Latifúndio
Se a ministra já falou
Quem eu sou pra desdizer
Que a grande propriedade
Não faz meu povo sofrer
Pois é farta a produção
Que agiganta a nação
Com o mundo concorrer
Milho, gado e muita cana
Demais soja e feijão
Laranja, arroz, mandioca
Amendoim e algodão
Café e gado bovino
Leite e gordo suíno
Madeira e algum limão
Produção para além-mar
E consumo interior
Devia estar bem rica a mesa
Do ativo trabalhador
Assim como é ligeiro
Produto pro estrangeiro
Seleto para o doutor
Torna o PIB orgulhoso
Grandiosa a economia
Indústria e agronegócio
Garantem a democracia
Se a ministra já falou
Para desdizer, quem sou?
Que vivemos em harmonia
Então olhe outro número
O importante IDH
Algo a mais que o capital
Seu registro mostra o que há
Violência e cruel miséria
Flanco frágil à bactéria
Ao sem-terra e sua pá
Que em terra de agronegócio
Teu protesto é proibido
Se almejar um pedacinho
Em breve está coagido
Se persistir na coragem
Vai esbarrar na grilagem
Seu destino, um jazido
Encomenda confirmada
Na mira de pistoleiros
Com aval da UDR
Grande covil dos grileiros
Que tem na democracia
Falso nome e garantias
Do Estado Brasileiro
O conflito está às claras
Latifúndio é o fiador
Qualquer discurso contrário
Virá de alto traidor
Do vil ganho não se aparta
Mas conhece a Maior Carta
E se elege Senador
Em um governo pra todos
Falsificam o ideal
Por que não se intitulam?
Partidos do capital?
Social democracia?
A favor da oligarquia?
Ultra Direita Radical
Patrulham os mil hectares
Expulsando e matando
Se escondendo atrás das leis
Em suas brechas se ostentando
Garantindo a sesmaria
Com satânica avaria
A miséria perpetuando
Querelas de meu Brasil
País das capitanias
Perpétuas, hereditárias
Sonegam plena alforria
Desde o índio e negro escravos
Até o salário em centavos
Deixam o povo em agonia
Eterno este latifúndio
Em mãos de pseudo elite
Que necessária reforma
Rejeita este bom convite
Terras a perder de vista
Aval do absolutista
Não aceita delas desquite
Destino a monocultura
Que desgasta o fértil solo
Plantação intransigente
Não importa qual o dolo
Pra gente que passa fome
Que não possui sobrenome
Não será partido o bolo
Aos braços fortes do campo
Exploração sem limites
De sol a sol na labuta
Sujeito a mau apetite
No imenso lote maldito
Se faz o grande delito
Agrilhado ao parco holerite
Mas luta o homem do campo
Momento nenhum desiste
Há de vir reforma agrária
Sorriso ao semblante triste
Conquista mais importante
Do campo virá o levante
Que quebre este dedo em riste