*A SECA!!!

A SECA!!!

A seca assola e castiga

O solo do meu sertão,

Acauã solta seu grito

E está calado o carão,

Enquanto isso a cigarra

Buzina fazendo farra,

Satisfeita com o verão.

É grande a desolação

Pra o sertanejo insistente,

Que martela em conviver,

Na seca brava e inclemente,

Que incomoda e angustia,

Já que o chão ao meio dia,

Chega a tremer de tão quente.

Quase que nenhum vivente

Habita mais no lugar,

Mas tem sertanejo forte,

Que dali não quer migrar,

Mesmo com a seca medonha,

Ele fica, e sequer sonha,

Da terrinha se afastar.

É triste a gente avistar

Um boi caído penando,

Por consequência da seca,

E o urubu esperando,

Que o desfecho se faça,

E assim mais uma carcaça,

Breve estará devorando.

É bem lamentável quando

Está vazia a lagoa,

Ou a seca invade a fonte

Que fornecia água boa;

A esperança se encerra,

Quando o pináculo da serra,

De manhã não tem garoa.

Se no campo não entoa

Mais o cancão e o concriz,

Nem se escuta no baixio,

O canto do cordoniz,

Vê-se da seca o efeito,

Essa dor machuca o peito,

E deixa o povo infeliz.

Mas, uma força motriz,

Alimenta o sertanejo,

A fé em Deus lhe encoraja,

Pra que aspire seu desejo,

Mesmo a seca sendo intensa,

Vai suportar e não pensa

Deixar o seu lugarejo.

Já não se escuta o solfejo

Do sabiá laranjeira,

O rouxinol saltitante,

Não se aninha na biqueira;

Por entre os vazios ranchos,

A seca queima os garranchos,

Que restam na capoeira.

Até mesmo a lavandeira

Não se ver mais na campina,

O gavião foi embora,

Porque a seca ferina,

Modificou sua vida;

Pois falta água e comida

Pra essa ave de rapina.

Para enfrentar a rotina

Da seca na região,

O camponês se prepara,

Com lata, pote, e galão,

Na estiagem sem tréguas,

Caminha por várias léguas,

Em busca de solução.

Quando encontra um cacimbão

Não hesita e nem vacila,

Aguarda com paciência,

Enfadado até cochila;

A seca trouxe o flagelo,

E ele, é só mais um elo,

Na corrente dessa fila.

A pobre mãe intranquila

Lamenta desanimada,

É a fome importunando,

O “bucho” da filharada,

A seca lhe contraria;

E a panela está vazia,

Lá no jirau, emborcada.

As quatro da madrugada

O campônio está de pé,

É a seca que lhe obriga

Caminhar com muita fé

Em busca de suprimento;

Uma opção de alimento

É o coco catolé.

A pesca com jereré

Por hora está dispensada,

O açude está sem água,

A lagoa esturricada;

Os tamanhos sacrifícios,

Mostra os terríveis resquícios

Da seca ingrata e malvada.

A mão rude e calejada

Do homem pobre da roça,

Guarda as sequelas da seca,

E a situação engrossa

Assim que a comida some,

E o fantasma da fome

Invade a sua palhoça.

Com a seca não há quem possa

Ser feliz um só momento;

Porque só gera tristeza,

Amargura e desalento,

Quando ela assume a rédea

Transforma a vida em tragédia,

Amargura e sofrimento.

Carlos Aires 07/04/2014