NA FEIRA DE ITABAIANA V, com Fábio Mozart e Sander Lee
A broa, (que gostosura!)
O bolinho e o sequilho
De Antonio Felizardo
Manjares feitos de milho
Da culinária famosa
Passando de pai pra filho.
Era de se ver o brilho
Da feira hoje afamada,
Começava na segunda-feira
E varava a madrugada.
Na feira tinha de tudo
Pra gáudio da matutada.
Atravessava a cidade
Até às margens do rio,
Saindo da linha férrea
No inverno ou no estio,
Com sortimento abrangente
De candeeiro a pavio.
De feijão, de rapadura,
Sapato, roupa e colchão,
Fritas, legumes, arreios,
Mangaio, sela, gibão,
Tinha até freio pra gato
Como reza a tradição.
Até bainha pra foice
Se encontrava na feira.
Arroz doce de Luzia,
Essa afamada doceira,
Manjar da rapaziada,
Da culinária era esteira.
O bolo de seu Felipe,
O famoso requeijão,
Ficaram muito famosos
No mercado de então.
Tinha o picado de porco
Com lapada de quentão.
Uma outra tradição:
Carne torrada e toucinho,
Galinha de cabidela
Acompanhada de vinho
De caju ou jururbeba.
E o paletó de linho
Era a roupa predileta
Dos notáveis do lugar
Que, dizem, queimavam cédulas
De cem réis no lupanar,
Demonstração de riqueza
Do profano secular.
Fábio Mozart
***
Já eu costumo dizer
Que pobre não passa fome
Na Feira de Itabaiana
Com pouco dinheiro come
Macaxeira e batata
Por isso honro o seu nome
Nego enche o abdome
Naquele cair da tarde
Porque tudo entra “no queima”
E o preço baixo arde
Quando o homem pobre compra
Sua “feira” sem alarde
De fato não é covarde
A Feira da minha terra
Pela mão do agricultor
Desce o produto da serra
Milho, farinha, beiju
E a triste fome soterra
O bom cabrito não berra
Diz o dito popular
Mas o povo da caatinga
Tem na arte de falar
Sua grande valentia
É o jeito de abalroar
O poeta popular
Faz do verso a sua arma
Cabra forte, sem frescura,
Que desconhece o carma
Cada folheto que canta
A dor do povo desarma
A sua arte alarma
Prospectando cliente
Vai-se fazendo uma roda:
Gente ruim, gente decente,
Menino, velho, doutor,
Ateu, anarquista e crente
Seu cantar emoliente
Amolece o coração
Vai tocando cada alma
Aquela doce canção
Um circunstante decora
Um verso pra sedução
Depois eu volto a visão
Para a Feira de fato
Como é que coisa tão feia
Faz delicioso prato
Se juntar à fava branca
Abro a boca e dou um “trato!”
Minha origem é o mato
Ainda lendo Rousseau
E pra quem torce o nariz
Uma banana eu dou
Em Itabaiana é assim:
Se bateu, cabra, levou!
Sei que saudoso estou
Da minha terra tão bela
Aonde o bem-te-vi
Roubou a tinta amarela
Pra enfeitar sua roupa
E completar minha tela...
Sander Lee