AS COISAS DO MEU SERTÃO

Já falei de saudade

Tristeza e ingratidão

De amor e de prazer

E cantei de emoção

Quero agora cantar

E também quero falar

Das coisas do meu sertão

Chegando o mês de janeiro

Caindo a chuva no chão

Se caminha pro roçado

Se começa a plantação

A terra estando molhada

Canta alegre a passarada

Nas quebradas do sertão

Mas se não chove aqui

É grande a desolação

Morre de fome o gado

Não se faz a plantação

Todo mundo a correr

Na cidade vai viver

Fica triste o meu sertão

Quando chega a invernada

Se renova o meu sertão

No curral se põe o gado

Se faz queijo e requeijão

Tem muito leite e coalhada

Tem festa de vaquejada

Nas quebradas do sertão

Quando a seca é pesada

É triste a situação

Pra todo lado se corre

Só se vê lamentação

A terra fica rachada

Só tem casa abandonada

Fica triste o meu sertão

Mas quando chega a chuva

Se alegra todo sertão

Canta alegre o sabiá

Ciscando as folhas no chão

Dá comida ao filhote

Gritam também os coiotes

Nas quebradas do sertão

No sertão quando não chove

Não nasce vegetação

Só se ouve a mãe da lua

A coruja e o gavião

O gemer da juriti

A cigarra a zumbir

Fica triste o meu sertão

Mas quando se ouve

O gemido do trovão

Que cai a chuva na terra

Fica urrando o barbatão

A lua não aparece

Toda vegetação cresce

Nas quebradas do sertão

Na seca tudo é triste

Se abandona o sertão

Outros fazem promessa

Pra chuva cair no chão

Só se ouve canto e prece

O verde desaparece

Como é triste o meu sertão

Quando termina a seca

Que a chuva bate no chão

De longe se ouve o grito

Do marreco e do pavão

No campo existe beleza

Como é bela a natureza

Nas quebradas do sertão

A seca acaba com tudo

Morre a vegetação

No campo seca o pasto

Canta triste o corujão

O olho d’água secou

A ribação se mudou

Como é triste o meu sertão

No inverno muda tudo

Floresce todo o sertão

As árvores criam folhagem

Tudo é renovação

O mundo muda de cor

Só se tem paz e amor

Nas quebradas do sertão

A seca seca o riacho

Olho d’água e grotão

Tudo se torna difícil

Só se vê o poeirão

Carniça pra todo lado

Morrendo de sede o gado

Como é triste o meu sertão

Quando Deus ouve as preces

Manda chuva pro sertão

O caboclo planta de tudo

Milho, arroz e feijão.

Mandioca e melancia.

Tudo, tudo é alegria.

Nas quebradas do sertão.

Zé Bezerra o Águia de Prata
Enviado por Zé Bezerra o Águia de Prata em 21/06/2007
Reeditado em 22/06/2007
Código do texto: T535894
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