O PAU QUEBROU NO CÉU
Num faz muito tempo não
Que minha mãe me pariu
Quase morre desnutrida
Inda bem que resistiu
E o danado do tal eu
Na hora de chorar caiu
A vida me deu um golpe
Desse bem traiçoeiro
Nasci feio, mago e doente
Sem nome nem dinheiro
Preguiçoso e desatento
Dorminhoco e bandoleiro
Nem rezar eu aprendi.
Nem a cavalo andar
Cortar lenha e capim
Muito menos campinar
Única coisa que sabia
Era pra escola estudar
Num me vejo fracote
Pois a fome me esfolou
Meu corpo era sofrido
É só doença conservou
Mas na escola sonhava
Em um dia ser doutor
Acabar com essa miséria
Que meu corpo matava
De fome e de tristeza
Pela carência que passava
Comer e viver bem
Era tudo o que pensava.
Estudei como um louco
Pra uma boa vida ter
Fazia os estudos sério
Pois queria aprender
E quem sabe algum dia
Essa angústia reverter
Num demorou muito tempo
Meus estudos terminei
Liso, pobre e moribundo
Mas os sonhos conservei
Dum dia ganhar dinheiro
Pois pra isso estudei
Logo logo o resultado
Em um concurso passei
Fiquei contente, saltitante
Pensei da fome me livrei
Depois de muitos anos
Ao trabalho eu ingressei
Era um bom dinheiro
Um carro pensei comprar
Uma feira grande e boa
Uma casa para morar
Roupas boas e bonitas
Pra poder sair pra passear
Quase no final do mês
Esperando o soldo receber
Dar-me uma dor no peito
Que fiquei pra morrer
Um escurecimento de vista
Eu fui caindo a tremer
Acordei num lugar de luz
Sem saber aonde cheguei
Abriram uma porta grande
Desconfiado eu passei
Com passos cautelosos
Pelo salão caminhei
Veio um caba bem vestido
Encontra-me pelo salão
E disse todo sorridente
- São Pedro tá em reunião
Aguarde um momento
Vamos fazer sua inscrição.
- Eita bexiga taboca
Parece que eu defuntei
Mas homi, num pode ser
Agora que a vida ganhei
Perai, há algo errado
Eu apenas só desmaiei
O anjo todo sorridente
Prático na psicologia
Disse mostrando o céu
- Aqui será sua moradia
Esse lugar é perfeito
Sem fome e sem maruzia
- Ei senhor, de jeito nenhum
Podem mudar essa relação
Deve haver um engano
Vocês confundiram o listão
Agora que eu ia viver
Com leite e com muito pão
Deixe de covardia rapaz
Que negócio sem graça
Se era pra me trazer
O tempo era da desgraça
Que passava fome e frio
Dormindo pelas praças
Agora que ia ter dinheiro
E minha vida melhorar
Vocês tem o que fazer não?
Resolveram me lascar?
No bom momento da vida
Decidiram me matar
Diga-me quem fez a lista
Que quero ir resolver
Onde já se viu isso
Tanto Santo a me fuder
Quem libera essas mortes?
Precisa a lista rever
O anjo todo imponente
Besta feito um político
Disse-me olhando nos olhos
- Só faço o que me aplico
Aceite logo sua morte
Relaxe pois não complico.
Olhei pra o anjo e falei:
Rapaz eu sempre fui bom
Nunca na minha vida
Consegui sair do tom
Sempre fui prestativo
Manso feito um garçom.
Nunca briguei na vida
Com medo de apanhar
Pois era muito fraquinho
Nunca sabia nem brigar
Não fiz mal a um inseto
E vocês resolvem me matar
As cabinhas bom de peia
Nesse céu a habitar
Igual a políticos do brasil
Lá na terra a roubar
Prometem tudo fazer
Mas nada sabem organizar.
Porque não o povo ruim
Que vive a tumultuar.
Faça uma lista de ladrão.
Tenha certeza vai bombar
Político e Banqueiros
Esse salão irá lotar.
Ai vocês resolvem trazer
Um cabôco como eu
Que passou a vida inteira
Só fudido nesse breu
Justamente na horinha
Que ia acabar meu liseu
Sua política de seleção
Deve tá ultrapassada
Ou vai dizer que no céu
Também tem marmelada
Não basta lá na terra
A lava jato mal lavada
O danado do tal anjo
Nem fez conta de eu
Olhou-me de supetão
Com o dedo respondeu
Vá se assentar bem ali
Você teve o que mereceu
Nunca fui de tumulto
Nem um desrespeitador
Mas quando escutei isso
O meu peito se inchou
Dei um chute na prancheta
Que o anjo se assustou
Um tamborete novinho
Que são José havia feito
Dei um chute bexiga
Quebrou-se de todo jeito
O bicho bateu na parede
Tirando da tinta o eito
Dei louco uma voadora
Na porta da reunião
A bicha se esbagaçou
Sai bolando pelo chão
Só parei porque bati
Nas pernas de São João
Ali tavam resolvendo
Pautas de calamidade
E santa Efigênia grita
Que isso? por caridade.
Ai Santo Antônio diz:
Corram santidades!
Quebrei jarros de vinho
E flechas de são Sebastião
Nos cães de São Francisco
Dei uma pisa de cinturão
Com o cavalo de são Jorge
Baguncei todo o salão
O espelho de santa Lúzia
Numa maquiagem a fazer
Quebrei em mil pedaços
Ela começou a se tremer
O Tablet de santa Rita
No Facebook a entreter
Joguei dentro dum tanque
E ela ficou pra morrer
Ai apareceu as pressas
São Paulo pra me prender
Ainda tomei o celular
De uma santa sem querer
Revirei uma mesa grande
Da bancada de São José
Serrote, alicate e prego
Danei o martelo num pé
Só escutei um grito.
Tadinho do São Tomé.
Foi cabaré bixiga
O céu ficou esbagaçado
Tinha Santo rezando
E outros desconfiado
São Pedro debaixo da mesa
Acho que tava mijado.
Perguntei quem era o autor
Dessa lista indecente
Apontaram São Silvestre
Disseram ser competente.
-Mas, mataram um coitado
Que na verdade é inocente.
São Silvestre disse: Amigo
Veja o que aconteceu
Pode ter havido erro
E o culpado não sou eu
Chegou um Software novo
Dai talvez o erro ocorreu.
Mas vamos aqui checar
Para não ter confusão
Se não era hoje seu dia
Se ajeita a situação
Não carecia essa baderna
Numa coisa dessa não.
Nisso entra meu Jesus
Procurando se interar
-O que aconteceu aqui
Alguém pode explicar?
Maria madalena chegou
E a história foi narrar
Jesus a nós todos perdoe
Pelo que aconteceu
Não temos culpa alguma
Sobre o que ocorreu
Esse jovem ta revoltado
Zangado porque morreu
Jesus olhou pra todos
Viu eu descabelado
Uns anjos brechando
Entre santos ajoelhado
Veio na minha direção
E eu fiquei emocionado
-Jesus tu és caba bom
Perdoe minha indecência
Mas ser sacaneado no céu
Deve ser por negligência
Matar um caba como eu
Deve doer na consciência.
Quatro décadas fudido
Nem hóstia se quer provei
Ainda pagava água e luz
Rezei que me machuquei
Ta qui a ferida no joelho
Das vezes que lhe implorei
Ai agora que me ajeito
As coisas a funcionar
Me vem uma dor no peito
Nem o salário vou gastar
Ai esse seus funcionário
Ainda vem me desacatar
Jesus alisou a barba
E pensou no que dizer
Realmente tá injusto
Vamos pensar o que fazer
Matar um pobre coitado
Que agora ia viver
Andou sentou andou
A lista pediu pra olhar
Foi olhando e foi dizendo
Eita tem erro pra danar
E são erros de grafia
Podemos sim concertar
É que depois do whatshap
Ninguém escreve correto
Depois que automatizei o céu
Esses erros são diretos.
Falta acento, falta letra
Mudaram o alfabeto.
Uns estagiários de santo
Tá um caso a se rever
Só vive de bate papo
Nada mais quer fazer
Só lançando um edital
Pra um concurso ter.
Falei dar o céu aos bons
A povinho pra num pensar
Eu falei por metáfora
Era pra eles a você ajudar
Com benção lá na terra
E não trazendo para cá
Desculpe-me seu Severino
Esse erro do povo daqui
Volte pra sua boa terra
Esqueça que esteve aqui
Parabéns pelo esforço
Vá na paz pode curti
As feridas de seus joelhos
Elas não foram em vão
Nem quando você um dia
Acreditou na educação
Aqui de cima lhe aplaudi
E te mandei essa benção.
Rapaz, depois de tudo
Acordei no meu setor
Parecia ter sido um dia
Mas só uma hora passou
Pensei em ter sonhado
Porém algo denunciou
Minhas mãos tavam inchadas
Do murro que dei na mesa
E o meu sapato rasgado
Pra aumentar a surpresa
Foi dos chutes que eu dei
Do agir com aspereza
Descobri que lá no céu
A coisa é truncada
É como aqui no Brasil
Só funciona na porrada
Tem muito arrumadinho
Só trabalham na mamada