AO POETA JOÃO PARAIBANO!!!

Foi em Princesa Isabel

Que ganhou a luz do mundo,

E cumpriu bem seu papel

No chão que foi oriundo,

João Pereira da Luz

Que já deixou sua cruz

Para morar noutro plano.

Um poeta destemido

Popular e conhecido

Por João Paraibano.

Bem jovem, trocou Princesa,

A sua terra altaneira,

Pela franca sutileza

De Afogados da Ingazeira,

No vale “pajeuzeiro”

Que é o maior celeiro

De poetas e escritores

João naquele habitar

Chegou para abrilhantar

O orbe dos cantadores.

Cantou tão bem o sertão

Com maestria e com calma

Usando toda emoção

Que continha em sua alma,

Desde as cenas mais singelas

Como o bater das cancelas

As cocheiras, e os currais,

Sobre as frutas do facheiro,

A sombra do juazeiro,

Os vales, e os carrascais.

Existem poucos poetas

Em matéria de sertão

Para atingir tantas metas

Como atingia João,

Um sertanejo da gema

Que dava a cada poema

O doce sabor de mel

Também da brisa o frescor,

Ou o perfume da flor

Que odorava no vergel.

Falava da caatinga

Em toda sua extensão,

Da chuva que ali não pinga,

Das mazelas do verão,

Deu prioridade e vez

A vida do camponês

De quem foi um defensor.

Do político salafrário,

Picareta e ordinário,

Falaz e enganador.

Também falou da fartura

Em anos de invernia

E da essência mais pura

Que tem no raiar do dia

D’acauã que se calava

Porque essa só cantava

Quando pegava o verão

Mas, João falou da alegria,

No inverno quando se ouvia

A corneta do carão.

João, na seca que assolava,

Versejou com maestria

A abelha que procurava

A flor que não existia,

O solo rachado e quente

A coruja que contente

Dava a sua gargalhada

Da forma mais agoureira

Em cima da cumeeira.

De uma casa abandonada.

Falou do boi atolado

No meio do lamaçal

Da fome que mata o gado

Na sequidão infernal

Da falta de flor no ipê

Dos rachões no massapê

Na quentura do verão

Da cigarra o assobio

Do açude que está vazio

Causando desolação.

Falava da camponesa

Que padecia as agruras

Com a extrema pobreza

Gerando tais desventuras,

João tinha capacidade,

De falar sobre saudade

Como também do amor

E agradecia ao Divino

Porque nasceu nordestino

E foi poeta cantador.

Falou da temperatura

Do sol quente a assolar

Poetou sobre a candura

De uma noite de luar

Do vaqueiro aboiador

Também do agricultor

Que sobrevive da terra

Citou as belas neblinas

Que embranquece as colinas

E as encostas da serra.

Não se esqueceu das perneiras

Chapéu de couro e gibão

Das boas vacas leiteiras

Nem do cavalo alazão

De cabras bodes e ovelhas

E até mesmo das abelhas

Que vagueavam no campo,

Do sapo em época de cheia,

Da fumarenta candeia,

Do luzir do pirilampo.

Como poeta cantante

Falava dos passarinhos

Naquela luta constante

Pra construírem seus ninhos,

Cantou sobre o sabiá,

Do temível carcará

João não pôde esquecer,

Nem das latas em fileira

Para aparar na biqueira

A água, quando chover.

Com suas palestras boas

Proseava em qualquer canto

E ao conversar com as pessoas

Só tratava por “meu santo”,

Era educado e instruído

Mesmo sem nunca ter sido

Um frequentador da escola

João não fugia dos climas

Pois era um mestre das rimas

Cantando ao som da viola.

O sertão tornou-se o tema

Central pra sua canção

Mas, nunca encontrou problema,

Pra fazer dissertação

Sobre as belezas do mar

Nem se esqueceu de exaltar

A, Deus, por sua grandeza,

Defendia fauna e flora

E atacava o que devora

As coisas da natureza.

João também participou

Dos maiores festivais

Onde sempre conquistou

Os troféus mais colossais,

Demonstrou os seus valores

Ao lado dos cantadores

Maiores da profissão

Desenrolava tranquilo

Qualquer que fosse o estilo

Atingindo a perfeição.

João por ser entusiástico

Provou que não era bobo

Ao cantar para o fantástico

Três vezes, na Rede Globo,

Esse vate experiente

Cantou para o presidente

Com muita propriedade,

Mesmo com tantas vitórias

A fama o brilho e as glórias

Nunca perdeu a humildade.

Atingiu todas as metas

Cantando com Moacir,

E entre tantos poetas

Também enfrentou Valdir,

Ao lado de Vilanova

Ele também deu a prova

Que era um poeta exemplar,

E com Raimundo Caetano

Nosso João Paraibano,

Soube tão bem poetar.

Geraldo Amâncio Pereira

Com João muito cantou,

E Severino Ferreira

Também lhe acompanhou,

Na trajetória famosa

Tem Severino Feitosa

Raimundos, Nonato e Costa,

E nas suas cantorias

“Sebastiões”, da Silva e Dias,

Não ficaram sem resposta.

Mas num infausto acidente

A moto atingiu João

E a cabeça infelizmente,

Bateu com força no chão

Um coágulo foi formado,

E o poeta foi levado

Às pressas pra o hospital

A batalha foi perdida

E a sua história de vida

Chegou ao ponto final.

E assim nesse meu cordel

Pude falar desse mito

Que hoje guarnece o quartel

No batalhão do infinito.

Se a máquina do tempo encerra

A vida, mas não emperra,

E nem sequer causa dano,

Ao grande valor eclético

Daquele engenho poético

Que foi João Paraibano.

Carlos Aires

09/08/2018