*AS VOLTAS QUE O MUNDO DAR!!!
UMA HISTORIA REAL!!!
Esse “Causo” conta uma historia real da qual eu fui testemunha ocular, o personagem central Antonio Capitulino
Mais conhecido por “Antonhe Capito” existiu e os acontecimentos narrados pelo poeta foram reais, as pessoas mais idosas do Sítio Frutuoso com certeza conheceram e vai lembrar-se de Antnhe Capito.
AS VOLTAS QUE O MUNDO DAR!!!
O mundo dar muitas voltas
E nos giros que o mundo dar
Entre tantas viravoltas
Deixa historia pra contar.
Essa não é de Trancoso.
E se deu em Frutuoso
Meu Pé-de-Serra bonito
De onde sou oriundo
E foi nesse fim de mundo
Que viveu “Antonhe Capito”
Porém no seu documento
Era Antonio Capitulino
Que nunca foi corpulento
Sempre raquítico franzino
Estatura mediana
Gostava de tomar “cana”
Desde o tempo de criança
Dotado de um apetite
Desses que não tem limite
Igual o esmeril da França.
Foi um bom trabalhador
No roçado ou na cocheira
Mas, mostrava seu valor
Quando cortava madeira.
Muito desembaraçado
No manejo do machado
Tinha a força de Sansão.
Quando não estava ocupado
A trabalhar de alugado
Vivia a fazer carvão.
Certo dia eu com Antonio
Ajustei um compromisso
E por saber que o campônio
Era bom pra meu serviço
Dei-lhe a chance inesperada
Ele bateu a enxada
E ainda bem sonolento
O roceiro da mão grossa
Se encaminhou lá pra roça
Mas, não deu bom rendimento.
E aquela estranha atitude
Eu notei rapidamente
Falei: estás com saúde
Antonio! Ou estás doente?
Ele já desfigurado
Ficou me olhando de lado.
Insisti, fala o que é!
Num tom langoroso e frio
Disse, é que saco vazio
Não pode ficar de pé.
Logo notei que a doença
De Antonio, tinha um nome
E passei a lhe dar crença
Pois conheci que era a fome
Que o deixou desanimado
Tive pena do coitado
Naquela situação
Diante a tal ocorrência
Eu fui tomar providência
Pra uma farta refeição.
Mamãe com sua bondade
Colocou num alguidar
Leite e cuscuz a vontade
Pra ele bem se fartar.
Ele comeu, descansou
Daí a pouco voltou
De novo lá pra o roçado
Eu notei na mesma hora
Ao invés de obter melhora!
“Antonhe” tinha piorado.
Eu indaguei, e agora
O que é que está errado
A fome já foi embora
Tu estás alimentado
Eu insisti, e então!
Dê-me uma explicação
Porque não quer trabalhar!
Ele falou sem receio
É que um saco muito cheio
Não consegue se envergar.
Terminei me convencendo
E achando que estava certo
Foi sincero esclarecendo
Num jogo limpo e aberto
Que a fome só atrapalha
Com ela ninguém trabalha
Por ficar debilitado.
O que tem barriga cheia
O sangue corre na veia
E obtém bom resultado.
Certa vez ele chegou
Lá na feira de Ameixas
Sem demora começou
A fazer algumas queixas
Falou com sinceridade.
Estou com necessidade
Sem comer a vários dias
Pois em casa nada tem.
Isso foi no armazém
Do velho amigo, Matias.
Matias que a cada feira
Sempre matava um suíno
Ao ouvir a choradeira
De Antonio Capitulino
Afirmou em tons tranquilos
Se você comer dois quilos
Dessa carne bem guizada
Da papada só gordura
Com farinha por mistura
Eu não vou lhe cobrar nada
Mas tem que comer todinho
Senão eu cobro dobrado
Se ficar só um pouquinho.
Ele disse tá fechado
Pode mandar cozinhar
Que eu vou logo me ajeitar
Lá no sombreiro da praça
Eu posso até me lascar
Porém não vou enjeitar
Tanta comida de graça
A carne foi cozinhada
Até ficar bem molinha
E nela foi colocada
Uns três quilos de farinha
De mandioca, da pura
E ao fazer a mistura
Na banha, chega chiava
Por ser gorda e está quente.
A praça se encheu de gente
Só pra ver isso em que dava.
Ele sentou-se no chão
Começou a mastigar
Fazendo bolo com a mão
Para melhor degustar
Aos poucos foi comendo
E o povo todo dizendo
Tu vai perder a parada
Sereno, calmo e sisudo
Terminou comendo tudo
Da carne, não sobrou nada.
Ainda ficou se lambendo
Depois que a carne acabou-se
Quando ouviu alguém dizendo
Pago uma lata de doce
Pra fazer a sobremesa
E assumo essa despesa
Sem guardar rancor nem mágoa
Antonio sem alvoroço
Disse, traga o doce, moço
E também dois litros d’água
E desses ingredientes
Ligeiro fez o consumo
Esse fato é evidente
Assino embaixo e assumo
Sem sequer titubear.
Sou testemunha ocular
De tudo que aqui foi dito
E sem por nem retirar
Eu acabei de contar
A historia de “Antonhe Capito”
Carlos Aires
18/08/2013