DOENÇAS DE MATUTO!!!

As doenças nas cidades

Contém uns nomes bonitos!

Lá na roça as mesmas ganham

Apelidos esquisitos,

E sem que cause vexame

Sem consulta, sem exame,

O matuto encontra a cura

Na essência, no extrato,

Na meizinha e chá do mato,

De maneira bem segura.

Se acaso alguém se acidenta

Com faca, foice ou facão,

Para estancar a sangria

Usa o leite de pinhão

Ou mesmo o de bananeira,

Age de forma grosseira

Sem avaliar o dano,

De jucá usa a tintura

E faz uma amarradura

Com uma tira de pano.

E com três dias desata

Toda aquela amarração

No talho que estava aberto

Houve a cicatrização

Só com remédio caseiro,

Que o matuto roceiro

Extraiu das ervas puras

Sem ocupar hospital,

E o fechamento é total

Sem bandagem e sem suturas.

Mal estar estomacal,

Ganha o nome de gastura

O nome é “estalecido”

Se no lábio houver fissura,

Caso tenha dor no peito

O benzedor dá um jeito

Com a reza na medida,

Feita com fé e com arte,

Ninguém nem fala em enfarte

É espinhela caída.

No mato é dor de espinhaço

Essa tal de escoliose,

E lá na roça é frieira

O que na rua é micose,

Quando há uma lesão

Chamada de luxação

No mato é pé desmentido

E aquela dor sem limite

Que o doutor chama de otite

Pra o caipira é dor de ouvido.

Para o matuto é fastio

Quando há falta de apetite

E gôgo é quando acontece

Pneumonia ou bronquite,

Qualquer esmorecimento

Com febre, é esquentamento,

Deprimido é jururu,

E para quem não sabia,

E região da bacia

É o osso do mucumbu.

Lá pela roça é difruço

Quando alguém tá resfriado,

Mulher com a barriga grande

Está de bucho quebrado,

E quando chega a velhice

Dizem que é caduquice

O que está com esclerose

Piongo é se está com mágoa,

E o nome é barriga d’água

Pra quem sofrer de cirrose.

Unha fofa, calo seco,

Berruga, corpo reimoso,

Quem não cresceu ficou “pêco”

Um “tuba” é o tuberculoso

O que não escuta, é mouco,

Mudando a voz, ficou rouco,

Qualquer engasgo é entalo

E a calcificação

Que se instala no tendão

Chama-se esporão de galo.

E assim falei um pouquinho

Das doenças do matuto,

Que não procura a farmácia

Porque lá no mato bruto

Com cascas flores e ramas

Solucionam seus dramas

Sem ocupar hospitais,

Com calma e com maestria

Usam a sabedoria

Herdada dos ancestrais.

Carlos Aires