DIA DO AIDÉTICO
01
Descendo do pedestal
Estou eu nesse momento
Primeiro dia do mês
Lançando meu argumento
Pois como sou bem falível
Uno-me a outro nível
Que estão no esquecimento
02
Coloco no alinhamento
Os sadios e os normais
Elevo quem tem poder
Os famosos dos jornais
Humano ou desumilde
Na classe, a mais humilde;
As que são especiais!
03
Nos acervos culturais
Tem muita tristeza e dor
Tem nomes de coronéis
Mendigo também doutor
Tem nome até de atrizes
Que morreram infelizes
Na lógica do escritor
04
Té anônimo tem autor
Bastante considerado
Basta ter um bom assunto
Pra o nome ser elevado
E aquela fama de segue
Sem faltar alguém que pregue
O que ficou registrado
05
Duvido um desprezado
Que viveu no mundo atlético
Um Político de nome
Que procurou ser um ético
Por cumprir o seu dever
Nunca morre a nosso ver
Como a fama de um médico.
06
Mas já quem foi um aidético
Perdeu a fama e prestigio
Foi difamado, inda é!
Sua fama é seu vestígio
Morre por cima da culpa
Nossa nação não desculpa
Nem aceita seu prodígio
07
Lhe resta só o litígio
Depois que é descoberto
Não pode voltar atrás
E voltar a ser coberto
Acabou se a alegria
Vai sofrer a nostalgia
Todo mundo sai de perto
08
E trilha caminho incerto
Vai suportando a afronta
A humilhação é tanta
Desgraça toma de conta
No Brasil que pode tudo
O aidético vive mudo
Pois todo dedo lhe aponta
09
A injuria então se monta
E começa a cavalgar
Quando encontra um amigo
Já passa a interrogar
O outro passa de largo
Como se ele fosse amargo
Lhe fosse contaminar
10
Faz desdém no seu olhar
Vai saído de fininho
Em vez de dizer palavras
Que demonstrasse carinho
Mas a deixa da ruindade
Sai plantando crueldade
E todo e qualquer caminho
11
Sai ele pisando espinho
Vai num posto de saúde
Para aferir a pressão
Das afrontas amiúde
E é aquela chacota
Na vida sente a derrota
Desejando um ataúde
12
Mais uma vez se ilude
Sai daquela desventura
Se afasta e vai embora
No peito aquela abertura
Falando consigo mesmo
Se sente só no seu esmo
E segue sem ter bravura
13
Tem outro que se censura
Quando descobre a tragédia
Já sabe que nesse mundo
Tudo se vira comédia
E vai sofrendo calado
E de tudo resguardado
Se não sai enciclopédia
14
Só assim mantém a rédea
E não se expõe ao ridículo
Seu espaço é limitado
Seu intelecto é o cubículo
Mantendo a desgraça presa
Pra manter sua defesa
Suportando seu estrídulo
15
Na fervente do ventrículo
Lá está o HIV
Só ele sabe que tem
Dos males vive a mercê
Sofre sem desabafar
E pra ninguém difamar
Chora mas não diz por quê
16
E eu me dirijo a você
Que vive no anonimato
E que sofre essa injuria
Sem ter apoio de fato
Que não sabe de onde veio
E se alojou no teu seio
Causando dor e maltrato
17
Quero aqui no meu relato
Que me deixa comovido
Tu que sofre abandonado
Por todo desprotegido
Só tendo ao teu favor
Os braços do Redentor
Quem escuta teu gemido
18
Neste dia decidido
Eu quero te apoiar
E se eu sou igual a ti
Não vais me contaminar
Se não fez a prevenção
Eu faço em meu coração
Pra não te descriminar
19
Não quero comemorar
Neste dia o seu dia
Mas vou deixar meus pesares
Renovando a harmonia
Retratando em cordel
Que todo esse tropel
Não agem como devia
20
Juntemos sem covardia
Amando com afeição
Iguais somos todos nós
Lembremos com atenção
Todos juntos sem maldade
Obremos com lealdade
Neste dia de comoção
FIM