CANCÃO, UM ARQUITETO DAS RIMAS!!!
Abri o leque da mente
E as portas do coração
Pra dissertar amplamente
Sobre o poeta Cancão,
João Batista de Siqueira
Da lavra “pajeuzeira”
Com seu talento irrestrito
Foi um poeta imbatível
Que se alinhou bem ao nível
De São José do Egito.
Mil novecentos e doze
No berço da poesia
Chegava fazendo pose
Com muita categoria
Esse poeta gigante
Com seu poetar galante
Ganhou fama voz e vez,
Sem ter prévia e nem ensaio
Chegou nesse mundo em maio
No dia doze do mês.
Versejador talentoso
Nos mais variados temas
Num modelo primoroso
Construía seus poemas
Dando a eles o sabor
Do mel que da linda flor
A abelha sagaz fabrica,
Ou como se fosse rosas
Com suas pétalas mimosas
Ornadas com rima rica.
Das obras da natureza
Foi um defensor ferrenho
E Deus, lhe deu com certeza,
O mais amplo desempenho
Com a sapiência nata
Pra que defendesse a mata
Passarinhos e animais
Com versejados maduros
Sinceros, castiços, puros,
Completos e originais.
Os seus poemas tão belos
Foram lidos pelos nobres
Mas nunca apartou os elos
Que unia ele aos pobres
Lá nas entranhas da mente
Cancão tinha uma vertente
Que jorrava noite e dia
Transbordando do seu peito
E escorrendo para o leito
Dos rios da poesia.
Falando da “Madrugada”
Num poetar magistral
Deixou a cena narrada
Da forma mais natural,
Pois o que ler tal poema
Ao se aprofundar no tema
Vai se envolver nesse escol
Aonde a noite se finda
E a aurora desponta linda
No luzir do arrebol.
Com a atitude má
De um cruel predador
Em “Sonho De Sabiá”,
Cancão citou o langor
Daquela ave contente
Que caiu infelizmente
Nas grades de um alçapão
Onde as penas desbotaram
E os seus dias terminaram
Naquela injusta prisão.
Mostrou como ela sentia
Tanta saudade da mata
Porque dali não ouvia
Mais o soar da cascata,
Quem antes foi gabarola
Passou a comer de esmola
Na casa de um penitente
É de cortar coração
O poema que Cancão
Disserta garbosamente.
Nele as rimas se ajustavam
Como a mão que cai na luva
E assim era que chegavam
Os versos, “Depois da Chuva”,
Onde Cancão com esmero
Relatou sem exagero
Sobre uma tarde de abril
Onde usou a sapiência
Pra com muita paciência
Detalhar todo o perfil.
Falou do sol que deitava
No colo do ocidente
E da brisa que passava
Deslizando lentamente
Entre as folhas das palmeiras,
Colinas e cachoeiras,
Tudo Cancão descreveu
Satisfazendo os desejos
E dando vazão aos ensejos
Do belo poetar seu.
Transformou-se em violetas
Para falar das “Tristezas”
Mas, mesmo as tristes facetas,
Convertiam-se em belezas
Era tanta a perfeição
Nos rimados de Cancão
Que até a melancolia
Se chegasse como intrusa
Pra perturbar sua musa
Tentava e não conseguia.
Até no versejar triste
Que ele tentou retratar,
A poesia persiste
De forma espetacular,
Pois quando falou de dores
De solidão de langores
De angústia e de amargura
Mesmo sendo um tétrico tema
Não retirou do poema
A essência, e a candura.
Da “Árvore Morta” Cancão
Contou em detalhe o fato,
Demonstrando a comoção
Nesse funéreo relato,
Onde a baraúna antiga
Que antes foi sua amiga
E deu-lhe sombra e abrigo
Hoje estendida no chão
Amarga a cruel ação
Do tempo ingrato e inimigo.
No “Sonho de um Poeta”
Retornou para o passado,
Que feriu como uma seta
Seu peito já transpassado,
Pelos langores tiranos
Que junto a fúria dos anos
Carregou-lhe a meninice
Bem longe da sua terra
E da palhoçinha da serra
Amarga a infausta velhice.
Falou com tanto carinho
Do lugar que foi nascido
No sonho chorou baixinho
Relembrando enternecido
Das plantas belas, das flores,
Das palmeiras, dos verdores,
E das manhãs orvalhadas
Do furor das ventanias
Provindas das serranias
Em direção as baixadas.
Cancão, ninguém sabe quantos,
Poemas nobres, fagueiros,
Escreveu, mas entre tantos,
Eu destaco “Os Dois Coqueiros”
Pela história interessante
Que de maneira brilhante
Narrou com tanta presteza
Sobre esses dois palmeirais
Que tiveram seus finais
Com a força da natureza.
Nasceram no mesmo dia
Conviveram lado a lado,
Não sei se por ironia,
Pelo destino, ou o fado,
Ou talvez a mão divina
Deu aos dois a mesma sina
De viverem sempre assim
Dividindo o endereço
A vida, a estima, o apreço,
Do princípio até o fim.
Mas o acumulo dos anos
Além dos males da idade
Desmantelaram seus planos
Num dia de tempestade
Com raios e trovoadas
Do vento as fortes rajadas
Não suportaram o efeito
Porém os dois, no entanto,
Viveram do mesmo tanto
E morreram do mesmo jeito.
Cancão além de escritor
Foi exímio violeiro,
Mas aquele cantador
Deu a vida outro roteiro,
Na trajetória bonita
Foi na poesia escrita
Que o poeta sertanejo
Fez sucesso sem chabu
Com “As Flores do Pajéu”
Bem como “Meu Lugarejo”.
Pra Cancão a poesia
Foi bem-vinda e benfazeja,
E a comprovação viria
Com a “Musa Sertaneja”
Também como cordelista
O poeta João Batista
De Siqueira, entrou nos climas,
E esse gênio renomado
Por mim foi denominado
Como “Arquiteto das Rimas”.
Carlos Aires
10/08/2018