Jesus o Judas e Eu

Pode parecer mentira

Mai é verdade e pura

Faz tempo mai me alembro

Dos detalhes da lesura

Era eu um frangotinho

Um ispeto de finura

Na cachoeira do sapo

Alegria era muito difiço

Qualquer coisa animada

A gente fazia ribuliço

Seja debuiando feijão

Ou preparano choriço

Festa só na semana santa

Todo mundo a isperar

Uns pedia bença aos padim

Outros galinha iam roubar

Cunzinhava a meia noite

Prumode cum cana tomar

Mai o mior disso tudo

Era o Judas puder judiar

Dar-lhe um samba de pau

Inté a roupa rasgar

Dispindunrar num poste

Cuma corda a inforcar

Eu tinha oito anos

No ano de oitenta e nove

Criado na vista da mãe

Há inda quem comprove

Só saia se fosse cum ela

Isso inda me comove

A boca da noite eu drumia

Logo após o jantar

Matutando em minha rede

Que ficava a balançar

Cum os pés na parede

Indo pra lá e pra cá

Nos domingo de manhazinha

No catecismo ia estudar

E a primeira comunhão

Dois anos sem realizar

Devido as dificuldade

Queu vivia a passar

Mai aprendi direitinho

O que o padre ia preguntar

Tava cum toda resposta

Mai a roupa num pude comprar

Calça, camisa nem o sapato

Tombém ninguém quis imprestar

No catecismo eu aprendi

Sobre a vida de Jesus

Um caba muito bom

Que foi pregado na cruz

Uma bicha muito pesada

Que no lombo ele conduz

O homi era abençuado

Só insinou o que era bom

Andou pelo mundo a fora

Sem nunca sair do tom

Deu peixe, pão até vinho

Mai curar foi o grande dom

E devido um severgonho

Em troca duns trocados

Cometeu a maior traição

Inda beijano o iluminado

Entregou Jesus prus romanos

Um povo rim danado

Esse caba safado

Era da turma de Jesus

Dizia ser caba honesto

Gente boa, de paz, de luz

Mai pur trinta prata

O vendeu como cuscuz

O nome do bixiguento

Era Judas do chicote

Se não falha a memória

Ou era Judas do caçote

Sei que começava cum judas

E terminava com ote

adispois que vendeu Jesus

De disgosto se inforcou

E as muedas que recebeu

O danado nem gastou

Morreu duas vezes covarde

Traino quem tanto o ensinou

Hoje na semana santa

Essa histora é lembrada

Do sofrimento de Jesus

Do tamanho da marmelada

Do Judas ganancioso

Da traição planejada

Purisso que todo ano

Um Judas de pano se faz

Meia noite da sexta feira

A peia come voraz

O Judas apanha tanto

Sem pristigio e sem cartaz

Aqui em Cachoeira do Sapo

È tradição todo ano fazer

Um Judas grande e pesado

Pra mode nós bater

Dar-lhe inté ficar em tiras

Pelas ruas a iscorrer

Era um sonho meu

A traição de Jesus vingar

Quebrar Judas no cacete

Cacetalo inté cansar

De bufete e ponta pé

Inté de cama ele ficar

Mai como eu sabia

Isso num é mai permitido

Já faz tempo, foi outra época

O momento do acuntecido

Mai juro como quiria

Quebrar os dentes do atrivido

Mai quem num tem cachorro

Cum gato pode caçar

Um Judas de pano pode

O verdadeiro representar

Entonce os murros nesse

Minha cede vai saciar

Filé era um caba daqui

Que Judas gostava de fazer

Entre uma dose e outra

Cumeçava o bicho cuser

Cum gancho de algaroba

Iniciava o proceder

O gancho era as pernas

Que tinha o mesmo tamanho

A outra parte ia inté a cabeça

Só os braços era laganhos

No tronco da cabeça um cabaço

E nem ficava estranho

Vistia uma camisa de manga

E uma calça cumprida

Nos pés um sapato veio

Inchido só cum imbira

As mão umas luvas veia

Amarrada cumas tira

A cabeça dum cabaço

Um boné pra infeitar

Ainda butava um cinto

Pra conseguir amarrar

È que de tanto pau e rama

O bicho ficava a estufar

Quando me contaram

Que Filé um Judas fez

Fiz carreira inté mãe

E pedi mai de mil vez

Pur favor deixe eu ver

Ela só disse talvez

Quando a noite chegou

Mai avoroçado eu fiquei

Dava murro na parede

E treinava no ispei

Os bufetes que ia dar

Partir o triste no mei

Seria uma chance única

De com Judas me acertar

Cobrar tin tin por tin

O que fez Jesus passar

Era hoje que Judas aprendia

Nunca mai trapacear

Num é que mãe permitiu

Deixou eu na rua ficar

Só inté bater no Judas

Adispois teria que vortar

Fiquei filiz e sorridente

E disse pode deixar

Na rua a ixpectativa

Me deixou ouriçado

Eu já mei cum sono

Mai de oios arregalado

As mãos já tava coçano

Pra bater no danado

A meninada turcia

Pru Judas aparecer

Tinha nego cum cacete

Outros quereno ismurecer

E eu todo animadim

Vou ser o primeiro a bater

Zé da cuia e mané

Niltão e Tião caçuar

Tava também paçoca

Luiz de tonha e preiá

Geraldin e bastião

Eu e Chico do juá

Quando agente oia

A peste vinha chegano

Filé agarrado cum Judas

Chega vinha trimilicano

A bexiguento pesado

Chega filé ta suspirano

Fiz carreira pra riba

E a turma acompanhar

Sapecaram Filé no chão

E no Judas pegue dar

Procurei o mior jeito

Pra uns tabefes acertar

Rapaz que azar da gota

Num sei cuma aconteceu

Rodaram o peste do Judas

Que chega me ensurdeceu

A bota foi no meu peduvido

Chega à vista iscureceu

Fiquei um pouco afastado

Tentando me recuperar

A ureia tava quente

E os zuvidos a assubiar

Ai foi que a raiva aumentou

Agora eu vou estraçalhar

A negrada meteram o pau

Chega a pueira cobria

Num vai ser puruma pezada

Quesse caba curria

Vou partir pra riba

Pru meio da pancadaria

Parti pra cima do Judas

Chega os oios chorava

Vi a cabeça do bicho

Que na minha direção tava

Butei toda força na mão

Dessa vez eu acertava

Ou murro bexinguento

Chega o cabaço quebrou

A mão ficou durmente

A cabeça se esbagaçou

Pegue Judas safado

Fie duma egua seu traidor

Parei mai uma vez

Cum minha mão a doer

Ou murro violento

Serviu pr´eu aprender

Quando o cabaço quebrou

Nem pude perceber

Acertei o tronco dalgaroba

Que a cabeça tava a sustentar

Dismiti os dois dedos

O indicador e o polegar

A dor da besta ruzia

Parei logo o espancar

Enquanto eu chorava

Cum a mão a balançar

Jogaram o Judas pra riba

Parecia que ia vuar

Caiu bem no meu espinhaço

E eu só fiz derriar

Na queda furei a testa

As costas só fez ralar

Inda teve uns engraçados

Eu e o Judas a arrastar

Pur mai de vinte metros

Só fartaram não sortar

Adispois do roçoi de peia

Eu tava todo quebrado

A mão e a ureia inchada

Sujo e todo rasgado

Mancando e cum vergonha

E o rosto ensangüentado

Fui pra casa intristecido

Sem nem querer falar

Quando cheguei im casa

Fui logo me deitar

Rezei baixinho e disse

Jesus perdoe meu fracassar

O Judas é um caningado

Num deu pr´eu me vingar

Apanhei feito um jumento

Nem sei se ainda vou escutar

Enquanto vida eu tiver

De Judas num quero falar

O senhor me perdoe

Prumode que fracassei

Num sabia qu´era assim

Mai agora eu sei

Quando se falar im Judas

Eu saio até do mei

Agora a semana santa

Só quero é descansar

Já faz ano mai alembro

Da pisa que fui levar

Dum Judas de pau e pano

Que só fartou mi matar

Quero comer bolo preto

Feijão verde cum galinha

Nem quero esse negócio

De dar uma olhadinha

Quem quiser dar que dê

Não é mais a minha

As cicatrizes inda tenho

E demorou cicatrizar

Enquanto eu viver

Pra sempre vou me lembrar

Da pisa que levei dum Judas

No intuito de me vingar

Lino-Sapo

Lino Sapo
Enviado por Lino Sapo em 27/05/2013
Reeditado em 28/05/2013
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