"Zolimpíadas do Sertão"

Viva o povo culto, criativo e lutador do semiárido!

"ZOLIMPIADAS DO SERTÃO"

Sonhei com as Zolimpíadas

Chegando no meu sertão,

Foi o maior espetáculo

Que se viu na região.

Tinha gente que só a peste

Lá das brenhas do Nordeste

Chegando de caminhão.

No desfile de abertura

A bandeira nordestina

Toda feita de retalhos

Pelas mãos de Severina.

E eu ali, de camarote

O bode virou mascote

A tocha era a lamparina.

A nossa delegação

Para conquistar os louros

Desfilou de guarda-peito

Gibão e chapéu de couro.

E enfrentando a batalha

Conquistou muitas medalhas

De bronze, de prata e ouro.

Quem carregou a bandeira

Foi Ritinha de Zé Bento,

Já a pira foi acesa

Por Tonin de Livramento.

Nosso atleta principal

E recordista mundial

Do hipismo de jumento.

Antes das competições

Um lanche bem reforçado

Com buchada, cajuína,

Rapadura e milho assado.

Fava verde com galinha,

Sarapatel com farinha,

Angu com bode guisado.

Nas águas do Velho Chico

As provas de natação,

Os pulos ornamentais

De cima de um paredão.

Ginástica num terreiro,

Remo e vela num barreiro

E judô num palhoção.

A maratona, seu moço,

Era por nossas estradas.

Atravessando os riachos

Nas veredas, nas quebradas

Da paisagem nordestina,

Ao som do galo-campina

E da patativa golada.

Na competição de tiro

Os velhos de bacamarte,

Pé-de-bode, granadeira,

Vestimenta de zuarte.

E davam cada pipoco

Do sujeito ficar môco,

De se ouvir em toda parte.

A prova de atletismo

Conhecida por carreira

De cem e duzentas léguas

Com barreira e sem barreira,

Foi por dentro do cercado,

Atravessando um roçado

Pelo meio das capoeira.

Os saltos, lá no sertão

Eram provas de “pinote,”

De riba de uma barreira

Num pedaço de caixote.

O cabra de lá pulava

Num açude tibungava,

Caindo feito um caçote.

O jogo de futebol

Se jogava sem chuteira

Num campo de chão batido

No alto de uma ribanceira.

As traves de barandão,

O campo sem marcação,

No calor e na poeira.

Levantamento de peso

Quem ganhou foi Sebastião.

Cinco sacos de Farinha,

Três arrobas de algodão.

Com esse peso todinho

Ele se ajudou sozinho

E se sagrou campeão.

O arremesso de pedra

Quem ganhou foi Expedito,

No tiro com baladeira

Carmelita fez bonito.

E já na queda de braço

O ouro foi pra Inácio

E a prata pra Benedito.

Fizeram de três batentes

Pódio pra premiação,

Uns ramos de onze horas

Era a coroação.

E numa latada de lona

Asa Branca na sanfona

Completava a emoção.

E assim eu me acordei

Com orgulho do Sertão,

Desse povo vencedor

De tão grande coração.

De história tão sofrida,

Que nas batalhas da vida

Nasceu pra ser campeão.

Edson Francisco cordelista pernambucano de Gravatá
Enviado por Paulo Seixas em 30/08/2016
Reeditado em 11/08/2021
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