VERBOS EM VERSO

Um dia, pensei comigo

Deixarei de ser poeta

E a frase mais correta

Que direi a um amigo

È que tive por castigo

A rima tão companheira

Subi e desci ladeira

Com um verso em meu peito

E sempre que tinha jeito

Abraçava o violão

Entoava uma canção

Dava um mote perfeito

Procurei por tanta gente

Que não quis me procurar

Nem se quer quis escutar

A minha loa plangente

Com jeito bem “agrestente”

Eu disse: sou cantador

Me escute por favor

O meu verso sertanejo

Parece ter um lampejo

Do grito de Lampião

Isso é coisa do sertão

Tudo que olho a rima vejo

Mas eu cá fico calado

Vendo versos avoar

Muita gente prosear

Mas estão bem ocupado

De ouvir o meu recado

O meu modo de cantar

A rima pode ser torta

Mas pretendo consertar

E se assim ela torar

A estrada fica comprida

Mas guardo na minha lida

A vontade de “amostrar”

São cantantes os meus versos

Turvos são os meus recados

Se deixo alguns avexados

Vuando noutros universos

Como nos gestos reversos

Estendo a minha desculpa

Da alma que guarda a culpa

Do verso de um trovador

Um violeiro cantador

Das modinhas do sertão

Cantadas com o coração

Versadas com muito amor

Assim sou nobre Brasil

Um filho deste torrão

Cuja bela profissão

È ser um tanto arredio

Mas com amor bem varonil

Debulhando a rimagem

Retratando em mensagem

Para muitos escutar

A trova que vou cantar

Em verso rima ou loa

Creia que não é a toa

Minha maneira de versar

Não nasci pra puxar saco

De fala da puta nenhum

Não sou de tal tum tum tum

Sou forte pra não ser fraco

Fundura é pouco buraco

Cara feia pra mim é fome

Carlos Silva é meu nome

Sou paulista abaianado

Canto xote e xaxado

Fui criado no agreste

Sou também cabra da peste

Sujeito bem despachado

E quem não gostar de mim

Nada eu poderei fazer

Trate então de viver

Vá plantar noutro jardim

Pois meu verso é assim

Não exprime falsidade

Sou matuto na cidade

Cantador e cordelista

Trago n’alma de artista

A prosa do cantador

Aluno e não professor

Mas de cunho realista

Sou do mangue e da favela

Do asfalto e do torrão

Piso firme nesse chão

Inventando aquarela

Pois a vida é tão bela

Fellini Assim afirmou

A real ele mostrou

No mundo da fantasia

Despejar a alegria

Esquecendo a maldade

Que o Homem por crueldade

Tanto praticou um dia

Piso forte nesse chão

Pois sei que ele é meu

Meu verso não se rendeu

Nem em troca de um pão

Já convivi com ladrão

Que queria me roubar

Cansei de acreditar

Em promessa deslavada

Hoje sigo minha estrada

Com a fé no Deus divino

Mas ainda sou menino

Seguindo minha jornada

Já usei terno e gravata

Tentando sobreviver

Sufoquei-me pra valer

No meio daquela nata

Mediocridade chata

Em busca do tal salario

Que oprime o Proletário

Impedindo-o de pensar

Muitos para comandar

Estes nossos curtos passos

Em meio aos embaraços

Resolvi me libertar

E por aqui vou ficando

Sem causar constrangimento

Não gosto de fingimento

Quero estar colaborando

E assim eu vou trovando

Com respeito e com verdade

Quem gosta de falsidade

È morto que não tem vida

È fraco podre na lida

Não diga que é poeta

Tua língua é a seta

Da rima podre e perdida

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 22/05/2015
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