*REMEMORAÇÕES EM SEXTILHAS!!!
REMEMORAÇÕES EM SEXTILHAS!!!
Vasculhando meu passado
Busquei rememorações
Pelas trilhas da saudade
Procurando sugestões
Nas antigas paisagens
Das plagas dos meus rincões.
Voltei naqueles sertões
De onde vivo a distância,
Pra visitar novamente
Aquela querida estância,
Lugar em que fui nascido
E ali vivi minha infância.
Senti no peito uma ânsia,
Por não ver mais a porteira,
A casa velha de alpendre,
Os currais nem a cocheira,
Onde eu cuidava do gado,
Sem que sentisse canseira.
Também aquela aroeira
Que ficava na estrada,
Sofreu as ações do tempo
Dela não resta mais nada
Antes serviu de descanso
E sombra para a boiada.
A cacimba da baixada
Bem no sopé da colina,
As baraúnas frondosas
Em meio a vasta campina,
Onde os saguins logo cedo
Vinham procurar resina.
Lembro as aves de rapina,
Gaviões e carcarás,
Assim como das raposas
E gatos maracajás,
Persegindo nas caatingas
Os pequeninos preás.
Uma casinha por trás
Da encosta do outeiro
E nela quem habitava
Era o zeloso vaqueiro
Na frente da mesma tinha
Um frondoso juazeiro.
Relembrei do cajueiro
No declive da montanha
Eu conduzindo um balaio
Com alegria tamanha
Pra colher caju maduro
Além de boa castanha.
De cada casa de aranha
Orvalhada e muito bela
De longe eu observava
Porém com toda cautela
Pra que não danificasse
A formosura da tela.
Recordei a minha sela
E o meu cavalo alazão
Aquela corda de couro
Que eu laçava o “barbatão”
Também evoco as perneiras
Chapéu de couro e gibão.
O pé de manjericão
No aceiro do terreiro,
Do galo de tardezinha
Subindo para o poleiro,
Mamãe a boca-da-noite
Acendendo o candeeiro.
Chego até sentir o cheiro
Da flor do jasmim de cera
Do melão de São Caitano
Enramar na cerca inteira
De curar dor de barriga
Com chá de erva cidreira.
De quando lá na biqueira
A lata era colocada
No claro do relampejo
No soar da trovoada
Na espera pela água
Nova, pra ser aparada.
Ainda de madrugada
O meu pai se levantava
Punha água na chaleira
E um bom café preparava
Era torrado no caco
E no pilão que pilava.
Inda me lembro da fava
Cozinhada com toucinho,
De comer uma buchada
Com uma dose de vinho.
Do bacurau saltitando
A noite pelo caminho.
Como se fosse um espinho
A saudade dói demais
Ao recordar minha vida
Vivida nos carrascais
Junto com as manas e o mano
Ao lado dos nossos pais.
Carlos Aires 23/08/2014