DISTINÇÃO ENTRE VERSO E RIMA, POEMA E POESIA - Cordel inédito, nunca antes publicado

CAMPINA GRANDE - PB. SETEMBRO/2016

Todo escritor de cordel

Errou no primeiro folheto.

Seja por falta de prática

Quando ali buscava jeito,

Ou porque simplesmente

Não sabia escrever direito.

A base estrutural do cordel

É o verso, a métrica e a rima,

Onde somente a experiência

Com o tempo é que ensina,

Mostrando como uma estrofe

Começa ao certo e termina.

Não há qualquer mistério

Em escrever algo rimado,

Seguindo uma sequência

De alguns versos ritmados,

Onde nem sempre a poesia

É um fator a ser registrado.

Faça-se, pois, a distinção:

Verso, rima/ poema, poesia.

A rima é uma combinação

Que contempla parcerias,

Em frases onde a tristeza

Interage até com alegria.

Rimar é algo tão natural

Quanto o ato de respirar,

Um acordo entre vocábulos

Em versos a se adequar.

Cada verso é uma linha,

Com palavras a ajustar.

Uma reunião de versos

No poema forma estrofes,

Onde têm rimas simples,

Difíceis e até rimas fortes.

Como achar concordância

Para cinza e estrogonofe.

Um verso essencialmente

Não precisa nascer rimado.

Rima é uma característica

De um poema sonorizado.

Como exemplo, os cordéis,

Com seus versos cantados.

A métrica regula o tamanho

Do verso a ser desenvolvido,

Contando as sílabas poéticas

Num poema bem distribuído;

Saem versos de boa estética,

Os quais não ferem o ouvido.

Não apresentado em rimas,

Traz o poema certo encanto

Em perfeitas frases poéticas;

Os chamados “versos brancos”.

É quando a poesia se afirma,

Cobrindo-se com seu manto.

A poesia encontra-se contida

Em tudo que há expressão,

No encanto de alguma arte,

Sensibilizando um coração.

Assim, não é qualquer verso

Que exprime essa emoção.

Cabe ao poeta descobrir

Aquilo do que ele é capaz,

Domínios de Linguística

E capacidades intelectuais.

Conhecimento de mundo,

Entre outras coisas mais.

Fatos que farão diferença

Na obra de qualquer artista,

Nos versos que ele molda

Em sua forma de escrita.

Traçando assim um perfil,

Como em todo cordelista.

É livre para se inspirar

Esse poeta dos folhetos,

Versejando sobre tudo

Ele sempre arranja jeito,

Com a sua poética única,

Criando versos perfeitos.

Embora não signifique

Que origine uma poesia.

Essa vem da inspiração,

Do encanto e da magia,

A qual consagra o poeta

Numa perfeita harmonia.

Um artesão da palavra,

Assim se declara o poeta.

Com uma sensibilidade

Sempre acima da meta,

Trazendo na composição

Sua expressão mais direta.

Poesia não tem definição,

Que fique bem explicado.

Nem tampouco se origina

Em algum verso rimado.

O poema é uma estrutura

E a poesia, o resultado.

Definir é também limitar,

E poesia não segue regra.

Há quem procure discuti-la,

Ao que todo poeta se nega.

Algo que vai muito além,

A poesia a todos alegra.

Utilizando ou não a rima

E até em versos figurados,

Todo poeta se manifesta

Trazendo, pois, seu recado.

Formando num arcabouço

Um poema caracterizado.

Poema é obra em versos,

Bem como sua disposição.

Uma reunião de palavras,

Propiciando uma intenção.

Existindo por si mesmo,

Não depende de atenção.

Composição pouco extensa

Com versos em seguimento,

Poemas brindam à poesia

Em determinado momento,

Expressando até sem rimas

Todo o seu encantamento.

Também objeto empírico,

É produto da experiência,

Levando todo bom poeta

A versejar com excelência.

Produzindo versos perfeitos,

Moldando-os com paciência.

Ao alcance de qualquer leitor,

Tem sua existência concreta,

Com traços personalizados

Distinguindo assim, o poeta.

O poema atravessa séculos,

Sua mensagem é completa.

Poesia é atributo do texto,

Vai além de um significado.

Presente em quem a sente,

É conteúdo imaterializado.

Não existe por si mesma,

Filosoficamente provado.

É ainda condição poética

Transmitida com emoção,

Onde entra a sensibilidade

E todo um “n” de inspiração.

Deixando invadir na alma,

Tocando antes o coração.

É como contemplar o sol

Irradiando ao amanhecer,

Ou como observar a lua

Em um sublime anoitecer.

É assim que uma poesia

Manifesta-se em um ser.

Vem desde a Antiguidade

Despertando sentimentos,

Estando bem relacionada

Com artes em movimento.

Como exemplo, a música,

Um perfeito casamento.

Quando aliada à música,

Torna-se clara a poesia.

As palavras fluem melhor

Num verso que contagia,

Tornando bela a canção,

Dando ênfase à melodia.

A poesia tá para a música

Como o arroz para o feijão,

Uma completando a outra,

Buscando, assim, perfeição.

Ainda que cada compositor

Tenha a sua especialização.

Mesmo um grande poeta

Como foi Manuel Bandeira,

Ou até Carlos Drummond

Em toda história brasileira,

Poderiam não render bem

Compondo dessa maneira.

Um poema pra ser belo

Tem que tocar na alma,

Com a leveza de versos,

Merecendo toda palma.

Para tanto ele deve ser

Escrito com toda calma.

Os poemas acompanham

Momentos de inspiração.

São frutos de experiências

Expondo alguma relação,

Envolvendo sentimentos

Como amor, ódio e paixão.

Sejam emoções vividas

Em laços compartilhados,

Muita história de romance

Vivida em algum passado,

Já resultou vez ou outra

Belos versos inspirados.

Porém, já dissera Cazuza,

O grande músico roqueiro:

“Eu sou poeta e não aprendi

a amar”, sendo verdadeiro.

Como se tivesse se tornado

Da poesia um prisioneiro.

Fernando Pessoa escreveu

Que o poeta é um fingidor,

Pois retrata em um poema

Os tormentos de uma dor,

Aquela que jamais sentira,

Especialmente de um amor.

Aliás, o pensamento é livre

E a inspiração, muito mais.

Ao poeta cabe a liberdade

Com os seus dotes naturais,

De originar versos e poesia,

Alcançando os seus ideais.

Feita, enfim, a separação

Acerca de poesia e poema,

Ao tentar escrever versos

Ninguém achará problema.

Uma tarefa que, no entanto,

Para muitos é um dilema.

PAULO SEIXAS - EM DEFESA DA CULTURA E DA EDUCAÇÃO

Apoiando a Educação, a Cultura e todas as

manifestações de arte, em qualquer lugar.