*NA CALMARIA DA ROÇA!!!
NA CALMARIA DA ROÇA!!!
Dois velhotes conversando
Na sombra de um juazeiro,
A cabra e o pai de chiqueiro,
Um jumento descansando;
Um casal que vai chegando,
Em frente a sua palhoça;
Bois puxando uma carroça,
Um pequeno lugarejo,
São cenas comuns que vejo,
Na calmaria da roça.
No aceiro do terreiro
Um porco velho fuçando,
Vê-se um cavalo pastando,
Um cachorro e um carneiro;
O luzir de um candeeiro,
Clareia a pequena choça,
Um caboclo da mão grossa,
Se balançando na rede,
Vai de parede a parede,
Na calmaria da roça.
Ao lado de uma casinha
Nota-se um monte de estrumo;
Um homem picando fumo,
No batente da cozinha;
Uma faca na bainha,
Uma gata que se coça;
A abelha se alvoroça,
Se alguém mexer no cortiço;
A gente ver tudo isso,
Na calmaria da roça.
Desce o galo do poleiro
Pra galinha arrasta a asa;
No velho fogão a brasa,
Logo a mulher do roceiro,
Faz a comida ligeiro,
Um xerém de massa grossa;
Logo depois q’ele almoça,
Deita e descansa um pouquinho,
Ela lhe faz um carinho,
Na calmaria da roça.
Uma vaca descansando
Junto ao bezerro e o touro;
Uma casa de besouro,
Um cabritinho berrando,
A galinha se aninhando,
No chiqueiro junto a fossa,
A água suja que empoça,
E escorre pela valeta;
Até o saguim se aquieta
Na calmaria da roça.
Um passarinho cantando
Na sombra do arvoredo,
A lagartixa com medo,
De um gato lhe tocaiando;
Uma velha trabalhando,
O algodão descaroça,
Estica, rasga e destroça,
Fia, e vai pra sua tenda,
Fabricar a bela renda,
Na calmaria da roça.
Uma nuvem bem escura
No topo da cordilheira,
Traz uma aragem rasteira,
Que causa a leve frescura;
Em meio aquela negrura,
Tão logo a pingueira engrossa,
E para alegria nossa,
O trovão da um pipoco
Causando um breve sufoco,
Na calmaria da roça.
A água escorre abundante
Pelo rego do barreiro,
De dentro do formigueiro,
Voa a tanajura errante;
Pra cair mais adiante,
Porém isso não endossa;
Nem lhe garante que possa,
Constituir a nova vida,
Por ser muito perseguida,
Na calmaria da roça.
Carlos Aires 12/04/2015