NOSSA CASINHA ERA AQUELA NA SUBIDA DA COLINA!!!

Quando eu e Julia casamos

Foi grande a nossa alegria!

Relembro o primeiro dia

Que dentro dela moramos,

E bem felizes ficamos

Depois da benção divina

Nem era tão pequenina

E, além disso, era tão bela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

Ela foi o nosso ninho

Quando se deu a união,

Lembramos com emoção

Daquele nosso cantinho,

Por isso o nosso carinho

Com ela nunca termina,

Já que exploramos a mina

De nosso amor dentro dela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

Construí com tanta garra

Já bem depois do noivado

Trabalhei muito animado,

Antes do quebrar da barra,

Pensando em fazer a farra

Com minha noiva franzina,

Uma jovem campesina

Morena cor de canela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

Comprei telhas e madeira

Ripa fechadura e prego,

Essa lembrança eu carrego

Na mente pra vida inteira,

Da base pra cumeeira

Dedé começa e termina

Com Antonio de Angelina

Essa construção singela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

A construção se inicia

Porém com o dinheiro pouco,

Não concluí o reboco

Deixei só n’alvenaria,

Num ano bom de invernia

Toda crise se elimina,

A safra foi pequenina

Mas, deu pra terminar ela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

No início de novembro

Retornamos ao serviço,

Foi aquele reboliço

Que até hoje inda lembro,

Antes de chegar dezembro

Todo o serviço termina,

Pra que ficasse grã-fina

Pintei com tinta amarela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

No prazo estabelecido

O serviço terminou,

Nada faltou nem sobrou

Estava tudo concluído,

E depois foi conferido

Para encerrar a rotina,

Dedé a obra examina

Confere porta e janela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

Dezembro se iniciou

Fui cuidar do casamento,

Mas nesse mês com o evento

O padre não concordou,

E pra janeiro adiou

E ele é quem determina,

Aquela espera ferina

Quase deixava sequela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

A casa estava a espera

Pra receber a família,

E da pouquíssima mobília

Cito um pouco do que era,

Ter bons móveis! Quem nos dera,

Mas com pobre não combina,

Lembro a mesa pequenina

Bacia, jarra e panela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

Mandei fazer um fogão

Para a mulher cozinhar

Pra não muito fumegar

Era movido a carvão,

Por falta de um lampião

Usava uma lamparina

Se a fumaça predomina

A gente acende uma vela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

No quarto só tinha a cama

E um guarda-roupa pequeno,

O colchão era de feno

Porém não causava drama,

Pois quando um casal se ama

Jamais perde a disciplina,

A pobreza nos ensina

A não fugir da tabela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

Chegou janeiro e afinal

O casamento se fez,

No dia doze do mês

Subimos ao pedestal,

Daquele altar principal

Onde o padre com a batina,

Consolidou nossa sina

Para sempre, na capela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

E logo no mês primeiro

A mulher engravidou,

A bazuca não falhou

E o tiro foi bem certeiro,

Outubro chegou ligeiro

E em dez nasceu a menina,

Pelas mãos da medicina

Que ali deu sua parcela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

Quando pra casa voltamos

Foi a maior alegria,

Pra cuidar da nossa cria

Nós sempre nos revezamos,

E muitas noites passamos

Sem dar descanso a retina,

Mas se saísse em surdina

Via o furor da procela,

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

A vida era tão mesquinha

Que até faltava provento

Para comprar alimento

Vendia bode ou galinha,

Pois outra coisa não tinha

Lá na plaga campesina

Em decisão repentina

Saí dali com cautela

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

Deixei minha moradia

Findei virando migrante

E parti para distante

Em busca de melhoria,

Sem saber nem pra onde ia

Desembarquei em Carpina.

Nessa vida peregrina

Retratei-a numa tela

Nossa casinha era aquela

Na subida da colina.

Carlos Aires

13/08/2018