*NAS ENCOSTAS DA MONTANHA!!!

NAS ENCOSTAS DA MONTANHA!!!

Uma montanha imponente

Que chega arranhava o céu

Lá naquele mundaréu

Onde havia pouca gente

Eu lembro que antigamente

Tinha cada coisa estranha

Cobra, mangangá, aranha

E o que nem se imaginava

Se procurasse encontrava

Nas encostas da montanha!

Tinha cobras de cipó,

Peba, punaré, preá

Tacaca, tamanduá

Maracajá e mocó,

Papa-vento, procotó,

Em quantidade tamanha

Até lontra e ariranha

Tinha naquele riacho,

Que descia serra abaixo

Nas encostas da montanha!

Tinha o nambu, a perdiz,

Guriatã, azulão,

Craúna, xexéu, cancão

Papa-capim e concriz.

Tinha capim de raiz

Caju maduro, castanha

Arapuá, que se assanha

Ao som de qualquer barulho

Cupim, formiga e gorgulho

Nas encostas da montanha!

Tinha raposa, cutia,

Camaleão e gambá,

Saguim e lobo-guará,

Rã, sapo, calango, jia,

Lagartixa que subia

Na rocha, com sua manha.

Morcego que na entranha

Da loca vive entocado

Gato-do-mato e veado

Nas encostas da montanha!

Laranja, jabuticaba

Maracujá e banana

Mandioca, milho, cana,

Coco catolé, mangaba,

Lima, limão e goiaba,

Café no ponto de apanha,

Tanajuras, que na banha

Assada, o povo comia.

Jerimum e melancia

Nas encostas da montanha!

Cortiços de uruçus

Nos ocos das umburanas

Jararacas, caninanas,

Caranguejeiras, teiús

Gaviões e urubus

Lagarta que se emaranha

No casulo, e da façanha

Surge a bela borboleta

Pra beijar a violeta

Nas encostas da montanha!

Pau-carrasco e aroeira,

Jucá, baraúna, angico.

Capim santo, grão-de-bico,

Mastruz e erva cidreira,

Urtiga, carrapateira,

Furões com sua artimanha,

Traíra, cará, piranha,

Tinha num pequeno açude

Mesmo naquela altitude

Nas encostas da montanha!

Em meio ao mato fechado

Tinha um boi grande e valente

Que de um jeito diferente

Vivia muito isolado.

Um dia, foi emboscado.

Foi morto, e daquela sanha,

Filé, churrasco e picanha,

Pimenta com pirão quente

Regado a muita aguardente

Nas encostas da montanha!

Carlos Aires

12/11/2013