NA FEIRA DE ITABAIANA IV - Fábio Mozart e Sander Lee
Essas lembranças da feira
No meu coração sensível
De alma triste e dolorida
Quase queimando o fusível
Desse trovador barato
Falando do impossível
Que é o pensar plausível
Do poeta de Assaré:
Prefeito sem prefeitura,
Isso impossível é;
Prefeitura sem prefeito,
Isso é verdade e dou fé.
Naquele tempo de Zé
Silveira e outros troianos,
A cidade, alvo de inveja
Dos irmãos pernambucanos,
Brilhava como Rainha
Conjeturando seus planos
De crescer todos os anos
No progresso social.
Criou raiz nessa terra,
Infelizmente, o mal.
Ganância e putrefação
Em virulência fatal.
É fim de feira, afinal,
O que se vê na cidade.
É rio fora do leito,
Desrespeito, crueldade.
E por capricho da sorte,
Vem tudo em duplicidade.
Quatro anos de maldade
É pouco, botam mais quatro.
Portanto, Itabaiana
Vai virando esse teatro
De cidade abandonada
Que assim mesmo idolatro.
Vive nesse anfiteatro,
Sempre humilde e paciente,
O meu irmão conterrâneo,
Uma beleza de gente,
Criativa, sonhadora,
Mas, infelizmente, crente
Em promessa renitente
De liderança fingida
Que vai pra feira comprar
Consciência amortecida
Por qualquer quatro tostões
O futuro delapida.
A juventude perdida
Na droga e alienação
Quer conectividade,
Acesso à educação,
Banda larga de justiça,
Tecnologia e pão.
Mas voltemos à visão
Da feira de Itabaiana
Que foi tese de mestrado
Em geografia humana
Na USP lá de São Paulo
Em tese provinciana
Que nossa lide explana
Nessa Pós-Graduação
De Eduardo Pazera,
Um mestre em educação,
Doutor em geografia
Que nos deixa uma lição
Sobre a socialização
Dessa feira nordestina,
Pois não é só compra e venda,
Conforme ele mesmo ensina,
Local privilegiado
Em relação cristalina.
Fábio Mozart
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Meu pensamento atina
Para uma briga na feira
No “Remanso do Luar”
Na ponta de uma peixeira
O escritor Reginaldo
Conta-nos dessa maneira
Na ala da macaxeira
Zé Carlos ficava olhando
As mulheres se abaixarem
O produto observando
Quando a saia levantava
Suas calcinhas mostrando
Agora estou lembrando
Da Pomada milagrosa
A banha do Peixe Boi
Da ferida perigosa
Ao trauma psicológico
Que cura maravilhosa!
Uma cota caridosa
Seu João da Juventude
Para o Abrigo dos Velhos
Pedia com atitude
E a sacola enchia
Dizendo: “Deus lhe ajude!”
A memória não me ilude
A feira era uma festa
E no grande “Shopping Center”
Aquela gente honesta
Ali comprava de tudo
Numa ação imodesta
O pensamento me presta
Auxílio fenomenal
Ao ver Monsenhor Miranda
Fumando Continental
Revólver sob a batina
Aquele padre era o tal!
Muita cantoria havia
Na Feira do Bacurau
Os cantadores bebendo
Papuda com bacalhau
Haja prosa e poesia!
Parnaso de alto grau!
Também tinha o lado mau
Acorria o ladrão
Para vender os seus furtos
Na feira de troca, então
Quando a polícia passava
Era pau com as “duas mão”
Caminhão mais caminhão
Ali chegava de tuia
Os matutos assentados
Numa grade de imbuia
E o “quilo” da farinha
Era medido na cuia
O povo diz aleluia
Olhando tanta fartura
Uma colcha de retalho
Formava aquela estrutura
Ainda bem que a feira
É o fomento da cultura!
Sander Lee