A Chuva no NORDESTE
01
Abriu-se rasgando o véu
Do Deus pai e criador
No meu sertão sofredor
Sentiu- a brisa do céu
Matuto tirou o chapéu
Para agir na oração
Demonstrando gratidão
Pela chuva recebida
Na devolução da vida
Que veio brotar no sertão
02
Em meio a escuridão
Dos clamores já cansados
Dos olhos mais que inchados
Surge o grito do trovão
Do relâmpago seu clarão
Foi assim que sucedeu
Parece que derreteu
De Jesus o coração
Segue a minha narração
Na mudança que se deu
03
Quando o dia amanheceu
Muito alegre por demais
Descrevendo os animais
A alegria ferveu
Quem antes se entristeceu
Passou a fazer festim
Te a rama do capim
Começou cedo brotar
E a saparia gritar
A seca chegando ao fim
04
A galha do alecrim
Já começou a brotar
Um assovio pelo ar
Se ouvia do saguim
Saiu pulando e assim
Se via felicidade
Aquela nua verdade
Passou a ser invertida
Brotou de novo a saída
Pra todos matar saudade
05
Foi junto da claridade
Que o galo se levantou
Bateu asas e cantou
Expressando lealdade
Reconheceu a bondade
De quem rege a natureza
Onde o cantar de tristeza
Não amanheceu o dia
Só canto de alegria
Se via na redondeza
06
Onde a água fez represa
Chegaram de mala e cuia
Pato d’água veio de tuia
O marreco fez proeza
Acauã virou a mesa
E bateu em retirada
A agorenta danada
E da seca companheira
Se foi pra outra ribeira
Que aquela foi inundada
07
A perdiz toda rajada
Perdeu ninho na enchente
Mais voou toda contente
E foi cantar na chapada
Dando vida a trovoada
De pura obra divina
Sabiá, galo campina
O anum se fez presente
Pra cortejar a enchente
D’água pura e cristalina
08
O desprezo da resina
O pacu saiu do oco
Mãe da lua foi pro toco
Sua voz saiu mais fina
O touro cheirando urina
A carniceira sumiu
E o guará que partiu
Voltou a sua morada
Foi emoção na chegada
Com tudo que ele viu
09
Capote se sacudiu
Se esticou feito foca
De tanto comer minhoca
O tô fraco repetiu...
Na alegria que sentiu
Saiu teju do buraco
Se sentindo muito fraco
Foi a procura de ovo
Vai ter fartura de novo
Pra garantir o seu taco
10
Com duplo cipó no saco
É um macho diferente
Nunca perdeu a patente
Nesse macho me atraco
Sem comer fora do caco
É bastante resistente.
Até a casca serpente
Saiu balançando a baje
O peba também reage
Com o cheiro da enchente
11
Uma alegria patente
No rebanho de garçal
Invadindo inté curral
Comendo o que ver na frente
Ligeiro já enche o ventre
Enche o bico pro filhote
E o grito do caçote
Se escuta ao meio dia
Tanto o sapo como a jia
Leva o macho no cangote
12
A mulata enche o pote
Com a água da biqueira
Onde tiver ribanceira
Tem cobra amando bote
O preá pra o serrote
Do baixio vai fugindo
O bem-te-vi aplaudindo
Canta alto que ta vivo
Paginando seu arquivo
Pra tristeza ir saindo
13
O cebinho vai subindo
Na galha da jitirana
A terra de sobra emana
A babuja ressurgindo
A serra vai se vestindo
Numa sena sem igual
Sobe o bode no jirau...
Quanto a porca se sacia
Se espoja na lama fria
No rego do capinzal
14
O grito do pica pau
Assovio do vem-vem
A saúva e a quenquém
Tira a dor estomacal
Onde a fome era o mal
Das crises mais antigas
Sobrando inté formigas
O que se ver nas alturas
Belas gordas tanajuras
Aliviando as fadigas
15
O florescer das urtigas
Camaleão ninguém vê
Na sombra do muçambê
Das rolinhas as cantigas
E no açude as brigas
Entre pato e mergulhão
O que não tem no verão
No inverno tem de sobra
A mais pura e linda obra
Do Autor da Criação
16
É tempo de oração
A terra já muda o cheiro
Planta tudo bem ligeiro
Vareia na plantação
Fava milho e feijão
Um trio que se combina
A crise assim termina
O verão chegando ao fim
Paraíso, isso sim!
A pura obra divina
17
O marmeleiro a fina
A vara no crescimento
Desaparece o jumento
O cavalo cresce a crina
Toda orquestra afina
O instrumento da goela
No meio da aquarela...
É isso que a chuva traz
Coisas que só Deus faz
Provando que cuida dela.
JAILTON ANTAS