A Mentira
Verdade que não gosto de mentira,
É mentira que não amo a verdade,
Mulher mente escondendo a própria idade,
O peixeiro no quilo da traíra,
Ainda mente o avalista de safira,
O adúltero confessa lealdade,
Mente tanto o prefeito da cidade,
Mente o historiador com sua história,
Mente o conspirador quando conspira,
Também mente o orador em oratória.
Mente o saci, mãe d’água e o curupira,
Mente a galinha quando cacareja,
O pastor sobre a “grana” da igreja,
Até o diplomata e o caipira,
Também mente o vampiro pra vampira,
Mente o corretor onde quer que esteja,
Mente o garçom na conta da cerveja,
E a moça ao padre esconde seu pecado,
O atrabiliário mente e esconde a ira,
Mente o juiz, a puta e o delegado.
Do patrão o vaqueiro esconde o gado,
Mente o Ministro sobre a inflação,
Mente o pintor, o médico e o ladrão,
Mais que todos mente o advogado,
Mente o camelô pra livrar seu lado,
Também o pescador por vocação,
Mente o contribuinte pro leão,
O covarde, o afoito e o prudente,
O soldado o sargento e o capelão,
A verdade só eu no meu repente.
Mente o governador de nosso Estado,
Ludibria quem diz ter felicidade,
Também mente qualquer autoridade,
Mente quem compõe tango, samba ou fado,
Mente tanto o menino de recado,
Também mente quem faz publicidade,
Mente o abade, o gari e a majestade,
Desconfio da clepsidra e da ampulheta,
Mente o feirante dentro do mercado,
Só não mente meu punho na caneta.