SÚBITA PARTIDA
A tarde é sublime e bela
Lá está ele a espera dela
Muita goma na lapela
Com uma flor amarela
Sobe os degraus da capela
Ansioso ele olha a rua
E por mais que se construa
A fé e a esperança crua
Mais há uma verdade nua
Nem que a espera o destrua
Continua a esperar
Más ela não vai chegar
Testemunhas no altar
A platéia a murmurar
E a mãe começa a chorar
A esperança se esvaindo
Tenta disfarçar sorrindo
A angústia que está sentindo
Coração quase explodindo
Planos que agora são findos
A noiva não vai chegar
Burburinhos murmurantes
Dos convidados falantes
E que falam sem pensar
Ela o deixou no altar
Alguém surge neste instante
Cavalgando galopante
Traz a noticia e ofegante
Fala dela soluçante
Enfartada fulminante
O pobre não acredita
E sem norte o moço fica
Que brincadeira maldita
A multidão se agita
Desesperado ele grita
De noiva morreu vestida
Numa súbita partida
Foi amada e foi querida
Levou um golpe da vida
E a emoção é incontida
Que vida mal explicada
E ninguém sabe de nada
Partimos na hora inserta
Na hora certa e marcada
A hora certa e errada
Se a hora certa é marcada
Porque não foi avisada
Tantas vidas confundidas
Maldizentes murmuradas
Não estava preparada.
(Idal Coutinho)