O OLHO DE DEUS TEM OUTRA LENTE

01

Reparei o passado que vivi

E as magoas contidas recordei

Numa lagrima perdida encontrei

O retrato do tanto que sofri

Se passou com certeza esqueci

Se vivi foi por certo meu passado

É no mapa da mente encaliçado

Que assisto o sofrer de antigamente

Como o olho de Deus tem outra lente

É por Ele que eu sou observado

02

Rejeitado eu fui desde menino

Pela avós, alguns tios e outros mais

Apanhei com chicote de animais

Pois herdei como outros ser traquino

Uma surra por dia de cipó fino

Dum fuxico ou um falso mal contado

Um perdão nunca tive nem forçado

Foi o quadro vivido com essa gente

Como o olho de Deus tem outra lente

É por Ele que eu sou observado

03

Se não presto, é quem diz o meu arquivo?

Sou eu negro na cor e no que fiz?

Se às vezes eu tornei um infeliz?

Infeliz desse mal eu também vivo

Do meu eu, eu sou mais do que cativo!

Do meu mal sou mais que escravizado

Só Jesus pra julgar o meu estado

E frisar se só eu sou diferente

Como o olho de Deus tem outra lente

É por Ele que eu sou observado

04

Minha historia tristonha me permita

Eu falar do desprezo que me dão

Minha voz ressoada em refrão

É sucata sem valor não se acredita

Uma frase lamentada e escrita

Ou poema em cordel improvisado

Pode ser no futuro avaliado

Quando a morte empossar esse indigente

Como o olho de Deus tem outra lente

É por Ele que eu sou observado

05

Minha esposa com certeza eu a amo

Já não sei se ela é do mesmo jeito

Todo dia me apresenta um defeito

Pra mim mesmo só lamento e reclamo

Cada corte renasce um novo ramo

De esperança vivo eu apaixonado

Esse amor me segura entronizado

Ela não ver como sou interiormente

Como o olho de Deus tem outra lente

É por Ele que eu sou observado

06

Por um erro julgado a vida inteira

Numa topada sigo eu todo manco

Uma flecha todo dia eu arranco

Do meu ser aterrado por besteira

Se quem julga não ver doutra maneira

Nem percebe que Deus tem me mudado

Duma mancha me ver todo pintado

Nem notam como hoje sou diferente

Como o olho de Deus tem outra lente

É por Ele que eu sou observado

07

“Sou um besta analfabeto e matuto

Té a voz quando sai é transtornada

Decorei muito mal a tabuada

Se não sei, se pergunto sou astuto.

O doutor que responde fica puto

Me entende mais me olha enojado

Se aprendo do seu jeito copiado

Que lição aprendo com essa gente?

Como o olho de Deus tem outra lente

É por Ele que eu sou observado

08

Nas pegadas do descaso onde piso

Diferente como sou não sei porque

Nem morrendo eu serei igual você

Diferença principal é o sorriso

Sou sincero até mais do que preciso

Gargalhando ou sutil sem um piado

Não zombo do franzino, mal olhado.

Nem critico o indouto ou demente

Como o olho de Deus tem outra lente

É por Ele que eu sou observado

09

Aleijado andando é só “prutuco”

Um catarrento com ele a remela

Ou um preso na grade da janela

Do hospício o hóspede, Um maluco!

Um patrão humilhando seu eunuco

O altivo gargalhar do fracassado

Esses vivem por desprezo torturado

Me vejo como um deles, diferente!

Como o olho de Deus tem outra lente

É por Ele que eu sou observado

10

O que compro, que vendo onde ando

Seguido por olhares muito grande

Esse mal infeliz inda se expande

Em pessoas que detém seu comando

Sem temer eu prossigo tateando

Resistindo no nada sou culpado

Na caverna em silencio encasulado

Lealdade passa a ser minha patente

Como o olho de Deus tem outra lente

É por Ele que eu sou observado

11

Já desfiz uns males em oração

Ao chorar saiu tudo no suspiro

Imaginem o ar manso que respiro

Lentamente limpando o coração

Tudo isso deságua no perdão

O sofrer sai tristonho e amargurado

Nesse instante eu revivo alegrado

Flutuando na força onipotente

Isso é o olho de Deus com outra lente

Me mostrando como sou observado

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Jailton Antas
Enviado por Jailton Antas em 21/01/2013
Reeditado em 14/04/2020
Código do texto: T4097536
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