CONDE EU QUERO TOMÉM FAÇO IGUARZIM A ZÉ LIMEIRA.

Avistei Nossa Sinhora

Cum um rusáro na mão,

E um neto de Salomão

Logo no rompê da orora

Dizeno vamo simbora

Pras banda de Cabaceira

Mode aimá uma trincheira

Cum uma tuia de cabaço,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Eu fui pra Lagoa Nova

Cariri paraibano

Cumprei um taco de pano

Na loja de Dona Jova

Dispois fui fazê a prova

Na casa da custureira

Ela dixe essa poiqueira

Né pano, é só um bagaço,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Na praia de Tambaú

Litorá de Juão Pessoa

Meiguiei numa lagoa

Dispois fui pra Pitimbu

Onde o fii de Zé Lulu

Deu de garra da peixeira

Correu pru dento da feira

Cuma macaca no braço,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Da Serra do Araripe

Num marfadado momento

Eu sigui no meu jumento

Pra capitá de Sergipe

Troquei o jegue num jipe

E fui pra zona praieira

Quaje morro de canseira

Na quintura do moimaço,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Fui buscá água num pote

Na cacimba de seu Pêdo,

Num dia frio e bem cedo

Me inrrolei no meu capote,

Na frente dei um pinote

Pru riba duma purteira

Onde o fii de seu Moreira

Tinha amarrado um cachaço,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Uma galinha de pinto

Ciscava pra pintarada

Numa cuiva da istrada

Isso é verdade, eu num minto,

Conde um caicará faminto

Duma foima traiçueira

Levou a ninhada inteira

Qui tava naquele inspaço

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Tirei quatorze cabelo

Do suvaco duma cobra

Levei pra dento da obra

No centro de Cabedelo

Foi o maió dirmantelo

Qui carsô na obra inteira,

Dispois dessa brincadeira

Caí fora do pedaço,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Foi numa tarde nubrada

Qui o mundo deu um abalo

Jerimum caiu do talo

Cum tamanha balançada

Tinha uma cabra amarrada

Na moita de quixabeira

Saiu na maió carreira

Foi se abrigá no terraço

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Se eu me arretá eu me iguaio

A quarqué um cantadô

Pode sê o instopô

Qui do pé dele eu num saio,

Banguê, jereré, balaio,

Foice inxada, prantadeira,

Beju, farinha, cruêra,

Mucumbu fim de inspinhaço,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Bambu, caniço, taboca,

Pife reco e birimbau,

Muleta, perna de pau,

Anzó, piaba e minhoca,

Cachorro veio de croca

Cum o pé coçando muleira

Na cinza duma fugueira

No terreiro dum ricasso

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Deus pidiu cum gentileza

Pra Jacó e Abraão

Que fosse sarvá são João

Se afogando na represa,

Junto duma vela acesa

São João já tava na beira

E na maió brincadeira

Proseano cum paiaço,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Numa casa de farinha

Cum roda, prença e brinquete,

Seu Biu tava cum cacete

Pra bater numa galinha

Sem sabê qui a coitadinha

Era muito puedeira

Quaje faz uma besteira

Mas só fez estardalhaço,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Eu viajei pras Oropa

Passei cinco mês pru lá

Cheguei im Madagascá

Cum a minha soca-soca

Dei um tiro numa foca

Qui tava lá na ribeira

Pra puchá pra ribanceira

Usei um cabo de aço,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Fui cunstruí uma casa

No diserto do Saara

Onde chuva é coisa rara

E o sol queima mais qui brasa

Acauã abria as asa

Num galho de catingueira

E naquela trabalheira

Usei a régua e o compasso,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Fui pra praia de Tambaba

Passei o maior sufoco

Quando o moço abriu um coco

Dentro tinha uma piaba,

Pedi doce de goiaba

Para a merenda ligeira

A água era de torneira

Cheia de larva e sargaço

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

E assim eu pude amostrá

O qui trago na bagage

Nas água da “Limerage”

Eu tomém sei navegá

E nunca vô mi afogá

Pois as minha nadadêra

São de fibra, e bem manêra

Obedecendo o meu traço,

Conde eu quero tomém faço

Iguarzim a Zé Limeira.

Carlos Aires

25/02/2018