O matuto decepcionado com o lutador campeão

Meu amigo num acredito

Na minha matutagem

No sábado passado

Eu tava de passagem

Na feira de pedra preta

Comprando espoleta

Espiei uma reportagem

Na televisão do meicado

Uma luta a anunciar

Dum cabôco arrochado

Já dez anos sem apanhar

Dono de umcinturão

Um bicho dum fivelão

Chega tava a alumiar

E foi passando uma cena

Duns homi se esmurrano

Dentro duma gaiola

E o povo tudo oiano

E ia ser de nove horas

Corri e sem demora

Uma TV fui comprano

Tinha vendido uma porca

Cum catorze bacurim

Duas ovelhas paridas

Já que o tempo ta rim

Pra fazer a minha feira

E comprar umas cadeiras

E uns feches de capim

O dinheiro gastei todo

E não quis nem saber

Maria ficou zuando

Tentano me convencer

A devolver a bicha

Aumentano nossa rixa

Pois ficou pra num viver

Fui apressado pra casa

E a bicha eu fui montar

Pra mode essa tal luta

Eu ter como apreciar

Vê esse caba brigador

E o peste desafiador

Quereno o cinto tomar

Eu durmo logo cedo

Mai tava de prontidão

Armei a minha rede

De frente da televisão

Quando a luta começou

O sono me visitou

Mai num fechei os oios não

Tome luta, egue luta

Pegue gente a apanhar

Uns cabôco cumprido

Apanhava até dismaiar

E o tal Zé Aldo nada

E o sono me apertava

Eu já pra me entregar

Digo cum sinceridade

E num minto pra você

Nunca eu tinha visto

Esse negócio de UFC

Porém fiquei curioso

Poi já nasci medroso

E de briga só fiz correr

Mai esse tal José Aldo

Dez anos sem apanhar

O homi devia ser bom

Nessa de esbofetear

Quis assistir pra entender

E cum o dito aprender

Como que faz no lutar

As lutas se estendia

E nada do Zé vim lutar

Teve mulé brigano

Sem no cabelo pegar

De bufete e pernada

Queda e enroscada

Como cobra a esmagar

Vixe, foi murro qui só

Os caba se enfrentano

Outro cum microfone

Ficava anunciando

Nisso a peia comia

Tinha nego que gemia

E só um doido apartano

Era um levantado de mão

Do cabôco vencedor

Umas falas estranhas

Com um intrevistador

Cuns ditos esquisito

Purcerto acha bunito

Devia ser um adulador

E nada do homi aparecer

Será que ele vai arregar?

E eu cum os oios vemeios

Com o sono a me apertar

Tumei um galão de café

Até briguei cum a mulé

Que num queria preparar

Quase já três da manhã

Que o tal Zé apareceu

Pensei que era um homão

Mai parecia um bebeu

Pequeno e desnutrido

Um caicu esmilinguido

Chega me surpreendeu

E um cabôco branquelo

Duma barba de bode

Um tal de marcogrego

Pronto pra um sacode

Fazeno estripulia

E a torcida aplaudia

E o Zé todo esnobe

Lutariam vinte minuto

Cinco em cinco parar

Um tal de quatro raudi

Um minuto descansar

Era tempo suficiente

De ver teoricamente

Minha muié infrentar

Entraram no cercado

E um danado anunciou

Ficaram se balançando

Egue!!! a luta começou

O Zé Aldo foi pra cima

Hoje ele me ensina

Mai logo se atrapaiou

Deu um tapa ligeiro

Mai um maior ele levou

Caiu na mesma hora

E o galego aproveitou

Deu mais dois murros

Escutei o esturro

Pronto! a luta acabou

Foi bofete certeiro

Na taba queixal acertar

Nem deu tempo o campeão

Ter como se esquivar

O Zé logo amunhecou

Os pés chega intrançou

A sorte que foram apartar

A seu fie duma égua

Nem dez segundo durou

Dez anos dano em gente

Seis horas meu sono tirou

Pra com ele eu aprender

Mai ele só faltou morrer

Cum o tabefe que levou

A televisão eu quebrei

Novinha cum dia de uso

De desgosto e raiva

Poi achei muito do abuso

Vá tirar o sono do cão

Se esse é o dito campeão

Outro assim eu recuso

Amigo apanhar eu sei

Num precisa ensinar

Cadê esse tal galego

Poi com ele vou me achar

Acho que foi minha mulé

Insinou esse parangolé

De só no queixo acertar

Perdi foi meu dinheiro

Meu sono e a instrução

Que ia usar no dia a dia

E me livrar da situação

Da valentia da mulé

Agora vou é dá no pé

Se não eu que vou pro chão

Lino Sapo
Enviado por Lino Sapo em 14/12/2015
Reeditado em 21/10/2016
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