais esquece quando,
O fio prendeu-lhe as penas,
Com o bico ele tentava
Mas não se desvencilhava,
Do rigoroso embaraço,
E logo que anoiteceu
Aquietou-se, esmoreceu,
Vencido pelo cansaço.
Também outros passarinhos
Por ali ficaram presos,
Sem prosseguir pra seus ninhos
Completamente indefesos,
A mercê de um ser humano
Malvado, cruel, tirano,
Que só por perversidade,
Ao longo das suas trilhas
Colocou tais armadilhas
Roubando-lhes a liberdade.
Depressa foi recolhido
E posto numa gaiola,
Assustado e combalido
Passou pela portinhola
Daquela prisão voraz,
Deixando tudo pra trás
Seus filhotes, sua amada,
O vale verde, a cascata,
E a sinfonia na mata
No final da madrugada.
Ao invés dos frutos da flora
Passou a comer ração,
E o seu bem viver agora
É uma eterna aflição,
E da minúscula cadeia
Nosso sabiá anseia
Pela sonhada soltura,
Pensativo no poleiro
Ele passa o dia inteiro
Naquela triste clausura.
Da gaiola pendurada
No galho d’uma aroeira,
Escuta da passarada
A melodia fagueira,
Isso lhe deixa indisposto
Cheio de mágoa e desgosto
No mais profundo langor,
Com o coração vazio
Sem sequer dá um só pio
Quem já foi tão cantador.
Desgostoso olha pra cima
Mergulha em seus devaneios,
E passa a lembrar do clima
Vivido naqueles meios,
Contempla a bela devesa,
Ver o céu azul turquesa,
Cochila, e num breve sonho,
Rever outra vez seu ninho,
Quando acorda está sozinho,
Trancafiado e tristonho.
Fica ali só lamentando
Dá triste situação!
Porque estou amargando
Essa injusta detenção?
E o que se diz meu dono,
Relega-me ao abandono
Insensato e indiferente,
Sem sequer me dá valor
E nem imagina a dor
Que o meu pobre peito sente.
Retornar para a floresta
Meu habitar natural,
Pra mim seria uma festa
Majestosa e colossal,
Lentamente o tempo avança
E eu fico sem esperança
De voltar a ser feliz!
E na languidez imensa
Vivo cumprindo a sentença
Daquele injusto juiz.
Como passavam depressa
As horas lá na campina,
Aqui o dia começa
E quase que não termina,
Essa rotina infeliz
Comigo nada condiz
Não quero viver assim,
E entre os pedidos meus
Um deles é pra que Deus
Se compadeça de mim.
Repare que o meu viver
Assim não tem cabimento,
E não fiz por merecer
Tão terrível sofrimento,
Eu sendo um filho da flora
Necessito de ir embora
De novo pra o meu lugar,
Pra juntar-me a passarada
E alegrar a alvorada
Com meu sublime cantar.
Pagaria qualquer preço
Pra sair dessa gaiola,
Não é esse o endereço
De um passarinho gabarola
Que vivia em campo aberto,
Sobrevoando liberto,
Pousando nos arvoredos,
Tendo um viver divertido
Sem está submetido
A esses cruéis degredos.
Quero voltar a viver
Junto a minha companheira
E outra vez refazer
Meu ninho lá na palmeira,
Sair voando contente
A procura de semente
Pra minha alimentação,
E disso eu estou coeso
Não nasci pra viver preso
Nessa cruel solidão.
E mesmo sem tons revoltos
Aqui deixo meus apelos,
Deixe os passarinhos soltos
Porque é que vai prendê-los?
Da flora somos nativos
Então não damos motivos
Para tal atrocidade?
De impor o severo entrave
A uma inocente ave
Privando-a da liberdade?
Carlos Aires
31/08/2018