NA FEIRA DE ITABAIANA VI, com Fábio Mozart e Sander Lee
A primeira série de sextilhas é do poeta Fábio Mozart e a segunda série é minha. No meu caso particular, não sou muito cronológico na construção do poema. Se o negócio é voar, dou asas à imaginação e findo por colocar numa mesma sextilha a barraca de Índio, que é uma figura da minha adolescência, com Baeta e Diaba, que são dois meninos de rua da minha infância, que aterrorizavam os meninos vendedores de amendoim.
Para reviver o mictório fétido, que foi derrubado juntamente com o antigo mercado, senti náuseas; para reviver o glamour do cinema, voltei a me encantar com os lábios de Sophia e com os olhos de Brigitte; senti o cheio da cera de sapato, para ouvir a oralidade de Adauto Elias Cavalcante e gozei a catarse dos tiros de Steffen, porque nessas pelejas com o Mozart não tenho me valido muito do eu lírico, tenho é exagerado na vivência dos verdes anos.
Alguém que não viveu em Itabaiana certamente não entenderá, mas quem por lá palmilhou, talvez se pergunte por que Topada explorava um bordel durante todo o ano, mas na sexta-feira da Paixão, colocava a radiola na calçada do cabaré, tocando a história de Jesus.
SEXTILHAS DE FÁBIO MOART
A urupema e gamela
Simbolizando o mangaio
Marca maior dessa feira
Junto com couro e balaio
Com o mercadão do sexo
Na Rua 13 de Maio.
A memória, como um raio,
Leva à cena social
Dessa feira nordestina
Sua arte artesanal
Sua origem econômica
E cultura sem igual.
Começou com um curral
Antiga feira de gado
Da Itabayanna de então
Um simplório povoado
Às margens do Paraíba
Ficava localizado
No caminho do roçado
Para o brejo e o sertão
Dos vaqueiros tangerinos
Na longa penetração
Desse gado pioneiro
Para aquela região.
Dessa aglomeração
Surgiu este povoado
Nas margens de um bom rio
Matando a sede do gado
Florescendo uma aldeia
Como humilde arruado.
Depois do tempo passado
Desde a Missão do Pilar
Como nos conta a História
E cultura do lugar
Foi se formando esta feira
Que veio bonificar
O progresso do lugar
Com a sua economia
Onde vultosos negócios
Eram feitos todo dia
Sendo que na terça-feira
Chegava a mercadoria
Do varejo e hospedaria
Era aberta ao visitante
Que jogava seu dinheiro
Nesse meio circulante
Causando grande progresso
Essa riqueza abundante.
Economia arrogante
Dos reis do gado vacum
Que acendiam charutos
Ostentação incomum
Com notas de cem mil réis
Sem obséquio nenhum.
De batata a jerimum,
Carne seca, mel e fava,
Até panela de barro
Que o povo fabricava,
O comércio prosperou
Entre aquela gente brava.
Enquanto o gado desbrava
Criando prosperidade
Já a civilização
Chegava nesta cidade
Com jornais, livros, escolas
Dando notoriedade
Fábio Mozart
SEXTILHAS DE SANDER LEE
Falo da sociedade
Na sua idade madura
A loja de Saturnino
Tinha grande estrutura
E no tempo de Nabor
Se conhecia fartura
Pecuária, agricultura,
Oriundas do lugar
Preenchiam o mercado
Suscitavam lupanar
Dinheiro corria a rodo
Diz Adauto (ao engraxar)
O sino a badalar
Anunciando a hora
D. Amélia no mercado
Buscando a sua melhora
Bacalhau, carne de charque,
Embrulhava sem demora
Petronilo vende a tora
Para o palco circense
Dr. Washington ouvindo
Uma valsa vienense
Arnaud Costa estudando
Velha prática forense
Topada quase convence
Com o disco da Paixão
Zé de Joca passa hébrio
Dirigindo o caminhão
E a D. Menininha
Ensina e vende Caixão
E toda fascinação
Vinha do Cine ideal
Anthony Steffen dispara
Com mira fenomenal
Vejo em Ennio Morricone
Maestro sensacional
Sophia Loren é real
À cobiça do menino
E a Brigittte Bardot
Faz do mundo feminino
Um céu nascendo na terra
Aguçando o meu tino
Lá vem seu Mané de Tino
Atrás de Artur Fumaça
A Barraca da Verdade
Cujo cerne é fazer graça
Baeta dá em Diaba
Uma pisa em plena praça
Zé Maria chama Graça
Para ajudar no cartório
Seu Silva impede Maurício
Reis ficar no dormitório
De lê o Israelzinho
Foi parar no sanatório
Pra que esse mictório
Perto da Delegacia?
Desmerece a cidade
E afasta a freguesia
Assim, Jair e Jaíde
Vão mudar a Drogaria
Vem o mágico Alegria
Tirar dinheiro da planta
Galinha de capoeira
Com inhame para a janta
Agora lembro Aderlindo
Bebendo whisky com fanta
A saudade agiganta
Toda essa minha memória
Não sigo a cronologia
Para contar a história
Vou oscilando entre os tempos
Sem a formal divisória
Ainda lembro a vitória,
Quando doze anos tinha,
De Batista Santiago
Que em cima do Jeep vinha
Como quem diz para o povo
Agora a ordem é minha
Itabaiana, a Rainha,
Que teve jornal diário
Atraía, certamente,
Quem tinha ardor literário
Mas ofertava também
O sal do seu balneário...
Sander Lee