Raízes

Donde eu vim a luz era lamparina,

Moinho do café era o pilão,

Na porta, fechadura de cordão,

Ainda existia muita disciplina,

Rapadura em lugar de sacarina,

Seis cães de guarda noite e dia,

Dois potes d'argila e água fria,

Tirada da cacimba do quintal,

Sem geladeira, a carne no varal,

Era assim minha vida em Teresina.

Relógio era o apito da usina,

Tínhamos fogareiros a carvão,

Pra cozer pequi, carne, arroz, feijão,

Muitas galinhas, patos, tangerina,

Pre vencer as agruras da faina,

No alpendre armada u'a rede tapuirana

E uma hospitalidade franciscana,

Uma roupa chamada "domingueira",

Um balanço no galho da mangueira,

Era assim minha vida em Teresina.

Para aumentar o brilho da retina,

Os banhos no Poty e Parnaíba,

Afastando de nós qualquer fadiga,

Seções do Cine Rex vespertina,

Não havendo estresse nessa rotina,

Bullyng se acabava era no soco,

Não se falava em drogas nem sufoco,

De gente assaltada pelas ruas,

As moças não andavam seminuas,

Era assim minha vida em Teresina.

Nem se falava em Bairro Catarina!

Quitanda sortida era mercearia,

Visagem pela noite à rua se via,

Tinha outro nome a tal adrenalina,

Usei talco Gessy e brilhantina,

Pra ver cawboy no Cine São Raimundo,

Era um prazer bater penas no mundo,

Mesmo com cada bairo um "lubizone",

Sem chapinha, trangênico, nem clone,

Era assim nossa vida em Teresina

Jogador de peladas na esquina,

Temendo o juizado de menores,

Sob o olhar felino dos genitores,

Que ao tempo em que protege recrimina,

Não havia essa tal de margarina,

Nem colesterol, glúten, depressão,

Sem fogão a gás, nem gás de fogão,

Não havia sequer sabão em pó,

A vida não nos era esse nó,

Dava gosto morar em Teresina.

Aracaju, 05/ maio/ 2017

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Sou grato pela interação do poeta PG Alencar

que me brindou com esse mimo.

Nossa vida na cidade não tá fácil

Mesmo para quem mora em palácio

Sente-se prisioneiro da violência urbana

Mas nem todo encanto se perdeu

O teatro quatro de setembro não morreu

João Cláudio e Amauri nos contam piadas

E ainda se vê gente nas calçadas

No final de tarde como o interior

Fazendo pensar que o tempo parou

O parque da cidadania trouxe novos ares

Que dizer então de chopp artesanal nos bares?

E a cerveja empuada que só tem aqui

Como bom armengador que nos conveceu

Volte vez em quando a terra da cajuína

Que homenageou a princesa Teresa Cristina

Junte presente e passado no lugar tão seu.