A Pescaria
Ritmo de Martelo Agalopado
Fui convidado pra uma pescaria,
Nos Rios Parnaíba e Uruçuí,
Divisa Maranhão com Piauí,
Num remanso que eu não conhecia,
Quando cheguei a noite já corria,
Não levei molinete, anzol, tarrafa,
Mas sessenta cervejas de garrafa,
Dez de pinga da roça e tira-gosto,
Para ninguém passar qualquer desgosto,
Para afastar murrinha e a estafa.
Sem lanterna, candeia ou lampião,
Sem canoa, jangada ou barco à vela,
Nunca vi pescaria como aquela,
E ainda mais sem disposição,
Eu queria pescar, o corpo não,
Sofrendo sob o olhar de Ana Maria,
Que sonhava com outra pescaria,
Fisgando perereca com minhoca,
Só nós dois no Porto da Taboca,
Lugar bem raso e água menos fria.
Foi quando me lembrei desse legado,
De não passar vergonha na porfia,
Ainda assim consegui o que queria,
Peguei duzentos quilos de barbado,
Corvina, Matrinchã, piau, pintado,
Curimatás, piranhas, mandubés,
Tilápias, mandis, tucunarés,
Branquinhas, surubins, pirarucu,
Cachorras, manjubinhas e pacu,
E outra que não sei se é peixe ou mulher.
De posse de um pequeno jereré,
Peguei dez arrobas de piabas,
Siri patola e dez piramutabas,
Ainda me escapou um jacaré,
À unha agarrei um tucunaré,
Paraguassú sorria ao violão,
Aila Brito cantava uma canção,
Feito numa excelente parceria,
Deles com o trovador Jota Garcia,
Tudo sob o luar de meu sertão.
Ainda pequei quinze capivaras,
Que iam à correnteza por descuido,
Arraia, baiacu, truta, cascudo,
Botei-os num cercado de taquaras...
SanCardoso e Raquel num pau de araras,
Pra comer namorados, guaiamum,
Lambaris. Poraquê, jau, mussum,
Sardinhas, camarão, bicuda, uçás,
Joguei n’água as piabas e acarás...
Pescar assim não é pra qualquer um!
Aracaju Sergipe, 27 /02/ 2017
Obs. Pra limpar a barra de Ana Maria, quero deixar bem claro que no Piauí se pesca traíra com isca de perereca e mandi com minhoca.
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Participação de Jota Garcia, um dos meus convidados. Fico duplamente agradecido.
Sou do Acre, porém não sei pescar.
Mesmo com tanto rio que tem lá,
Foi me faltar alguém pra me ensinar,
Agora que a idade já me prende,
A curiosidade se acende,
Mas é fogo breve, logo apagado,
No peito vai ficar a alegria,
De nesta tua bela poesia,
Ver meu nome completinho citado
Nestes versos de tanta maestria.
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Agradeço penhoradamente a Poetisa Aila Maria Brito (pra que tanta formalidade, meu Deus) pela participação. Além de cantar sob os acordes de Paraguassú e Jota Garcia, ainda fez essa prenda!
Convidada pra uma pescaria,
Aceitei, mas com uma condição;
Que o famoso "peixeiro" ora em questão,
Provasse a todos, a sua maestria,
Findou a noite, e nada acontecia;
Peixe algum; por ali anunciava,
Aperreou-se e seu crânio esmiuçava,
Para dar provas do real valor,
Mas um fato ocorreu; ele lembrou,
Nem tarrafa levou! Noite avançava...
Mas pouco a pouco sua sorte sorria,
Deixou de ser mais um pobre falante,
Naquela hora, naquele mesmo instante,
Viu os peixes, que há tempo não os via,
E enquanto eu cantava, a lua saía;
Sob o som do violão, Paraguassú,
Viu Garcia recitar, "poema azul"
Num cenário que a todos alegrava,
Cada peixe, pra perto se achegava...
Atraídos com o som, o peixe Pacú,
Chegou bem perto, e os outros acompanharam:
Piau-três-pintas, truta e lambari,
Apapá, andirá, apaiari,
Outros mais, muito mais se achegaram;
Um por um na panela se apinharam:
Candiru, jurupoca e um pintado,
Limpa-fundo, mandi, peixe barbado,
Matrinchã, manjubinhas, poraquê;
Outros tantos que a lista fez crescer,
Jereré, totalmente abarrotado;
Não cabia mais nada, agora então,
Festejar com as bebidas e tira-gosto;
Enfim, todos com um sorriso no rosto,
Aplaudiam; felizes de emoção,
E entoavam um louvor de coração,
A Deus Pai, pela grande pescaria,
E ao seu Filho, e também sua mãe Maria!
Todos nós, encantados com "o feito"...
Com efeito, foi tudo ali, perfeito;
Pescaria assim, só Mozá faria!
Grata. Abraço.
Para o texto: A Pescaria (T5926680)