Retratos do passado... parte 2
21
Refrescando minha mente
lembrança tenho de sobra
Expondo a mais rica obra
Das coisas de antigamente
Chão molhado ou terra quente
Dá a mesma narração
Mas só falo do sertão
Do mesmo que fui criado
São retratos do passado
Em minha imaginação
22
Um carro de boi zoando
Na velha estrada de barro
Riacho atolando o carro
E um canzil se quebrando
O boi na canga virando...
Eixo fora do cocão!
Fueiro de ponta ao chão
E em fim tudo atolado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
23
A seca da minha terra...
Não foi apenas um tópico,
O homem com seu acópico
Nem lutando se encerra,
A saudade que me aterra
Trás de volta a encenação
A fome e a sequidão...
E um sertanejo enfadado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
24
De taipa era nossa casa!
Moinho de relar milho,
Um caco de assar sequilho,
Um ferro esquentado a brasa!
Uma cacimba bem rasa
Compondo a alimentação
Almoço e jantar, feijão!
A festa, um preá assado!!
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
25
Um cão de caça véi moco
Lá no pé duma parede
O velho pai numa rede
Num descanso como troco
Mãe da lua lá num toco
Anuncia a escuridão;
Cantando na sequidão,
Na beirada de um roçado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
26
Lembro Um jegue animado
Bem na hora do sol quente
Sentindo o que ninguém sente
Mesmo estando amarrado
O seu banho perfumado
É se espojar no chão
Depois canta a canção,
...E jamais foi imitado!!
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
27
O acordar bem cedinho,
Olhos cheios de remelas,
Abrir as portas, janelas,
Pra o sol entrar de mansinho
O berro do bezerrinho,
Bem do lado do oitão
A mãe presa no mourão...
E ele preso arriado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
28
Na época da estiagem
Quando açude secava
O que mais eu encontrava
Me vem logo a triste imagem
Sapo morto em toda margem
Sem o cocó dar “venção”!
Pato d’água e mergulhão
Fugindo desconsolado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
29
A tristeza das abelhas
Na primavera sem flores
Dos sertanejos rumores
A fome em gado e ovelhas
Os pardais sujando as telhas
A água em extinção
Na beira de um cacimbão
Um cocho lá desprezado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
30
Meu sertão ficar deserto
Pela seca consumido
Um futuro colorido
Só prometem, fique certo,
Num paraíso incerto
Se aplica a devoção
Não passa de invenção
O que o homem tem inventado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
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