A padiola e os bebinhos corruptos
A padiola e os bebinhos corruptos
Né coisa douto mundo
Mai num é nada bom falar
Das acontecença passada
Que num se pode negar
Coisa feia de se ver
Inté de se escrever
Mai queu vou agora contar
Foi lá na minha terra
No ano noventa e três
Numa seca medonha
Vou alembrar todos vocês
Revendo as experiênça
Tempos de ermergênça
Pra dar ajuda ao freguês
Era burros e mais burros
Cavando açude e barreiro
Homi, mulê e minino
Como um formigueiro
Indo pra ganhar o pão
Trabaiano em mutirão
Viúvo, casado, solteiro
Adispois do invernado
A frente era dispensada
Guardavam as ferramentas
Pra uma nova estiada
Pá, enxada e ciscador
Era tempo do trabaiadô
Tê a fome amenizada
De todas ferramentas
A padiola era principal
Feita com largo frande
E dois pedaços de pau
Uma coisa eficiente
Que ajudava a gente
Transportar o material
Logo perdia a função
No fim da frente emergencial
Ficando encostada
De maneira natural
Esperano utilidade
Noutras calamidade
Desprezada no quintal
Um dia fez necessária
Pra ajudar um cidadão
Que tava caído na rua
Duma cana com limão
Bem na entrada do bar
Num tinha como passar
Cum ele deitado no chão
Dois caba disposto
Resolveram intervir
Foram pegar a padiola
Pra tirar o dito dali
Botaram com cuidado
O rapaz embriagado
Pro homi num vim cair
E tiraram pelo rumo
Da casa do caningado
Nas ruas da cachoeira
E ele ali bem deitado
E só curioso juntano
O cortejo acompanhano
O bebo desacordado
Na metade do camim
Um trio que ia passano
Pra ensaiar um forró
Foram logo se juntano
Meterom o aço a tocar
E o cortejo acompanhar
Com o povo atrás cantano
Tinha uns minino rim
Uns traques soltano
Entraram entre o povo
Aqui ali um estourano
E naquela situação
Aparecia no meu torrão
Uma prática ficano
Minina!! foi festona
Como nunca aqui se viu
Inter véia mal amada
Ao ver o cortejo sirriu
Minino, homi e muiê
Cachorro, gato e guiné
A procissão se inseriu
Foi o maior bafafá
Nas prosas de calçada
Uns achavam meio feio
Mas riam da presepada
O bebo quem mais gostou
Pois passos economizou
E num acordava por nada
O lugar era bem pequeno
E apenas três bar havia
Festa era coisa difícil
Uns nem mesmo conhecia
Os ricos tinha jumentos
Pobi só pensamentos
Querendo tê algum dia
O dono dum bar oportuno
Teve grande sacada
De melhorar as vendas
Porque tava parada
E em mei aos pinguços
Lançou um tal concurso
E premiação divulgada
Mei quilo de mortadela
Um litro de aguardente
Uma fanta de garrafa
Que surpreendeu a gente
Pra o bebo mais levado
Em um mês interado
Tendo sobrevivente
Não havia a inscrição
Pra ninguém se escrever
Bastava tomar cana
E cair pra alguém ver
E lá se vinha a paviola
Levando sem demora
E já tava a concorrer
Na primeira semana
Mai de trinta concorreu
Foi trabaiada danada
Uns nosso quase morreu
De acordar muito cedo
Pra levar os pestes bebo
De tanto que apareceu
Já bem na reta final
Faltando apenas dez dia
Três bebo na disputa
E nenhum deles desistia
Nezinho, filé e bida
Com cento e vinte ida
Na vitória insistia
Ninguém aguentava mais
Os tal bebos transportar
A paviola já sambada
E a gente a remendar
Inté o zabumba furou
A sanfona também rasgou
De tanto que foi tocar
Os traques se acabaram
Em toda nossa região
Já tinha gente rouca
Outros cum calos na mão
E os bebos só luxando
E a tal paviola usando
Na base da corrupção
Uma vergonha meu senhô
Na ânsia de se ganhar
Violaram esse concurso
Bão começou observar
O esquema utilizado
Os bebos eram levados
Mesmo sem se embriagar
Os finalistas espertos
Caiam quase sete vez
De manhã ao anoitecer
Num tinha esse talvez
Era sagrada a padiola
Transportando na hora
Vítimas da embriaguez
Deixávamos em casa
Pensando ter resolvido
Eles saiam pela cozinha
E voltavam escondidos
Caia no mesmo lugar
E lá se ia nós os levar
Antes de ter percebido
Nezinho, filé e bida
Era os mais espertinho
De olho na premiação
Desviaram do caminho
E nós lascado sofreno
De fraqueza morreno
Levando os bebinhos
Ao confirmar o caso
Fizemos uma reunião
Decidimos encerrar
A infeliz competição
O tribunal da cachaça
Num ia deixar de graça
Essa cruel corrupção
Houve até umas revoltas
Por parte da bebaiada
Quebraram a padiola
Que tava mei surrada
Ameaçaram uns cacetes
Jogaram um tamborete
Que quebrou na calçada
Ainda teve desculpa
Aos pobi padioleiros
Aos mininos dos traques
E ao trio do sanfoneiro
Ao dono lá do tal bar
Que a coisa foi inventar
E ao povo cortejeiro
Num se aceitou desculpas
Por falta de cerimonha
Usando da sabedoria
E nos fazer de pamonha
Trabaiano feito burro
Nesse jogo bem sujo
Duns caba sem vergonha
Filé deixou de beber
Porque tá revoltado
Mezinho foi simbora
Bida ta inconformado
Não existe explicação
Pra usar da corrupção
Até o bar já tá fechado
Recordo desse tempo
Numa revolta danada
Das bombas no peduvido
E as idas de madrugada
Levando um sacana
Que vivia de tomar cana
E cair pelas calçadas
Por isso hoje num bebo
E num confio em ninguém
Num gosto de padiola
E nem de cortejo também
Ainda hoje sou puto
Com os bebos corrupto
Que enganaram até o trem
Parece até que pegou
Nos políticos de agora
Essa coisa de esperteza
De lucrar a toda hora
A corrupção dos bebos
É isso que eu percebo
Espalhou-se sem demora