*A REZA DE ZÉ MADRUGA!! (causo)
A REZA DE ZÉ MADRUGA!!!
(causo)
Zé Madruga era um caboclo
Daquele rude e grosseiro
Tapado e analfabeto
Sem conhecer nem dinheiro.
Era um Jeca, um passa fome.
Sequer assinava o nome
Um Zé ninguém, um coitado.
Que só se tornou cristão
Por conta de Padre João
Que fez o seu batizado.
Padre João era o vigário
Da matriz de São Joaquim
O sacristão era um preto
Chamado Biu de Nezim
Cachaceiro depravado
Só vivia embriagado
De aguardente ou de cerveja
Mas quando o padre saia
Era ali que Biu se enchia
Com o vinho nobre da igreja
Dona Zumbinha Pereira
Junto com dona Luzia
Beatas bem conhecidas
Baratas de sacristia
Fiéis ao catolicismo
Ensinavam catecismo
Com muita dedicação
Cuidavam da criançada
Deixando-a bem preparada
Pra primeira comunhão
Aconselhavam Seu Biu
Para abandonar o vício
Ele dizia, eu não vou
Fazer esse sacrifício
Gosto de tomar cachaça
Portanto não há quem faça
Deixar, pois já sou freguês
Dessa “branquinha” brejeira
Não levo em conta a asneira
Do parecer de vocês.
E assim era aquela luta
De Luzia e de Zumbinha
Chegavam lá na matriz
Cedo, bem de manhãzinha
Passavam o dia implorando
E com um terço rezando
Envoltas num fino véu
Concentradas e entretidas
A busca de almas perdidas
Encaminhado-as pra o céu
Lembraram de Zé Madruga
Mandaram Biu ir chamar
Ele, pra vir a igreja
Afim de aprender orar
Zé ainda relutou
Porém depois disse eu vou
Cum ocê nesse lugar
Mode sabê o que é.
Elas disseram Seu Zé
Precisa se confessar!
Zé disse, eu, me cunfessá
Oxe Zumbinha vou não
Garanto que isso é coisa
De Seu Biu mais Padre João
E vocês duas qui atiça.
Eu nunca vim numa missa
E num é do meu agrado
Jueiar nos pé do vigáro
Lá no cunfissionáro
Mode contá meus pecado
Luzia disse mais Zé!
Por favor, não leve a mal
Nós vamos só lhe ensinar
Fazer o Pelo Sinal
E Zumbinha disse, eu posso
Lhe doutrinar o “Pai nosso”
Também a “Ave Maria”
O credo e a ladainha.
O terço e a “Salve Rainha”
É por conta de Luzia.
E Zé coçando a cabeça
Disse assim, vou aceitar
Zumbinha disse beleza
Então vamos começar!
Lá se vai dia e vem dia
Madruga nada aprendia
Na mais completa rudez
Na incansável peleja
A frequentar a igreja
Já havia mais de um mês
Todos já muito cansados
Padre João, Biu de Nezim
Luzia Dona Zumbinha
Estavam quase no fim
Da paciência e coragem.
E praquela aprendizagem
Diziam, Zé te prepara!
Madruga desanimado
Diz: sei o palavreado
Difícil é espalhar na cara
Houve outras tentativas
Porém Zé nada aprendeu
Padre João desistiu
Dona Zumbinha morreu
Luzia até virou crente
Biu, vive inchado e doente
De tanto bebericar
Zé Madruga ficou velho
Sem seguir o evangelho
E sem aprender rezar.
E o que Zé não conseguiu
Vou explicar afinal
Foi organizar as cruzes
Que tem o “Pelo Sinal”
A reza antiga e modesta
Que tem início na testa
Vai descendo até o peito
Ao som de uma oração
Madruga tentou, mas não
Pôde obter esse feito.
Carlos Aires 17/05/2013