SECA, SERTÃO E SAUDADE!!!

SECA, SERTÃO E SAUDADE!!!

Eu queria voltar pro meu sertão

Pra enfrentar outra vez a seca brava

Pra de novo comer preá com fava

Por a sela e montar meu alazão

Colocar minhas botas, meu gibão

Campear e viver com liberdade

Desfrutar da maior felicidade

Que na rua eu pelejo não desfruto

Se eu nasci lá no mato e sou matuto

Nunca irei ser feliz numa cidade!

Quem nasceu no sertão jamais se esquece

De uma sombra de pé de juazeiro

De um bom fruto colhido no umbuzeiro

Das seis horas da noite fazer prece

Das novenas, dos terços da quermesse

Do piar do nambu ou da perdiz

Do cantar de um campina ou de um concriz

Quando ecoa nos vales dentre a serra

Quem já foi tão feliz em sua terra

Noutra terra não sabe ser feliz!

Sertanejo é aquele que tem fé

E é romeiro fiel de "Padim Ciço"

Come o mel retirado do cortiço

Come a bola do coco catolé

Pega peixe com anzol ou jereré

Ou de caça do mato faz mistura

Mata sede com água doce e pura

Da quartinha de barro ou da cabaça

Quando a fome lhe aperta ou lhe ameaça

Se alimenta com queijo e rapadura!

Quando é grande demais as estiagens

A caatinga tostada e ressequida

Mas parece um lugar aonde a vida

Se desfez. É o que mostram tais paisagens.

Ainda guardo na mente essas imagens

Que parecem com filmes de terror

É um quadro demais desolador

Sertanejo se afoga em sua mágoa

Dos seus olhos tristonhos, vertem água.

Do seu peito transborda imensa dor.

Quando a seca terrível predomina

Provocando os efeitos do verão

Não se ouve a cantiga do carão

Acauã é quem canta a triste sina

Mas talvez essa ave de rapina

Só lamente da seca prolongada.

Ontem campos de pasto pra boiada

Hoje um palco de dores e desgraças

Onde abutres devoram as carcaças

Espalhadas nas margens da estrada.

Carlos Aires 22/10/2012