*A MUDANÇA DE ZÉ BORÓ!!!
Zé Boró foi se mudar,
Do Cariri pra o Agreste,
Ao desarrumar as tralhas,
Eita bagunça da peste!
Como não tinha mobília,
Juntou-se com a família,
Lançou mão de vários sacos,
E ordenou rapidamente
Dizendo assim, “bora” gente,
Logo ajuntar nossos cacos.
E a recolhida dos troços
Começou pela conzinha,
Um pote velho de barro,
A caneca, uma quartinha,
Uma cuia, uma cabaça,
Meio litro de cachaça,
O pilão, o candeeiro,
A urupema, a gamela,
O alguidar, a panela,
A quenga e o fogareiro.
Caco de torrar café,
Um bule e uma chaleira,
Uma cumbuca de sal,
Um cambito de madeira,
Tinha um pegador de brasa,
Numa assadeira bem rasa,
Colorau, cravo e cominho,
Uma quicé e um abano,
Alguns molambos de pano,
Piaba assada e toucinho.
Dentro do quarto pegaram
A velha cama de vara,
Um cabide de madeira,
Uma cesta de taquara,
Uma pequena maleta,
Uma mala velha e preta,
Com uma listra amarela
E o desenho de uma pata;
Tinha muito mais barata,
Do que roupa dentro dela.
Uma camisa listrada
A calça com suspensório,
Um penico muito velho,
Uma vela, um oratório;
A imagem de Jesus,
Que pregado numa cruz,
Padecia o sofrimento,
E numa fiel manobra,
Pra se prevenir da cobra,
Uma imagem de São Bento.
Lá na saleta de janta
O retrato da pobreza;
Um velho couro de boi,
Que lhe servia de mesa,
Uma antiga petisqueira,
Onde se guardava a feira,
Feijão, açúcar e farinha,
Mariola e rapadura,
Banana prata madura,
E uma faca sem bainha.
E lá na sala de fora
Tinha um rádio “Campeão”
Uma gaiola de talas,
Uma rede, um alçapão,
Uma sela, uma cangalha,
Pois só cacareco e tralha,
Seu Zé Boró possuía,
Com a mudança arrumada,
Partiram de madrugada,
Antes que raiasse o dia.
Jogaram tudo no lombo
Da besta velha enfadada,
Saíram de Livramento,
Ele a mulher e a cambada
De filhos, que eram cinco,
Com coragem, com afinco,
Seguiram pelo caminho,
Conduzindo essa bagagem;
Com seis dias de viagem,
Chegaram a Frei Miguelinho.
E ali se acomodaram
Na fazenda de Seu Chico,
Um cidadão bem dotado,
Fazendeiro muito rico,
Que estava precisando
De um vaqueiro, aí foi quando,
Zé Boró apareceu,
Logo o velho sem demora,
Disse: chegou bem na hora,
Portanto o emprego é seu.
E Zé se embrenhou na luta
Todo cheio de esperanças,
Vendo de barriga cheia,
Ele, a mulher e as crianças,
Sentiu-se realizado,
E assim bem arranchado
Ficou contente que só!
Hoje a casa é mobiliada,
E agora não falta nada,
Na vida de Zé Boró.
Carlos Aires
11/01/2016