UM POUCO DA HISTÓRIA DE ZABÉ DA LOCA!!!
Eu vou contar a história
Dessa artista nordestina
Isabel Marques da Silva
Que apesar de ser franzina
Era uma grande guerreira
E essa humilde brasileira
Com seu pife de taboca
Sem nada ter de urbanístico
Como o cognome artístico
Que era Zabé da Loca.
Zabé nasceu em Buique
Agreste pernambucano
Numa pobreza tão triste
Que dava até desengano,
Era grande a irmandade
Passando necessidade
Pois quando a chuva sumia
Num ano de inverno fraco,
A fome amarrava o saco
E ali nuinguém mais comia.
A seca era muito grande
Com a terra ressequida
Sem nada que desse alivio
Nem refrigério pra vida
Sua mãe entristecia
E pesarosa dizia
Nada aqui hoje se come
Com essa sina mesquinha
Entre os quinze irmãos que tinha
Viu oito morrer de fome.
Migrou para a Paraíba
Quando ainda era menina
Fugindo da seca ingrata
Que trouxe a fome ferina
E naquele desespero
Lá nas terras de Monteiro
Zabé firmou moradia
Junto aos seus familiares
Pra respirar outros ares
Que ainda não conhecia.
Para aprender tocar pife
Não teve dificuldade
Com o seu irmão Aristides
Naquela localidade,
Mas logo assim que aprendeu
O irmão desapareceu
Destacou-se dos demais
Com o seu sumiço atro
Zabé com noventa e quatro
Morreu e não lhe viu mais.
Na Paraíba viveu
Nessa luta amargurada
E a arma que ela usava
Era o cabo da enxada,
Logo casou com Delmiro
Que deu o último suspiro
Novo, com bem poucos anos,
O casório se desfez
E Zabé na viuvez,
Pra vida deu outros planos.
Da casa que ela morava
Viu as paredes no chão
Mais uma vez o destino
Jogou-lhe na contramão,
Pois se muito já sofria
Sem aquela moradia
Ia sofrer muito mais,
Porém Zabé era forte
Mesmo sem rumo e sem norte
Não desanimou jamais.
Depois do desabamento
Da singela construção
Zabé seguiu com os filhos
Lá pra Serra do Tungão,
Não era o que bem queria
Mas, nova morada erguia,
Na loca ali existente
Onde na extrema pobreza
No seio da natureza
Abrigou-se finalmente.
Levantou duas paredes
De taipa e muito singelas
De vizinhança ali tinha
Várias paisagens belas
Além de alguns passarinhos
Que construíam seus ninhos
Com garra carinho e fé
Numa imensa correria
Só pra fazer companhia
E cantarem para Zabé.
Ali passou a viver
Pobre, sem nem um tostão,
Numa vida sub-humana
Sem nenhuma condição
Digna para um ser humano,
Nesse regime tirano
Sem nuinguém pra lhe ajudar
Zabé não desanimava
Pegava o pife e tocava
Somente pra não chorar.
Lá se foram vinte e cinco
Anos, naquela aflição,
De bens possuía a vida
E sem civilização
Desprezada, no maltrato,
No meio daquele mato
E em cima daquela serra
Na encosta da ladeira
Sem conter eira e nem beira
E nem um palmo de terra.
Somente aos setenta e nove
Anos, contados na idade,
Foi que houve a descoberta
Da particularidade
Que Zabé era uma artista!
A partir daí foi vista
Tendo o seu itinerário
Afinal levado a sério
Através do Ministério
Que atende ao setor agrário.
E gravou logo um CD
No ano dois mil e três,
“O Canto do Semiárido”,
Que muito sucesso fez,
No mesmo gravou “Balão”
De sua composição
E a “Fulô do Mamoeiro”
Quase no final da vida
Zabé ficou conhecida
Por esse Brasil inteiro.
“Araçá Cadê Mamãe”
Foi praquela gravação
Também gravou “Asa Branca”
De Humberto e Gonzagão,
E no Fórum Cultural
Junto a Hermeto Pascoal
Lá Zabé se apresentou,
Demonstrando o valor seu
O sucesso aconteceu
E até que a fama a alcançou.
Depois, em dois mil e sete,
Um novo CD gravou
Cujo nome era “Bom Todo”,
Que cada fã aprovou
Em dois mil e oito então
Houve a condecoração
Merecida e especial
E espero que não discordem!
A medalha foi da Ordem
E do Mérito Cultural.
E assim ela prosseguia
Firme, na sua carreira,
Inda ganhou outro prêmio
O da Musica Brasileira,
Sem perder a humildade
Tornou-se celebridade
E exemplo para os humanos,
Com a idade avançada
Zabé foi arrebatada
Aos noventa e quatro anos.
Na cidade de Monteiro
O corpo está sepultado
E numa associação
Contém seu nome estampado
Muito merecidamente
Porque Zabé certamente
Fez por onde merecer
Esse reconhecimento
Que divulgou seu talento
E amenizou seu sofrer.
Lutou, sofreu as agruras,
E os desmandos dessa vida
Mas, alcançou as venturas,
A camponesa aguerrida,
Que pobremente viveu
Até que um dia venceu
Sem nada exigir em troca,
E hoje o tempo não apaga
O legado e nem a saga
Da grande Zabé da Loca.
Zabé quando se “encantou”
Morava em outro aposento
Na casinha que ganhou
Simples, num acampamento,
Com bem mais dignidade
Em paz com felicidade
A roceira destemida
Que teve um viver tão pobre
Mas com singeleza nobre
Findou seus dias de vida.
Assim contei a história
Dessa campesina nata
Que foi do nada pra glória
Sem bazófia e sem bravata
Pois a pequenina dama
Subiu os degraus da fama
Como artista ganhou nome
Deixando um legado incrível
Um feito quase impossível
Pra quem sofreu tanta fome.
Carlos Aires
08/08/2018