TRISTEZA
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Uma vaca tristonha na caatinga
Magricela pela a seca escravizada
Aparência de quem ta abandona
Sem ter carne que enfie uma seringa
Seu dono de tristeza toma pinga
Nessa hora lhe aplica uma injeção
Acha a veia e faz outra aplicação
De um soro para não desidratar
Ela sai com sintomas de um bar
Tonteando e levando tropicão
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Do que acha vai tentar a refeição
Uma palha, uma casca, ou embira
Em um balde de lixo ela se vira
Qualquer coisa é comida de invenção
E o que come vai arder na digestão
Enche o bucho de engano e muito vento
As fezes inda servem de alimento
Para um pato ou um porco se tiver
Um cachorro, galinha, o que vier
Vai comer, pois não tem outro sustento.
***
Carcaça revelando sofrimento;
Uma vaca que a tantos sustentou.
E o homem depois que tanto usou
O despreza sobre forte argumento
Uma nuvem se quer no firmamento
Aparece que me traga a esperança
E desfaz dele e ela a aliança
De ajudar a quem tanto lhe ajudou
Ela morre sem falar que perdoou
Nem esboça um só gesto de vingança