*UM CREPÚSCULO NAS BRENHAS DO SERTÃO!!

UM CREPÚSCULO NAS BRENHAS DO SERTÃO!!

Quando o sol enfadado desfalece

A cortina da noite rasga o véu

As estrelas cintilam lá no céu

Bem disposta a lua aparece

Prateada e brilhante permanece

E aos vales e campos faz cortejo

Essa cena é tão bela, e quando a vejo

Não mais posso esquecer aquela imagem

E assim faço o relato da paisagem

Do cair de um crepúsculo sertanejo.

Bacurau saltitando com gracejo

Na estrada opaca e poeirenta

A coruja bisonha e agourenta

Planejando seu golpe malfazejo

Vê-se logo um sapo em seu traquejo

Indo e vindo a pular pelo terreiro

Sobe o galo pra o teto do poleiro

O matuto cansado vem da roça

A matuta contente na palhoça

Bota gás e acende um candeeiro

A palmeira no alto do outeiro

Se balança ao sabor da ventania

As seis horas da tarde, Ave Maria

E um terço pra ao santo padroeiro.

Os morcegos que passam tão ligeiro

Os tatus vão fuçarem no roçado

Um cachorro já velho está deitado

Numa tulha de fava lá na tenda

E no pátio da casa da fazenda

Pra dormida se junta todo o gado

Num galpão onde está depositado

Um paiol de algodão outro de milho

Na parede do oitão tem um novilho

Que está preso ao mourão, bem amarrado.

Um cavalo alazão já está selado

E o vaqueiro fazendo uma merenda

E depois de enfrentar sua contenda

Da rotina enfadonha e arrojada

Vai correndo tomar uma lapada

De cachaça da boa lá na venda

Uma velha que está fazendo renda

Pede a filha que traga um café quente

E um lanche, pra que ela se alimente

E termine de vez sua encomenda.

Um velhote contando alguma lenda

No alpendre do velho casarão

O assento é um caixote de sabão

Pra que possa fazer a narrativa

E assim se mantenha acesa e viva

A cultura do povo do sertão

Ora dou por completa a descrição

De uma boca de noite sertaneja

Eu pretendo e espero que esteja

Dando aqui minha colaboração.

E do povo daquela região

Seus costumes narrei nesse relato

Estou falando de mim, porque de fato

Meu orgulho é total e absoluto

Em dizer para o mundo, eu sou matuto!

E sou muito feliz por ser do mato!

Carlos Aires 05/02/2013