A VINGANÇA SELA O DESTINO
O mundo tem suas artes
Caminhos certos e errados
Só basta saber escolher
Pois existem os dois lados
Mas às vezes inocentes
Passam a ser condenados
Juvêncio Santos Santana
Matuto bom e aplicado
Ao trabalho la da roça
Era muito dedicado
Nas cinco tarefas de terra
Que tivera ele herdado
Fazenda tapera seca
Socada lá no sertão
Entre mandacaru facheiro
Calumbí e seco torrão
Cuidar de cabras e bodes
Era o ofício da tradição
Juvêncio contava sim
Com ajuda grandiosa
De Zeferino e Anastácio
Os filhos dele com Rosa
Companheira de bom tempo
De lida e sina prazerosa
Zeferino de bom porte
De idade completada
Aos 18 parecia
Que era mais avançada
Pois ele era muito forte
De cara dura e amarrada
Anastácio era mais velho
Tinha 40 de idade
Barbudo aparentava
Outra realidade
Um novo dentro de um velho
Sem gozar de vaidade
Ali não se via luxo
Em meio à simplicidade
De certa forma a família
Gozava de felicidade
Vivendo como podia
Em paz e com liberdade
Ovelhas e bodes ali
Havia sim em quantidade
Contavam mais de seiscentas
Eram muitas de verdade
Mas o tempo não escolhe
A cobiça nem maldade
Por lá um dia chegou
Num bom cavalo montado
O Coronel Zé Armando
Com três capangas de lado
De rifle revolver e punhal
Juvêncio ficou assustado
Foi olhando pra família
Com ar de preocupação
Procurou manter o tino
O Siso dentro da razão
Olhou pra ele e lhe disse
Seja bem vindo patrão
Zé Armando perguntou:
Porque me chama de patrão?
Se não é meu empregado
Porque me trata assim então
Peço desculpas Coronel
É o costume desse chão
Coronel franziu a testa
Como desaprovação
Mas a humildade de Juvêncio
Tinha falsidade não
Ele olhou pro Coronel
Pedindo a este perdão
A esposa de Anastácio
Moça simples e educada
Ofereceu água aos “visitantes”
Rosa ficou preocupada
Os rapazes se entreolharam
Sem entender quase nada
O Coronel e os três capangas
Ao ver a mulher chegar
Admiraram a formosura
Que viam naquele lugar
Aquele matuto não merecia
Tanta beleza ganhar
Anastácio e Juvêncio
E Zeferino perceberam
O clima era bem tenso
As mulheres se recolheram
Com o pequeno Davi
Entraram e se esconderam
Um guri de 12 anos
Que vez por outra cuidava
Ajudando o seu avô
E as ovelhas pastoreava
Era o xodó do patriarca
Que ao neto tanto amava
Dona Rosa Gloria e Davi
De dentro ali espiavam
Prepararam as cartucheiras
Ate os dentes se armaram
Pra qualquer coisa que fosse
Elas então se prepararam
O Coronel Disse Juvêncio
Quero essas terras comprar
Com tudo que tiver dentro
Bom preço vou lhe pagar
Mas me cobre preço justo
Quanto quer por este lugar?
Juvêncio disse Coronel
Nada tenho pra vender
A não ser bodes e cabras
Pois este é o meu viver
Agradeço o interesse
Mas negocio não vou fazer
Delmiro, Bento e Beltrão
Nome dos acompanhantes
Do Coronel Zé Armando
De olhares denunciantes
Fitavam os três cidadãos
Com gestos ameaçantes
O Coronel foi dizendo
Você não me entendeu
E Juvêncio logo cortando
O Coronel não compreendeu
O Senhor fez uma oferta
Que a mim não convenceu
Olhe aqui cabra atrevido
Pobre infeliz coitado
Eu vou lhe dar uma surra
Por ter me desrespeitado
E vou matar sua família
Tu irás sofrer um bocado
Juvêncio disse Coronel
Eu lhe tratei com respeito
Safado aqui é você
Exijo me trate direito
Você é Homem eu também sou
Bateu forte a mão no peito
Eu não aceito desaforo
Suma e vá logo simbora
As terras não estão à venda
Eu afirmo nessa hora
Pra coisa não piorar
Dê a volta e caia fora
Ninguém nunca tinha ousado
Falar assim com o Coronel
Pois se falasse iria
De vez para o Beleléu
Juvêncio era destemido
Na terra inferno ou no céu
Delmiro sacou a arma
Sem ter tempo de mirar
Pois recebeu uma bala
Que veio lhe derrubar
Foi bem no meio da testa
Morria naquele lugar
Zeferino nesse instante
Ainda com o revolver na mão
Leva um tiro no peito
Que lhe corta o coração
Juvêncio foi alvejado
Se estrebuchando no chão
Rosa corre pra socorrer
E também é atingida
O Coronel Zé Armando
Acaba com sua vida
Mas leva um tiro de Gloria
Na perna faz uma ferida
Anastácio com um facão
Corta o pescoço de Bento
A cabeça rola ao chão
Mas Beltrão nesse momento
Atira e mata o rapaz
Naquele ato sangrento
O Coronel mesmo ferido
Adentra a casa procurando
E ver Gloria ali no canto
Chorando e soluçando
Com a espingarda na mão
Ele logo vai espancando
Arrasta ela pra fora
E começa a lhe espancar
Ela ver todos os mortos
Então se põe a rezar
Pedindo proteção a Deus
Pra da morte lhe livrar
Pensava ela no filho
Num filete de segundo
O que será de Davi
Sozinho jogado no mundo?
Recebe um murro no rosto
E um golpe de punhal fundo
A Lâmina corta seu peito
Beltrão pede ao patrão
Deixe essa vaca comigo
Vingarei o meu irmão
E ali mesmo a estupra
Sem dó e nem compaixão
Num vacilo de Beltrão
Ela pega o seu punhal
Enfia na cara dele
O Sangue jorra afinal
Ela recebe três tiros
Naquele instante fatal
O Coronel apavorado
Olha a situação
De ver ali encravado
Na cara do tal Beltrão
O punhal ficou enfiado
Ele toma a decisão
Da um tiro no comparsa
Pra acabar seu sofrimento
Estourando os miolos
Foi grande o sangramento
O resultado da labuta
Fez tremer o firmamento
Ferido o Zé Armando
Sozinho ali se encontrava
Olhou ao redor e viu tudo
Que sua ambição causava
8 corpos estendidos
Que a terra então velava
A cobiça e a inveja
Marcou toda sua vida
E agora se perguntava
Com sua angustia sentida
Nada assim valeu a pena
Foi vazia a sua lida
Então começou pensar
Em tudo que havia feito
Nas vidas que maltratara
Que não havia mais jeito
De consertar o passado
A dor rompia-lhe o peito
Chorando arrependido
Começava querer rezar
Mas nunca tinha rezado
Não saberia começar
E disse para si mesmo
Deus não vai me escutar
São tantos os meus pecados
Foram grandes barbaridades
Eu não fiz nada no mundo
Que trouxesse felicidades
Mereço morrer sofrendo
Devido tantas maldades
Ao se virar viu uma sombra
Pensou estar delirando
Um arma lhe apontava
O dedo posicionando
Para apertar o gatilho
E ele foi implorando
Deixe que eu termine
Essa minha oração
Pra ver se Deus me perdoa
E ameniza do coração
O Sofrimento que tanto
Carrego em comoção
Olhou e disse não seja
Assim como eu um errante
A sua vida é longa
Você será triunfante
Eu não fui um bom cristão
Fui fraco triste e arrogante
Continuou sua prece
Como chegando ao além
Disse em voz tão suave
Agora está tudo bem
Atire quando eu disser
A ultima palavra: Amém
Davi não titubeou
Disparou com convicção
Fez ali sua vingança
Chorando em lamentação
Por ter perdido num só dia
A família do coração
Nisso chega o tio Abel
Davi diz o que aconteceu:
Eles mataram meus pais
Meu avô também morreu
A vovó e o meu tio
Foi isso que aqui se deu
Eu fiquei lá escondido
Vendo minha mãe sofrer
De todos da nossa família
Foi a ultima a morrer
Eu não podia perdoar
Justiça resolvi fazer
O tio abraça o menino
Chora lamenta se entristece
E diz para seu sobrinho
Nesse instante se apresse
Enquanto vou na cidade
Você daqui desaparece
Vou chamar o Delegado
Pra dizer o que aconteceu
Você pegue meu cavalo
Vá pra casa de Abreu
E diga quem lhe mandou
Pra procurá-lo fui eu
Abel foi depois voltou
La no centro avexado
Enterraram ali os corpos
Davi dali foi levado
A procurar o Juiz
Conforme fora ordenado
Abreu era na Verdade
Dr.Abreu de Azevedo
Grande Juiz na comarca
Que se formara bem cedo
Era um Homem da Lei
Que de nada tinha medo.
Silencio no Tribunal
Gritava o Magistrado
E Davi Santos Santana
Estava ali resguardado
O Juiz lhe absolveu
Conforme voto do jurado
E aqui finda a historia
A VINGANÇA SELA O DESTINO
Modificando a lida
Pensamento e desatino
Foi o que aconteceu
Com a vida daquele menino
O que aconteceu depois
Ai será outra historia
Mas condenar uma criança
Não se via tanta gloria
O Juiz agindo assim
Criou uma nova trajetória
Abel vendeu todos os bens
Pro menino estudar
25 anos se passaram
Tudo ficou no seu Lugar
DR. DAVI SANTOS SANTANA
Novo Juiz a se apresentar
Carlos Silva
Poeta cantador, Mestre de cultura popular, em mais uma de suas obras com toda autenticidade de luta, de pertencimento e de liberdade.
O poeta traz a tona nesta narrativa escrita, uma historia que há tempos, já não se tem por aqui, pelo menos, nos mesmos moldes aqui descrito.
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