Candidato A fantasma da ALRN
Zezinho de dona Zefa
Nunca teve profissão
Não sabia de nada
Essa era sua vocação
Na escola nem ler
Nunca quis aprender
Levou por malcriação
E a vida foi vivendo
Sempre no tentar
Um dia fazendo cerca
Outro dormir ou caçar
Outro juntava latinha
Ou fazendo farinha
Se alguém fosse adular
Sempre foi sonhador
Com tudo que podia
E pensar em ser rico
Era sua alegria
E num via a hora
Desatar sem demora
A sua planaria
Queria um cargo bom
Mas que nun trabalhasse
E que ficasse em casa
E só o dinheiro ganhasse
Comendo e dormindo
E ás vezes sorrindo
Quando ele despertasse
E já aos quarenta anos
Uma notícia recebeu
Viu na televisão
Que chega endoideceu
Uns cargos de fantasmas
Chega lhe deu asma
Quando tudo percebeu
Era sua única chance
De sua vida viver
Ganhando dinheiro
Fazer por merecer
Ser um funcionário
Isso era necessário
E não podia perder
Na assembleia legislativa
Do estado potiguar
Lá mesmo na capital
Ele iria trabalhar
Um fantasma de vez
Com toda insensatez
Que ele quis alcançar
Pensou ele eu consigo
Isso é muita moleza
Já nasci pra isso
Disso tenho certeza
Vou ser selecionado
Mais um pro estado
Bancar na safadeza
E veio lá de sua serra
Depois de Caicó
Com um lençol branco
Com uns furos e uns nó
Já todo enfeitado
Um fantasma encarnado
Ligeiro feito um mocó
E chegando em natal
Querendo se situar
Onde era a fantasmaria
Do estado potiguar
A tal casa legislativa
Com sua expectativa
Iria logo o empregar
Chegando na tal casa
Foi querendo entrar
Disse que seu currículo
era bom, era de invejar
Nunca fez nada na vida
Nem mesmo intriga
E queria se empregar
Sabia ficar calado
Pois num sabia falar
Queria só dez mil
De inicio pra começar
Mas o guarda disse
Amigo isso é burrice
Alguém tem que apadrinhar
Procure seu deputado
Mas num sei se vai dar
Já tem quase 3 mil
A casa tá de assombrar
E seu currículo e fichinha
Aqui tem uma gentinha
Perito no fantasmiar
Mas veja direitinho
Pra na reserva ficar
Tem uns sete mil
Mais mil a cadastrar
Enriqueça seu currículo
Porque em nosso circulo
Você pode atrapalhar
Zezinho voltou triste
Porque não deu pra ficar
Nem de ser fantasma
Consegue desempenhar
Precisa dum padrinho
Que de aquele jeitinho
Pra na casa ele entrar
É o filho de dona zefa
Lá do sítio mulungu
De sobrenome Silva
E não tem mais nenhum
Num votou pra deputado
Por se achar cansado
De só comer angu
Ficou triste desiludido
Com tanta humilhação
Ser reprovado nisso
É muita decepção
E lá só tem arrumadim
Ficou difícil pra mim
Fantasma sem graduação
Vou voltar pra casa
Muito desiludido
Aquela assembleia lá
Só tem vez os amigos
Ou algum parente
Que posa de descente
Fazendo isso comigo
Espero que os fantasmas
Devolva meu lugar
Tenham vergonha na cara
E deixem de atrapalhar
Só porque tem padrinho
Liberando o caminho
Pra eles fantasmar.