O Nordeste Dos Desumanos

01

No meu sertão tudo tem

Até do que destruíram

A falta por certo vem

E os que contribuíram

Foram quem usufruíram

Só nos restando essa sina

Onde a seca se destina

Trazendo males e horrores

Há anos não produz flores

Nem em serrado ou campina

02

E o sofrer se destina

Atingindo toda classe

Só uma obra divina

Pra resolver esse impasse

Se o abandono cessasse...

De promessas ninguém vive

O santo ver o declive

Da fé em seu padroeiro

Que até falta apregoeiro

Ou quem venha e lhe ative

03

Não se ver mais um aclive

Clamando a qualquer santo

A fé pura se revive

Se morar em outro canto

Fugir pra qualquer recanto

Carregando a saudade

Viver a infelicidade

Com saudade do sertão

Se conclui a oração

Bem longe noutra cidade

04

E segue a tempestade

De um matuto sofrido

O que sofreu foi verdade

Só sofrendo é concluído

O temporal de gemido

O carma do sertanejo

Todo cheio de desejo

De viver uma nova vida

Procede sem ver saída

Sem passar de um bosquejo

05

É num espelho que vejo

Muitas coisas encobertas

Um outro fazer manejo

Contrariando as corretas

Se desviando das certas

Querendo ser importante

O que pensou num instante

Realizar sem demora

Honrando o erro de outrora

Sem vergonha no semblante

06

É um mau contagiante

Destruindo feito traça

Cada vez mais arrogante

E com cinismo disfarça

Pra depois erguer a taça

Com a idéia concluída

Numa atitude bandida

Onde tira seu proveito

Vibrando bem satisfeito

Com a idéia aplaudida

07

Uma trágica cometida,

Idéia rimando eu falo,

Foi ter a raça abatida

Como classe de cavalo

E vender como a de galo

Ou a galinha caipira

Onde digo sem mentira

No nordeste aconteceu

E o Brasil todo comeu

Essa macula ninguém tira

08

Eqüino andou na mira

Pra servir de tira gosto

Sua causa quase vira

Do ser vivente o oposto

E era aquele desgosto

De alguns que comovidos

Choravam arrependidos

Do que de graça se fez

Na lábia da insensatez

Ter seus cavalos vendidos

09

Magros, gordos, desprovidos

Abatidos no nordeste

Depois eram divididos

Para o sul e o sudeste

Na importação se investe

Cavalo vira valor

Sem se escolhe raça e cor

Carne dura ou macia

Só sabe que se vendia

Muito mais pelo sabor

10

Do sertanejo o pavor

Quando alguém comentava

Que o grande exportador

Té pra o nordeste enviava

Quando industrializava

Já era alimentação

Ia para exportação

O filé e a melhor parte

E era aquele destarte

Tudo partia do sertão

11

E muitos anos se vão

Lucraram, foi esse o fim,

Nesta mesma região

Onde o carrasco é assim

Focando na classe ruim

Criaram um outro invento

Exterminar o jumento

No popular dito jegue

Onde não há quem me negue

Esse novo seguimento

12

E era um ajuntamento

Serviço pra meninada

Se oferecia pagamento

A quem fizer-se a caçada,

Juntando em toda estrada,

Um jegue abandonado,

Que valia qualquer trocado

Mesmo sem achar o dono,

Jumento perdia o sono

De tanto ver cochichado

13

Depois era transportado

Do seu lugar tão querido

Quem já era desprezado

Agora sendo vendido

Já vivia desprovido

Sem valor de uma soma

Sem levar nem um diploma

Só xingamento e encharques

Agora virando charques

Pode ser que alguém lhe coma

14

E criou-se uma redoma

Apareceu defensores

Seus defeitos e aroma

Cobriam os seus valores.

Fez trabalho de tratores

Foi do campo a solução

O construtor do sertão

Com cangalha e caçuá

Findou virando jabá

De herói pra refeição

15

Na mesma depravação

Vem Rio Grande do norte

De Jesuino o chefão

Da Paraíba mais forte

Que o seu passado aborte

O que também foi escrito

Do espeto de cabrito

De boi e o do anonimato

Mas foi no espeto de gato

Que ele foi favorito

16

Esse caso não é mito

Aconteceu de verdade

Gato findar em palito

Que tamanha crueldade

E toda sociedade

Comia sem perceber

E vindo a se estender

Começando bem sutil

Mas depois todo Brasil

Dava o mesmo parecer

17

Sem poder se defender

Gatinhos iam sumindo

Churrasco a se perder

E de graça o homem rindo

No erro sobressaindo

Rio Grande, Grande em tudo!

Onde O Câmara Cascudo

Ajudou a construir

Agora tudo cair

Sem direito a um escudo.

18

Honrosamente me mudo

Para minha Paraíba

Que o matuto sem estudo

Só vive na pindaíba

Sem poder está em riba

Do sertão ao litoral

Onde eu quero por sinal

Fazer outra descrição

Das de partir coração

Na verdosa capital

19

Senhores não leve a mal

Quem tiver em pé se senta

Não sei o ano real

Mais a década foi oitenta

Mais ou menos se ostenta

Na minha mente fadada

Lembrando o bar da buchada

No bairro de Oitizeiro

Do caipira ao fazendeiro

Iam tomar cachaçada

20

O líder e sua bancada

Doutor e a secretaria

Turistas em sua chegada

Honravam a culinária

Sem fecha uma diária

Ou fim de ano em balanço

Nunca dava um só descanso

Aos muitos funcionários

Que gozavam dos salários

Do sucesso e seu avanço

21

O churrasco do boi manso,

Galinha de capoeira,

Ate capote e ganso

Uma cachaça brejeira

A buchada de primeira

O cardápio definido

Era o prato mais vendido

Também o mais procurado

Da capital do estado

Lhe tornando conhecido

22

E era aquele alarido

Quando o turista chegava

A buchada era o pedido

Que primeiro apreciava

Em nada mais se falava

Era o assunto de dia

E quanto mais se servia

Mais o bode era falado

E todo mundo enganado

Sem saber o que comia

23

Pouco bode existia

Nessa nossa região

Quando um aparecia

Era vindo do sertão

Mais naquela ocasião

O bode era elevado

Como também o estado

Sua fama recebia

E o restaurante crescia

Cada vez mais equipado

24

Sem ninguém ter acordado

Um fato se percebia

No último mês passado

Cachorro aqui se sumia

Uma equipe todo dia

Se destinava ao plantão

Fosse pastor alemão

Ou mesmo os viras latas

Por ruas, estradas, matas,

Tinha alguém de prontidão

25

O rabujo em extinção

A procura de um cachorro

Coletor de profissão

Camuflado feito zorro

E nem em valado ou morro

Se via um cão de bobeira

E lá no bar a zoeira

Num sigilo absoluto

Inté que um dia um matuto

Acabou a brincadeira

26

Sentado numa cadeira

Bem a parte onde cito

Comendo com macaxeira

Um bom prato de cabrito

Foi quando achou esquisito

Um cachorro mendigando

Num gesto de esgurejando

Pra ver se ganhava um osso

E um pedaço do pescoço

Terminou lhe sobejando

27

O cachorro foi cheirando

Desconfiando do clima

Foi o osso dispensando

De quebra mijou em cima

O matuto desanima,

E empurra o prato de lado

“Dizendo fui enganado

O cachorro num cumeu

Num venha dizer a eu

Quisso é bode cunzinhado”

28

Foi o boteco fechado

Processos pra todo mundo

Quem comeu tava enojado

Tragédia do submundo

Daquele episodio imundo

A Paraíba chocôsse

Pouco tempo se calôsse

Ninguém mais ouviu falar

Por isso venho a contar

Como se novo ele fosse

29

Mas esse inda era doce

Nem foi coisa de maluco

O empresário complicôsse

Se for vivo hoje é caduco

Mas igual a Pernambuco

Nunca vi acontecer

Garanhuns surpreender

Nossa nação brasileira

Com a arte pasteleira

A mais triste de escrever

30

nesse ano pude ver

Dois mil e doze é dito

Três pessoas se render

A esse ato maldito

A onde tristonho cito

Que foi aquele estandarte

Executando a arte

Que era fazer pastel

Pra restaurante e hotel

Vendendo em toda parte

31

Não quero fazer descarte

Nem usar muita maldade

Mas em jornal e encarte

Foi visto em toda cidade.

Uma mãe de certa idade

Comer a carne da filha

No meio de tanta ervilha

A filha comer a mãe

Ou o filho comer mamãe

Que morreu na armadilha

32

Digo o nome da quadrilha

Começando do cabeça

JORGE BELTRÃO FOI A PILHA

Grave pra que não esqueça

Que o sobrenome padeça

NEGRO MONTE DA SILVEIRA

O construtor de caveira

Depois ISABEL CRISTINA

E BRUNA TAMBEM CRISTINA

De sobrenome OLIVEIRA

33

Os três vendiam na freira

E em cidades vizinhas

Na Paraíba e fronteira

Em praias e barraquinhas

Ofereciam as fresquinhas

Feitas com carne de gente

Num nordeste diferente

De monstros e canibais

Delinqüentes anormais

Que falei anteriormente

34

O nordeste finalmente

Se enquadra nessa ruína

Vez por outra cruelmente

Outro faz uma chacina,

Nossa nação nordestina

Vai sonhando sem parar

Esperando melhorar

O que em nada melhora

Assim o nordeste chora,

Que não mais, tem pra chorar!

35

Primeiro eu fiz mostrar

O cavalo e o ocorrido

Rasguei o verbo a narrar

Jumento o mais sofrido

Ainda o gato comido

Isso foi terceiro plano

Lamentei o triste dano

Té do cachorro a buchada

O fim cochinha e empada

Num nordeste desumano

36

Já vi que o Soberano

Aqui tem que se apossar

Interrogar o fulano

Lembrando ele lembrar

Tudo que fez sem pensar

Ou quem sabe consciente

No Nordeste paciente

Felizmente se pondera

Infeliz nação da era

Meu abraço condolente.

Jailton Antas
Enviado por Jailton Antas em 20/12/2012
Reeditado em 24/09/2019
Código do texto: T4045293
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