NADANDO NO SECO

01

Raposa não ver galinha

Nem o macaco banana

O guará procura a cana

Senhaçú cassando pinha

A bicharada todinha

Procurando se amparar

À seca a exterminar

Nesse solo paraibano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

02

O vento assopra e nada,

De chuva nos vem trazer.

O sol forte a aquecer

O nascente sem faixada

A lama toda rachada

Sem água pra irrigar

E o céu sem derramar

Vai causando maior dano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

03

O vento já aparece

Na madrugada sem frio

Dar noticia do estio

E depois desaparece

Um mês todo permanece

Faz poeira levantar

Chega até assoviar

Com sua voz de piano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

04

Numa casa um catarrento

Na outra sobrando gripe

Na casa de Zé do jipe

Um moi de filho grudeto

Um cão de caça sarnento

Esperando o que caçar

Espingarda sem usar

Enferrujando o cano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

05

Já está tudo morrendo

O capim do boi zebu

O lanche do urubu

Sem chance pra um remendo

O sermão se descosendo

Não passa nem do altar

O fiel sem adorar

Sem querer se faz profano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

06

Pra mulher maior castigo

Banho só de passarinhos

Muito mau lava os cantinhos

Sem vergonha ainda digo

Molha leve no umbigo

Nem sabão pode passar

Sem agua pra enxaguar

Faz assim também no pano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

07

O sofrimento do sapo,

O calor lhe esturrica

O que sobra da peitica

Termina em outro papo

Socó boi no jenipapo

Vigia sem se cansar

E o que consegue escapar

Morre no segundo plano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

08

Nunca mais vi um caçote

Nem de longe nem de perto

Sem reproduzir por certo

Só no seco dar pinote

O que escapa do bote

Da cobra a exterminar

Sai tristonho sem achar

Um parente nem um mano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

09

Cururu desconsolado

Fedendo a sovaqueira

Té seu cheiro dar tonteira

Dá tristeza seu estado

Procurando um alagado

Anda noites a vagar

Piora sem se banhar

Até parece um cigano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

10

Sua vida é um lamento

Sem se falar com ninguém

Cabisbaixo vai e vem

Sai andando desatento

Não queixa seu sofrimento

Porque não sabe falar

Andando a se arrastar

Esse é seu cotidiano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

11

Quando o vento muda a rota

Da pinote de alegria

Espera uma frente fria

Se não vem sente a derrota

Vai cantar somente arrota

Não grita pra não chorar

Relâmpago a clarear

Mas no fim é só engano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

12

Nessa triste trajetória

Onde o homem tem a culpa

Mas não pede nem desculpa

Se arguindo na vangloria

O sapo caiu na historia

Que dar pra rir e chorar

Se não sabe reclamar

Sofre o mal do ser humano

Tem sapo a mais de um ano

Que não sabe o que é nadar

***

Jailton Antas e MOTE DO POETA PAULO JESSER FERREIRA LIMA
Enviado por Jailton Antas em 28/11/2012
Reeditado em 18/12/2016
Código do texto: T4010075
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