Meu amor proibido que terminou em tragédia

Que coisa engraçada

Poder do passado lembrar

Caminhando em caminhos

Que não dá mais pra andar

E vê o quanto já mudou

E o legado que deixou

E que não podemos voltar

Olhando os dias de hoje

Dá uma inveja danada

Comparando meus tempos

Com o hoje da meninada

É que nos meus velhos dias

Num havia essa tecnologia

Com tais coisas liberada

O negócio era difícil

Sem ter como se animar

Essa coisa de Facebook

Ninguém podia imaginar

Namoro era loteria

E todo mundo queria

Achar alguém pra namorar

Meninas naquele tempo

Num eram tão enxeridas

E viviam só de brincar

De bonecas bem vestidas

Os meninos, jogo de bola

Caçar, pescar ir à escola

Em rotina desmedida

Eu sou daquela época

De pouca informação

Que o povo tinha rádio

Nem conhecia televisão

E celular nem pensar

A internet nem sonhar

Nem pela imaginação

Para saber do tempo

Marcar era necessário

E foi uma época áurea

Do uso do calendário

Com mulheres bonitas

Sem os vestidos de chita

Só de calcinha o vestuário

Meu senhor que coisa

Eu tinha apenas dez anos

Quando vi a primeira vez

Uma moça de poucos panos

Bonita, uma princesa

Cheia de delicadeza

E eu fiz logo um plano

Foi amor sim, de primeira

Eu não pude me conter

A desejei desejando

Uma coisa veio me aquecer

Eu sonhava acordado

Sendo seu namorado

Era com ela que eu ia viver

Minha mamãe guardava

A foto com todo cuidado

E eu ia escondidinho

Olhava bem admirado

Beijava a fotografia

E em meio aquela euforia

Fui ficando apaixonado

Um dia mãe saiu cedo

Pra cuidar do roçado

Queria me levar com ela

Fingi-me adoentado

O plano no imaginário

Pra roubar o calendário

Pois tava atormentado

Carreguei o calendário

Numa enorme alegria

Deu-me grande suadeira

Minhas mãos chega tremia

Busquei um lugar pra deixar

Onde mãe num fosse achar

Fiz pelo amor que sentia

Foi beijos e mais beijos

Nesse pedaço de papel

Parecia até que era ela

Até tinha gosto de mel

Nesse dia fizemos amor

Minha mão o facilitador

Parecia qu’eu tava no céu

Foi na sombra dum Jucá

Com uma jurema preta

Lá perto da barragem

Anotei na caderneta

Um pardal testemunhou

Aquele encontro de amor

Que foi mais que perfeita

Quando mãe o procurou

Achou que tinha perdido

E eu muito feliz da vida

Fiquei fora de perigo

De ser o grande suspeito

Num sabia menti direito

Se dissessem tá comigo

Guardei mais que guardado

Como fosse um tesouro

Aquele pequeno calendário

Valia mais do que ouro

Mais que dez pães francês

Sou sincero a vocês

Mais que dois mil touros

Nosso lindo amor cresceu

Depois que eu a raptei

Todo dia quatro vezes

A esse amor me entreguei

As mãos já tinham calos

E os frutos pelo ralo

Por vezes os abandonei

Meu senhor aquela mulher

Só podia ser divina

Tinha corpo de ninfa

E o rosto de menina

E na minha imaginação

Fazia amor com paixão

E essa era nossa sina

O banheiro foi o palco

Dessa paixão desenfreada

Eram quatro banhos por dia

Mãe tava desconfiada

Um grudento como eu

Como bem me conheceu

Tá tendo coisa errada

Jogar bola num ia mais

Banho de açude nem pensar

Também fojo e os quixós

Num queria mais nem armar

Até que ia pra escola

Mas o bicho na sacola

E no recreio ia admirar

As notas foram baixando

E ninguém podia entender

Eu fui ficando mufino

E nem queria mais comer

As canelas bem fininhas

As carnes bem pouquinhas

E comecei a me tremer

Mãe dizia esse menino

Só pode tá doentinho

Deve ser mal olhado

Chega tá amarelinho

Só vive por ai deitado

Anda meio desconfiado

E só se arruma sozinho

Amigo tudo aqui tem fim

Um dia em banho demorado

Numa loucura de amor

Estava eu fascinado

Com o calendário na mão

A outra na movimentação

E antes de ter terminado

Mãe entrou e me pegou

Nessa triste situação

E tomou o calendário

Que tava em minha mão

Deu-me uma pisa de corda

Que as cicatrizes recorda

Essa incômoda situação

E furiosa e com a raiva

De mil sogras enciumadas

Rasgou todo em pedaços

E eu vi a minha amada

Destruída em minha frente

E isso dói demais na gente

Que não pode fazer nada

O calendário ela queimou

Num foguinho de carvão

Minhas lágrimas desciam

Que partia o coração

Vi minha amada queimar

E em fumaça se tornar

E nem tive uma reação

A fumaça eu respirei

Toda pra dentro de mim

Ficamos num só corpo

E isso não foi tão ruim

E agora expiro paixão

Levo-a no meu coração

Essa tragédia não foi o fim

Hoje amo uma de verdade

Que tem gosto, cheiro e cor

Da que foi sem dúvida

O meu inesquecível amor

Com ela vivo aquela paixão

Que trago no coração

Que sofreu tamanha dor

Lino Sapo
Enviado por Lino Sapo em 24/08/2015
Reeditado em 14/10/2016
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