SÓ A SAUDADE HOJE MORA NA CASA QUE MOREI NELA.

Construí essa casinha

Na encosta da colina,

Mesmo sendo pequenina

E modesta, mas, era minha,

Porém a seca daninha

Que causa tanta sequela

Obrigou-me a sair dela

Para seguir mundo afora

Só a saudade hoje mora

Na casa que morei nela.

Eu ali trabalhei tanto

Quase chego ao desconsolo,

Pois pedra, areia e tijolo,

Fui buscar em todo canto,

No domingo ou dia santo

Ao tempo eu não dava trela,

Trave, ferrolho e tramela,

Coloquei tudo, e agora,

Só a saudade hoje mora

Na casa que morei nela.

Quando eu e Julia casamos

Ela foi o nosso abrigo,

Porém da seca o castigo

Tão longo não suportamos,

Se hoje distante estamos,

Da moradia singela

Não esquecemos que ela,

Foi o nosso ninho outrora,

Só a saudade hoje mora

Na casa que morei nela.

E quando fazia os planos

Para aquela construção

Eu tinha convicção

De ali morar muitos anos,

Mas, para meus desenganos,

Tive que sair daquela

Casa, que achava tão bela,

Voltei pra revê-la agora,

Só a saudade hoje mora

Na casa que morei nela.

Tão bonita que ela era

Hoje está deteriorada,

Da sua linda fachada

Só resta a doce quimera,

Mas, o tempo não espera,

Chega trazendo a procela

Desobedece a tabela

E aos poucos tudo devora,

Só a saudade hoje mora

Na casa que morei nela.

Aqui nesse Pé de Serra

Estão as minhas raízes,

Relembro os tempos felizes

Que vivi na minha terra,

Porém o destino encerra

Sem cuidado e sem cautela

Num instante desmantela

Sem negociar penhora,

Só a saudade hoje mora

Na casa que morei nela.

Carlos Aires