O PASSO A PASSO DA VIDA!!!
Nasce viçosa a criança
De um ventre fértil e fecundo
Recheada de esperança
É recebida no mundo
No brotar dessa alvorada
Começa uma caminhada
Que a cada dia renova
As diretrizes e os planos
E com o acumulo dos anos
Segue em direção da cova.
Qual a manhã radiante
No despontar d’uma aurora
Nesse momento importante
O lume da vida aflora
Numa cena que seduz
Quando o feto ganha a luz
Começa seu ritual
Logo um obstáculo encara
Quando da mãe se separa
Do cordão umbilical.
Essa é a pedra primeira
Que encontra pelo caminho
Sem a barriga hospedeira
Tem que respirar sozinho
O choro é sempre bem-vindo
Naquele instante tão lindo
E aqui explico as razões
Pois aquelas gritarias
São pra liberar as vias
Que levam ar aos pulmões.
Sem problemas finalmente
Superou esse embaraço,
Mas, como qualquer vivente,
Precisa ganhar espaço
No aconchego do ninho
Recebe amor e carinho
Do pai da mãe e dos manos
Deus protege e abençoa
E essa vida mansa e boa
Segue no verdor dos anos.
Até os doze, a inocência,
Predomina em abundância
Mas chega a adolescência
Que lhe carrega a infância
E nessa metamorfose
O tempo aplica uma dose
De uma poção infalível
Que provoca mutações
Na postura e nas feições
É deslumbrante, é incrível.
A partir daquela idade
A mudança é aparente
Encarando a puberdade
Passa a ser adolescente
E essa troca repentina
No menino ou na menina
Causa grande alteração
Porém esses pandemônios
São efeitos dos hormônios
Que estão entrando em ação.
Se a voz está alterada
O rosto se transfigura
E o corpo da garotada
Ganha uma nova estatura
O desejo desabrocha
Acendendo a sua tocha
De modo avassalador
Aquecendo os corações
E indicando as direções
Dos férteis campos do amor.
Na trajetória da vida
Essa é a fase mais linda
Mas, a estrada comprida,
Tem muitas léguas ainda
Se os vinte anos primeiros
Foram tão alvissareiros
Com plena felicidade
Agora chegou a vez
De usar a sensatez
Com responsabilidade.
Aos vinte e poucos termina
O curso na faculdade
A profissão lhe fascina
Ganha personalidade
Passa a pensar no futuro
Por já se sentir seguro
E em boa situação
Analisando os fatores
Sente o fluir dos amores
Jorrarem no coração.
É cupido lhe incitando
Pra que ache o par perfeito
E ir depressa atirando
Uma flecha contra o peito
Dessa pessoa escolhida
Que irá dividir a vida
Com a moça ou com o rapaz
Dando um suave empurrão
Pra que haja a união
E possam viver em paz.
Cupido agiu muito bem
Pois conseguiu seu intento
E ainda foi mais além
Cuidou desse casamento
Uniu pra sempre o casal
E evitou qualquer mal
Que pudesse causar dano
Daqueles jovens felizes
Apontou as diretrizes
Pra que traçassem seu plano.
O plano foi bem traçado
Pra que não se descontrole
E o casal abençoado
Logo formou sua prole
E como exige o padrão
Primaram na educação
Pois essa é prioridade
Desde o curso maternal
Ao ensino fundamental
O médio e a faculdade.
Essa é a fase da luta
Pois é a hora e a vez
De encarar a disputa
Em busca de solidez
Laborando no afã
De garantir o amanhã
Promissor farto e seguro
No trabalho investe e avança
Pra que tenha segurança
De um bem-estar no futuro.
No corre-corre tem pressa
Pra por em prática os esquemas
Pois acha que a hora é essa
De resolver seus problemas
Logo que amanhece o dia
O trabalho se inicia
E os trampos lhe dão açoite
Age rápido, não se atrasa,
Cansado volta pra casa
Já muito tarde da noite.
Os anos foram passando
Sem que o casal notasse
Que Cronos foi transformando
Os moldes belos da face
Os cabelos que outrora
Eram pretos, pois agora,
Mostram fios cor de prata
E aquelas rugas no rosto
É a paga pelo imposto
Da luta árdua e ingrata.
Lá se foram mais de trinta
Anos nessa caminhada
E de maneira sucinta
Ao longo dessa jornada
Por serem batalhadores
Adquiriram valores
Trabalhando com afinco
E os degraus da meia idade
Subiram, pois na verdade,
Já estão com cinquenta e cinco.
Os filhos ora crescidos
Dispensaram seus afetos
Que já foram transferidos
Totalmente para os netos
E os lumes da mocidade
Vão perdendo claridade
Lentamente se apagando
Se a penumbra prejudica
É a idade que lhe indica
Que a velhice está chegando.
E quando chega aos sessenta
Alcança a terceira idade
Por está velho lamenta
Mas, é a realidade,
É bom ir se acostumando
Que as mazelas vão chegando
Discretas, sem desalinhos,
A fragilidade, as dores,
Chegam carregando as flores
Deixando só os espinhos.
A cada dia que passa
Surge uma complicação
A diabete ameaça
Fica alterada a pressão
A dieta lhe aborrece
A exaustão e o estresse
Fazem parte do seu dia
A fadiga e a tristeza
Destruíram com certeza
Seu castelo de alegria.
Suas articulações
Sofrem de artrite e artrose
E na coluna as lesões
De uma forte escoliose,
Mesmo o velho coração
Demonstra complicação
Precisa que não descarte
Exames de qualidade
Ante a possibilidade
De ser vítima de um enfarte.
Diante tais circunstâncias
É bom que não esmoreça
Supere todas as ânsias
Pare e levante a cabeça
Não deixe que a depressão
A mágoa, a desilusão,
Subjuguem, seja forte!
Não se entregue de bandeja
Pois aquele que fraqueja
Termina encontrando a morte.
Ser velho não é motivo
Pra viver desanimado
Procure está sempre ativo
Não ficar engurujado
Não se entregue a nostalgia
Brinque parole, sorria,
Exerça uma atividade
Não permita que o marasmo
Supere o entusiasmo
Evite essa tempestade!
Procure ficar distante
Da inércia e da apatia,
Tente ser mais confiante
Encare essa travessia
Dê um basta na fadiga
Confie em Deus e prossiga
Corte o mal pela raiz
Se alguém criticar responda
“Estou na crista da onda”
Estou velho, mas sou feliz.
Os setenta traz mudança
Para o palco do cenário
Pois a idade que alcança
Torna-o septuagenário
Mas aceita numa boa
Afinal não foi à toa
Que alcançou essa proeza
Foi por ser obstinado
Persistente e recatado
Agindo em própria defesa.
E assim vai caminhando
Na estrada da vetustez
Sobre o viver meditando
Recorda tudo que fez
Na infância primorosa
N’adolescência saudosa
Na juventude legal
E sente um prazer imenso
Ao sentir que agiu com senso
Cumprindo o seu ideal.
E por sua estrada rica
Morosamente caminha
Mas, uma seta lhe indica,
Que oitenta já se avizinha,
Mas faz que nem viu a seta
Vai seguindo em linha reta
Conforme a idade permite
Vai sem pressa, lentamente,
Por está bem consciente
Das regras do seu limite.
Quando ultrapassa os oitenta
O corpo já dá sinais
Que de fato não aguenta
Alguns esforços a mais
As pernas já esmorecem
E os passos não obedecem
O ritmo normal da escala
Pra que não fique em apuro
Só se sente mais seguro
Quando utiliza a bengala.
Audição comprometida
A visão turva e opaca
A voz está destorcida
Baixa, tremula rouca e fraca,
Quem antes já foi tão forte
A idade deu-lhe um corte
No vigor e na saúde
E a visível decadência
É a mais clara evidência
Que entrou em decrepitude.
A mente ativa e atenta
Entrou em caducidade
Mas já passou dos noventa
Não contém mais validade
Se, amarga angustia e sufoco,
É o tempo lhe dando o troco
Dos bons tempos já vividos
E não tem mais pra onde corra
Está detido na masmorra
Que prende os envelhecidos.
A vida está resumida
Ao aconchego do leito
Porém em contrapartida
Não está malsatisfeito
Dispôs de longevidade
Teve ampla liberdade
De fazer o que bem quis
Sequer reclama da morte
Se, teve um viver de sorte,
Então vai morrer feliz.
Na calma sem aflição
Aquela vida se encerra
Concluiu sua missão
Aqui na face da terra
Deixou um forte legado
Foi honesto, foi honrado,
Primou pela humildade
Na tumba ora o corpo jaz
E a alma descansa em paz
Nos céus junto a Divindade.
Nesse cordel relatei
O passo a passo da vida
E encerro porque achei
Que a tarefa está cumprida
E desde quando ela aflora
Onde eu citei a aurora
Até chegar ao ocaso
Aqui fiz a narração
E cheguei a conclusão
De que o viver não tem prazo.
Carlos Aires
21/06/2018