O Nordeste Dos Desumanos
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No meu sertão tudo tem
Até do que destruíram
A falta por certo vem
E os que contribuíram
Foram quem usufruíram
Só nos restando essa sina
Onde a seca se destina
Trazendo males e horrores
Há anos não produz flores
Nem em serrado ou campina
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E o sofrer se destina
Atingindo toda classe
Só uma obra divina
Pra resolver esse impasse
Se o abandono cessasse...
De promessas ninguém vive
O santo ver o declive
Da fé em seu padroeiro
Que até falta apregoeiro
Ou quem venha e lhe ative
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Não se ver mais um aclive
Clamando a qualquer santo
A fé pura se revive
Se morar em outro canto
Fugir pra qualquer recanto
Carregando a saudade
Viver a infelicidade
Com saudade do sertão
Se conclui a oração
Bem longe noutra cidade
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E segue a tempestade
De um matuto sofrido
O que sofreu foi verdade
Só sofrendo é concluído
O temporal de gemido
O carma do sertanejo
Todo cheio de desejo
De viver uma nova vida
Procede sem ver saída
Sem passar de um bosquejo
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É num espelho que vejo
Muitas coisas encobertas
Um outro fazer manejo
Contrariando as corretas
Se desviando das certas
Querendo ser importante
O que pensou num instante
Realizar sem demora
Honrando o erro de outrora
Sem vergonha no semblante
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É um mau contagiante
Destruindo feito traça
Cada vez mais arrogante
E com cinismo disfarça
Pra depois erguer a taça
Com a idéia concluída
Numa atitude bandida
Onde tira seu proveito
Vibrando bem satisfeito
Com a idéia aplaudida
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Uma trágica cometida,
Idéia rimando eu falo,
Foi ter a raça abatida
Como classe de cavalo
E vender como a de galo
Ou a galinha caipira
Onde digo sem mentira
No nordeste aconteceu
E o Brasil todo comeu
Essa macula ninguém tira
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Eqüino andou na mira
Pra servir de tira gosto
Sua causa quase vira
Do ser vivente o oposto
E era aquele desgosto
De alguns que comovidos
Choravam arrependidos
Do que de graça se fez
Na lábia da insensatez
Ter seus cavalos vendidos
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Magros, gordos, desprovidos
Abatidos no nordeste
Depois eram divididos
Para o sul e o sudeste
Na importação se investe
Cavalo vira valor
Sem se escolhe raça e cor
Carne dura ou macia
Só sabe que se vendia
Muito mais pelo sabor
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Do sertanejo o pavor
Quando alguém comentava
Que o grande exportador
Té pra o nordeste enviava
Quando industrializava
Já era alimentação
Ia para exportação
O filé e a melhor parte
E era aquele destarte
Tudo partia do sertão
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E muitos anos se vão
Lucraram, foi esse o fim,
Nesta mesma região
Onde o carrasco é assim
Focando na classe ruim
Criaram um outro invento
Exterminar o jumento
No popular dito jegue
Onde não há quem me negue
Esse novo seguimento
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E era um ajuntamento
Serviço pra meninada
Se oferecia pagamento
A quem fizer-se a caçada,
Juntando em toda estrada,
Um jegue abandonado,
Que valia qualquer trocado
Mesmo sem achar o dono,
Jumento perdia o sono
De tanto ver cochichado
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Depois era transportado
Do seu lugar tão querido
Quem já era desprezado
Agora sendo vendido
Já vivia desprovido
Sem valor de uma soma
Sem levar nem um diploma
Só xingamento e encharques
Agora virando charques
Pode ser que alguém lhe coma
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E criou-se uma redoma
Apareceu defensores
Seus defeitos e aroma
Cobriam os seus valores.
Fez trabalho de tratores
Foi do campo a solução
O construtor do sertão
Com cangalha e caçuá
Findou virando jabá
De herói pra refeição
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Na mesma depravação
Vem Rio Grande do norte
De Jesuino o chefão
Da Paraíba mais forte
Que o seu passado aborte
O que também foi escrito
Do espeto de cabrito
De boi e o do anonimato
Mas foi no espeto de gato
Que ele foi favorito
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Esse caso não é mito
Aconteceu de verdade
Gato findar em palito
Que tamanha crueldade
E toda sociedade
Comia sem perceber
E vindo a se estender
Começando bem sutil
Mas depois todo Brasil
Dava o mesmo parecer
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Sem poder se defender
Gatinhos iam sumindo
Churrasco a se perder
E de graça o homem rindo
No erro sobressaindo
Rio Grande, Grande em tudo!
Onde O Câmara Cascudo
Ajudou a construir
Agora tudo cair
Sem direito a um escudo.
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Honrosamente me mudo
Para minha Paraíba
Que o matuto sem estudo
Só vive na pindaíba
Sem poder está em riba
Do sertão ao litoral
Onde eu quero por sinal
Fazer outra descrição
Das de partir coração
Na verdosa capital
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Senhores não leve a mal
Quem tiver em pé se senta
Não sei o ano real
Mais a década foi oitenta
Mais ou menos se ostenta
Na minha mente fadada
Lembrando o bar da buchada
No bairro de Oitizeiro
Do caipira ao fazendeiro
Iam tomar cachaçada
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O líder e sua bancada
Doutor e a secretaria
Turistas em sua chegada
Honravam a culinária
Sem fecha uma diária
Ou fim de ano em balanço
Nunca dava um só descanso
Aos muitos funcionários
Que gozavam dos salários
Do sucesso e seu avanço
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O churrasco do boi manso,
Galinha de capoeira,
Ate capote e ganso
Uma cachaça brejeira
A buchada de primeira
O cardápio definido
Era o prato mais vendido
Também o mais procurado
Da capital do estado
Lhe tornando conhecido
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E era aquele alarido
Quando o turista chegava
A buchada era o pedido
Que primeiro apreciava
Em nada mais se falava
Era o assunto de dia
E quanto mais se servia
Mais o bode era falado
E todo mundo enganado
Sem saber o que comia
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Pouco bode existia
Nessa nossa região
Quando um aparecia
Era vindo do sertão
Mais naquela ocasião
O bode era elevado
Como também o estado
Sua fama recebia
E o restaurante crescia
Cada vez mais equipado
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Sem ninguém ter acordado
Um fato se percebia
No último mês passado
Cachorro aqui se sumia
Uma equipe todo dia
Se destinava ao plantão
Fosse pastor alemão
Ou mesmo os viras latas
Por ruas, estradas, matas,
Tinha alguém de prontidão
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O rabujo em extinção
A procura de um cachorro
Coletor de profissão
Camuflado feito zorro
E nem em valado ou morro
Se via um cão de bobeira
E lá no bar a zoeira
Num sigilo absoluto
Inté que um dia um matuto
Acabou a brincadeira
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Sentado numa cadeira
Bem a parte onde cito
Comendo com macaxeira
Um bom prato de cabrito
Foi quando achou esquisito
Um cachorro mendigando
Num gesto de esgurejando
Pra ver se ganhava um osso
E um pedaço do pescoço
Terminou lhe sobejando
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O cachorro foi cheirando
Desconfiando do clima
Foi o osso dispensando
De quebra mijou em cima
O matuto desanima,
E empurra o prato de lado
“Dizendo fui enganado
O cachorro num cumeu
Num venha dizer a eu
Quisso é bode cunzinhado”
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Foi o boteco fechado
Processos pra todo mundo
Quem comeu tava enojado
Tragédia do submundo
Daquele episodio imundo
A Paraíba chocôsse
Pouco tempo se calôsse
Ninguém mais ouviu falar
Por isso venho a contar
Como se novo ele fosse
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Mas esse inda era doce
Nem foi coisa de maluco
O empresário complicôsse
Se for vivo hoje é caduco
Mas igual a Pernambuco
Nunca vi acontecer
Garanhuns surpreender
Nossa nação brasileira
Com a arte pasteleira
A mais triste de escrever
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nesse ano pude ver
Dois mil e doze é dito
Três pessoas se render
A esse ato maldito
A onde tristonho cito
Que foi aquele estandarte
Executando a arte
Que era fazer pastel
Pra restaurante e hotel
Vendendo em toda parte
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Não quero fazer descarte
Nem usar muita maldade
Mas em jornal e encarte
Foi visto em toda cidade.
Uma mãe de certa idade
Comer a carne da filha
No meio de tanta ervilha
A filha comer a mãe
Ou o filho comer mamãe
Que morreu na armadilha
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Digo o nome da quadrilha
Começando do cabeça
JORGE BELTRÃO FOI A PILHA
Grave pra que não esqueça
Que o sobrenome padeça
NEGRO MONTE DA SILVEIRA
O construtor de caveira
Depois ISABEL CRISTINA
E BRUNA TAMBEM CRISTINA
De sobrenome OLIVEIRA
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Os três vendiam na freira
E em cidades vizinhas
Na Paraíba e fronteira
Em praias e barraquinhas
Ofereciam as fresquinhas
Feitas com carne de gente
Num nordeste diferente
De monstros e canibais
Delinqüentes anormais
Que falei anteriormente
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O nordeste finalmente
Se enquadra nessa ruína
Vez por outra cruelmente
Outro faz uma chacina,
Nossa nação nordestina
Vai sonhando sem parar
Esperando melhorar
O que em nada melhora
Assim o nordeste chora,
Que não mais, tem pra chorar!
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Primeiro eu fiz mostrar
O cavalo e o ocorrido
Rasguei o verbo a narrar
Jumento o mais sofrido
Ainda o gato comido
Isso foi terceiro plano
Lamentei o triste dano
Té do cachorro a buchada
O fim cochinha e empada
Num nordeste desumano
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Já vi que o Soberano
Aqui tem que se apossar
Interrogar o fulano
Lembrando ele lembrar
Tudo que fez sem pensar
Ou quem sabe consciente
No Nordeste paciente
Felizmente se pondera
Infeliz nação da era
Meu abraço condolente.